O 2º Encontro Regional de Membros Afiliados da ABC/Regional Sul foi realizado no dia 29 de abril, no auditório do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da UFRGS, com apoio do Departamento de Genética e do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular.
A abertura foi feita pela Comissão Organizadora, composta pelos membros afiliados Patrícia Schuck e Guilherme Baldo (na foto).
A palestra inaugural – “Ciência no Brasil e no mundo: como alcançar a excelência?” – foi proferida pelo vice-presidente da ABC Regional Sul, o geneticista Francisco Salzano (UFRGS).
Salzano destacou alguns desafios a serem enfrentados para que a ciência brasileira alcance um nível internacional de excelência. Dentre eles, destacou a cooperação internacional, a necessidade de ampliação do número de doutores e o nivelamento das diferenças regionais, especialmente naquelas regiões em desenvolvimento. Em sua visão, a desigualdade regional no Brasil é um aspecto muito importante a ser tratado em nível geral, mas considera que todas as regiões têm as suas dificuldades próprias e devem dar atenção, prioritariamente, a elas.
Em sua área de pesquisa, identificou a falta de desenvolvimento da indústria especializada como o maior gargalo para a inovação. “Essa situação nos torna dependentes da importação de materiais e equipamentos para pesquisa. E a burocracia torna o processo lento, o que dificulta todo o desenvolvimento científico.” Salzano reconhece que tem havido algumas iniciativas de melhoria nesse sentido, como o Importa Fácil. “Mas ainda não é fácil, o problema ainda não está resolvido. Não é um problema científico, é um problema político.”
O Acadêmico ressaltou que a política de aquisição de “caixas pretas” tecnológicas no exterior deve ser abandonado. “O governo atual tomou uma atitude grandemente recomendável: investir em fontes brasileiras – especialmente cérebros -para romper o círculo vicioso do subdesenvolvimento”, apontou Salzano. “Esperemos que não haja mudanças nessa perspectiva. No Brasil, o preço de fazer ciência é a eterna vigilância, no sentido de garantir a continuidade dos investimentos”, concluiu Salzano.
A importância da afiliação à ABC na carreira do jovem pesquisador
A mesa-redonda intitulada “O impacto de ser membro afiliado da ABC na vida profissional”, contou com ricos depoimentos. A médica geneticista do Hospital das Clínicas da UFRGS Ida Schwartz, que foi membro afiliado da ABC entre 2009 e 2013, relatou que nesse período de cinco anos teve excelentes oportunidades de contato presencial com jovens e renomados pesquisadores. Com os cientistas seniores também interagiu bastante, tendo sido convidada como palestrante para a conferência Avanços e Perspectivas da Ciência 2012.
Sua produção bibliográfica vem aumentando e teve um pico exatamente em 2008, ano em que foi eleita para a ABC. Em 2009, no entanto, com o nascimento da filha, houve uma queda em sua produtividade acadêmica, em função da privação de viagens para participar de congressos e eventos, explicou Ida. “No Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq fica clara a diferença numérica de líderes entre gêneros exatamente na fase reprodutiva da mulher”, observou a pesquisadora.
Quando tomou posse na ABC, sua linha de pesquisa principal era relacionada a do Acadêmico Roberto Giugliani, estudando as mucopolissacaridoses. “Dois anos depois, criei meu próprio grupo de pesquisa para estudar outras doenças, como as glicogenoses”, apontou Ida Schwartz. Outra maneira de avaliar sua evolução é o aumento do seu fator de impacto, que tem crescido graças à produção do seu próprio grupo de pesquisa. “Acho que esse ponto deve passar a ser considerado nas avaliações das agências de fomento”, ressaltou.
Nervos de aço, persistência e talento
Essas são as principais características, na opinião de Tábita Hünemeier, geneticista da UFRGS, para que a carreira de um cientista dê certo. Ela avalia estar ainda desenvolvendo os tais “nervos de aço”, mas o reconhecimento pelos pares através do ingresso na ABC lhe sugere que está no caminho certo. Tábita conta que até então havia participado da Reunião Magna da ABC 2013 e do 2º Encontro Nacional de Afiliados, realizado no mesmo ano, em Petrópolis. “Foi a primeira vez que vi apresentações de dados sobre o programa Ciência sem Fronteiras, sobre os orçamentos da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e vi como isso tem impacto na ciência nacional”, destacou a pesquisadora.
Além disso, Tábita diz que aprendeu muitas coisas – por exemplo, que a Embrapa e a Petrobras também investem em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). “Tive também contato com jovens cientistas do Chile e do México, que fizeram apresentações superinteressantes”, contou a Acadêmica. Ela acrescenta que foi nos eventos da ABC que ouviu a respeito da existência de um código de ciência e tecnologia sendo votado no Congresso, assim como viu a ABC se manifestando contra a proposta de redução da exigência de doutorado para ser professor universitário. E gostou de saber que a Academia está atenta a questões como essa, da meritocracia.
Tábita Hünemeier surpreendeu-se, enfim, com o intenso papel político que a Academia Brasileira de Ciências assume. “Não temos um sindicato de cientistas, mas vi que todos os questionamentos que fazemos na universidade também são os questionamentos dos lideres da comunidade cientifica representada pela ABC e que nossas vozes são ouvidas através da Academia.” Ou seja, reconheceu que a ABC tem um papel fundamental no desenvolvimento da ciência brasileira.
Saiba mais sobre Tábita Hünemeier em matéria da ABC.
Um choque positivo
Recém-diplomado, o farmacêutico-bioquímico Emilio Streck é professor do programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). e falou sobre suas impressões e expectativas. “Fiquei feliz demais por ter sido indicado e por ter sido eleito. É o maior
reconhecimento dos pares que já tive na minha carreira cientifica”. Ele ressalta a importância disso para professores e pesquisadores, carreiras “sofridas” especialmente pela falta de reconhecimento. “Esse é um grande incentivo. É uma enorme oportunidade que temos para crescer profissionalmente”, diz Streck. Sua expectativa é de estabelecer uma nova rede de colaborações e de relacionamentos.
Durante seu período como membro afiliado da ABC – de 2014 a 2018 – Streck pretende colaborar com a divulgação do papel da ciência no desenvolvimento de um país e de uma sociedade. “Acho que essa é uma responsabilidade da comunidade cientifica com a sociedade. Eu faço pesquisa básica com dinheiro público e acho que a gente deve dar um retorno pra população do uso desses recursos.”
Até agora, o que mais marcou Streck foi a questão da interdisciplinaridade, já que no simpósio científico que ocorre junto com a cerimônia de diplomação dos novos membros todos eles apresentam suas linhas de pesquisa, o que significa que são feitas até cinco apresentações de áreas diversas. “Fui arremessado da minha zona de conforto ao assistir as palestras de jovens pesquisadores de excelência das outras áreas. Foi um choque positivo, muito estimulante, mexe com a gente.” Streck observa que os cientistas hoje ficam muito focados nas suas linhas de pesquisa, que são cada vez mais especificas, e que na ABC os membros têm a oportunidade de enxergar a ciência como um todo e interagir com outras áreas. “Sempre que nos acomodamos, perdemos. Quando saímos da zona de conforto, crescemos. O mundo é bem maior do que o nosso mundo.”
Saiba mais sobre Emílio Streck nas Notícias da ABC.
Não basta ser eleito
Chefe do Centro de Terapia Gênica e da Unidade de Análises Moleculares e de Proteínas do Centro de Pesquisa Experimental do Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Ursula Matte foi membro afiliado da ABC entre 2009 e 2013, período em que foi bastante atuante. Ela observou, no entanto, que entre os membros afiliados há uma crise de responsabilidade com relação à participação nos eventos da Academia. “Todos nós somos ocupados, temos cargos de chefia nas nossas universidades. Mas estamos tendo uma oportunidade de discutir a política de ciência, tecnologia e inovação do país, que afeta diretamente o nosso cotidiano. Temos a chance de discutir com os gestores das agências de fomento, com os formuladores de políticas públicas. Então devemos aproveitar ao máximo.” Ou seja, para fazer jus ao privilégio de ser membro da Academia Brasileira de Ciências, não basta ser eleito: tem que participar.
Saiba mais sobre Ursula Matte na Revista Jovem Academia 2009-2013.
Leia sobre as outras palestras realizadas durante o 2º Encontro de Membros Afiliados da Região Sul:
Palestrante convidado em evento de membros afiliados da ABC, o editor dos AABC Alexander Kellner abordou temas delicados relativos à integridade científica, mostrando como os limites entre o certo e o errado são muitas vezes tênues e difusos.
Convidada como palestrante do 2º Encontro Regional de Membros Afiliados da ABC/Sul, a diretora-presidente da Fapergs, Nádya Pesce da Silveira, falou sobre os avanços obtidos à frente da Fundação e os desafios que ainda se apresentam.

Estudar neurociência, estar aberto a mudanças, interagir verdadeiramente com o aluno e saber o seu lugar no processo de ensino e aprendizagem são recomendações “ansiolíticas” feitas pelo Acadêmico Diogo Souza, em evento da ABC na UFRGS.