
Em uma das perguntas levantadas pela revista, ele fala sobre os desafios de fazer pesquisa no Brasil, desde que voltou de seu pós-doutorado na Universidade Yale, concluído em 2006. Um deles é aquele que muitos pesquisadores da área biomédica no Brasil apontam como o maior entrave ao desenvolvimento de suas pesquisas: a dificuldade burocrática, a demora e o alto custo para a importação de reagentes.
“Quando terminei meu pós-doc nos EUA, decidi não procurar empregos nos EUA e retornar ao Brasil para tentar fazer uma diferença aqui. No Brasil, encontrei vários desafios para fazer ciência de alto nível. Por exemplo, ainda é muito difícil importar reagentes para pesquisa. O sistema de financiamento no Brasil também é desafiador, porque muitas agências de fomento valorizam o número de trabalhos publicados por um cientista, em vez de favorecer a qualidade da ciência que é produzida. Além disso, a ordem de autoria nos trabalhos publicados muitas vezes não é valorizada. Eu e alguns colegas estamos lutando para corrigir esses problemas no sistema brasileiro. Estou muito otimista quanto ao futuro, e tenho certeza de que quando terminar minha jornada, terei deixado um sistema muito melhor para a próxima geração de cientistas brasileiros”, escreveu Zamboni à Cell (tradução minha).
Recentemente, troquei alguns emails com ele sobre o problema da burocracia no Brasil, e ele me enviou um relato de uma apresentação que fez para um congresso – e que, segundo ele, “alegrou muita gente (principalmente os jovens), mas incomodou muita gente também”. Dizia isso: “Existem dois tipos de pesquisa: A que chamamos de fenomenológica, que reporta os fenômenos, e a que chamamos de mecanística, que explica os fenômenos.
Ambas são muito importantes, a primeira etapa é a descrição dos fenômenos (fenomenológica) e a segunda é a que explica os fenômenos (mecanística). Quando fazemos pesquisa, o ideal é publicarmos um artigo científico contendo as duas partes no mesmo artigo (fica mais completo e dá mais impacto e visibilidade à pesquisa realizada). No entanto, as dificuldades relacionadas à importação fazem com que muitos pesquisadores abandonem a segunda parte (que geralmente dá mais trabalho e precisa de mais reagentes novos e não previstos inicialmente; ou seja, precisa de importação, etc.) e publiquem somente artigos fenomenológicos. Consequentemente a pesquisa fica com menor impacto e os pesquisadores não contribuem de maneira eficiente para o desenvolvimento daquela área de pesquisa. Esse é um dos motivos pelos quais a importação deveria ser facilitada. Vai fazer com que a comunidade científica brasileira possa competir e publicar artigos de melhor qualidade.”
Será que as autoridades um dia darão ouvido ao jovem pesquisador? Fica a dica.