O professor Carlos José Pereira de Lucena, do Departamento de Informática do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio), tornou-se o primeiro e único brasileiro a receber o título de Fellow da Association for Computing Machinery (ACM) em cerimônia realizada em San Francisco (EUA), no último dia 21 de junho. Os Fellows, categoria de maior prestígio da ACM, correspondem a 1% dos participantes da maior e mais importante sociedade científica e educativa em computação do mundo. A escolha de Lucena para esse grupo foi em decorrência de suas contribuições acadêmicas em engenharia de software e sistemas multiagentes, uma das áreas mais recentes de estudo no mundo e que está diretamente ligada aos desafios da inteligência artificial e da internet das coisas.
“Para a PUC-Rio, ter um membro desta categoria promove ainda mais o programa de Pós-graduação do Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio, que é nota máxima (7) na CAPES desde 2001”, comentou Lucena, que faz parte da ACM há 40 anos, com larga contribuição e reconhecimento mundial. Nos anos 90, ele integrou o Software Awards Comittee, responsável pela escolha anual do melhor software do mundo; há seis anos faz parte do corpo editorial da revista da associação, a Communications of the ACM, uma das mais importantes da área, e, em 2009, foi promovido a Distinguished Member.
Desde 1993, a ACM confere o título de Fellow àqueles que, durante a sua carreira profissional, realizam pesquisas ou aplicações notáveis na área de computação e tecnologia da informação, sendo reconhecidos como os pesquisadores mais prestigiados da associação. Segundo Lucena, sua indicação está fortemente ligada à sua carreira acadêmica.
O brasileiro formou-se em Economia Matemática pela PUC-Rio em 1965. “Entrei como aluno em 1962. Imediatamente me tornei estagiário no Centro de Computação, que tinha começado em 1960, onde fiquei até 1965. Eu estava no lugar certo na hora certa”, conta ele. Em 1969, terminou o Mestrado no Department of Computer Science & Applied Analysis pela University of Waterloo. Em 1974, concluiu o Doutorado em School Of Engineering And Applied Sciences pela University of California (Los Angeles), e, um ano depois, já tinha um pós-doutorado pela IBM Research.
Lucena publicou mais de 450 trabalhos arbitrados nos principais veículos de sua área, além de ser bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq no nível 1A (o mais elevado). O professor também é Fellow da Fundação Guggenheim e da TWAS (Academy of Sciences for the Developing World), membro titular da Academia Brasileira de Ciências e, desde 2010, presidente do Instituto Nacional de Ciências da Web (INCT). Tendo formado 44 doutores e 110 mestres em seus 41 anos como professor do Departamento de Informática do CTC/PUC-Rio, Lucena reconhece que seu currículo acadêmico pode ter sido preponderante para o novo título: “Formei pesquisadores que estão espalhados pelo mundo, nas melhores universidades e empresas da área de tecnologia. No Brasil, são raras as universidades que não tenham um doutor meu”.
Outros 49 profissionais e acadêmicos receberam o título de Fellow junto com Lucena. Profissionais da Boeing, Yahoo, Google, Microsoft Research e acadêmicos de Harvard, MIT, Stanford, University College of London e ETH Zurich, por exemplo, estão entre os premiados este ano. Atualmente, apenas mil dos cem mil membros da ACM, espalhados por mais de cem países, detêm este título em seus currículos. “Por sorte, eu tenho uma trajetória importante na comunidade. Para tornar-se Fellow da ACM, um membro o indica e outras cinco a oito pessoas apoiam a indicação”, detalha Lucena, que reforça ainda que desconhece quem se mobilizou por ele.
Aos 70 anos de idade, Lucena não pretende parar tão cedo: atualmente orienta cinco alunos de doutorado, outros cinco de Mestrado e está à frente do Laboratório de Engenharia de Software (LES) da PUC-Rio, criado por ele há 16 anos. “Eu vivo cercado de jovens, são 120 no meu laboratório. Meu maior prazer é estar junto com os alunos e trabalhando com eles”, ressalta ele. O professor desenvolve pesquisas na área de engenharia de software e sistemas multiagentes e destaca que forças armadas, medicina, biologia, geologia e muitas outras áreas têm um potencial enorme para estudos referentes à internet das coisas. “Sistemas multiagentes ainda são muito novos, é uma inteligência artificial distribuída. Em um futuro muito próximo, a medicina, por exemplo, viverá uma grande revolução”, diz ele.