As aplicações da nanotecnologia são extensas, mas nem tudo que se pensa sobre esse ramo da ciência é verdade. O Acadêmico Fernando Galembeck, diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia, que faz parte do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNNano/CNPEM), ironizou as ideias que fazem dessa área, como a crença de que nanorobôs, num futuro próximo, irão “dominar nossos cérebros e nos escravizar”. Ele falou sobre os desdobramentos (reais) desse campo de estudo durante a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Rio Branco, no Acre.

Fernando Galembeck fala sobre nanotecnologia em sala lotada na Ufac

O fato é que as capacidades da nanotecnologia ainda não são bem aproveitadas, segundo Galembeck, ressaltando que um nanômetro corresponde a um milionésimo de milímetro e que produtos nanotecnológicos podem ter várias utilidades. “Exemplos de materiais nanotecnológicos podem ser mais banais do que imaginamos.”
Galembeck citou o esmalte de dentes de mamíferos, entre eles os seres humanos, que é o tecido mais resistente do corpo. “É um material que pode ser usado por 70 anos, muitas vezes sendo exposto a situações adversas.” Outro caso é o dos ossos, que aguentam a estrutura corpórea por toda a vida, quase sempre sem quebrar e, mesmo nesses casos, eles se regeneram sozinhos. “Pensamos muito nas propriedades do ferro, cobre, silício, mas não nessas.”
Exemplos de projetos
Galembeck citou vários exemplos de projetos que aplicam a nanotecnologia para solucionar problemas, modernizar processos, entre outras utilidades. Eles vêm sendo desenvolvidos pelo LNNano, boa parte em parceria com empresas.
Um desses projetos desenvolve, junto ao Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes/Petrobras), uma tecnologia de sistema microeletromecânico para sensores distribuídos de poços. Essa inovação propicia o monitoramento da pressão na linha de produção de óleo, no fundo do mar, em tempo real.
“Não é fácil colocar um medidor lá embaixo e mandar o sinal de volta, são 8 km. Então tem que haver um sensor que seja autônomo, que produza a própria energia para poder operar”, explicou Galembeck. O sensor transmite o sinal para a superfície, informando a situação no fundo do poço.
Outro projeto é o de soldagem por atrito com pino não consumível para produção de dutos. É feito em parceria com a empresa, Tenaris Confab, e tem como impacto a melhoria da produção de dutos de aços para a indústria de petróleo. Há, ainda, o desenvolvimento de sensores para detecção de monoetilenoglicol (MEG), um tipo de álcool que pode ser prejudicial. Também feito junto ao Cenpes/Petrobras, esse projeto visa ao monitoramento de MEG nos campos de metano.
O LNNano também vem desenvolvendo processos de metalização sobre fibras ópticas para as telecomunicações, junto à companhia Já! Tecnologia. O trabalho visa à melhoria nos parâmetros especificados pelos clientes e a padronização de processos. O laboratório produz, ainda, sensores para a detecção de chumbo em água, em parceria com a empresa Moura. O impacto é a redução da contaminação por chumbo em águas de descarte de produção.
Laboratórios diversificados
E, em relação à medição da qualidade dos recursos hídricos, Galembeck informou que um artifício que vem sendo usado para tal é o da microscopia eletrônica. Medir a qualidade da água de forma rápida para uso humano é uma demanda de governo, que considera necessidades de populações de áreas remotas. Por isso, o LNNano conta com um laboratório equipado com sete microscópios eletrônicos para caracterização de materiais, que atendem a todos os pesquisadores do país que precisam utilizá-los.
Outro laboratório que integra o LNNano é o de microfabricação, processo relacionado à miniaturização. Segundo Galembeck, a importância de reduzir tamanhos pode ser percebida por um exemplo atual: os drones, pequenos aviões não tripulados. “Eles têm aspectos bons e ruins. Podem ser usados para filmar o que se passa por trás do muro do meu vizinho e até para matar gente. Mas também servem para detectar precocemente pragas agrícolas, contaminação de rios, mares, para monitorar descartes indevidos em efluentes.”
Galembeck falou, ainda, sobre o laboratório de materiais nanoestruturados, que trabalha, principalmente, com materiais derivados de biomassa. Hoje, a disponibilidade desse tipo de resíduo no Brasil é de um bilhão de toneladas por ano. Um exemplo de produto feito com materiais nano-estruturados derivados da biomassa é o papel de bagaço de cana, uma novidade frente ao papel tradicionalmente produzido com fibras de eucalipto.
O Acadêmico citou, ainda, uma pesquisa de cientistas da Universidade de Alberta, no Canadá, que utilizaram nanofolhas de carbono interligadas, derivadas da cannabis (planta que origina a maconha), para supercapacitores ultrarrápidos com alta densidade de energia. “A sua capacidade de armazenagem de energia elétrica é muito alta.”