O interesse do físico Daniel Lorscheitter Baptista pela ciência vem da infância e da família. Seus pais são biólogos, professores titulares do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Eles o levavam em seus trabalhos de campo e laboratórios e mostravam plantas, insetos e animais. Assim, o contato com o meio já era frequente e chamava bastante sua atenção.
Quando criança, Baptista se interessava principalmente pelos experimentos científicos. “Queria entender a origem da vida através das reações químicas, compreender como poderia surgir um organismo a partir de um conjunto de moléculas”, relembra. “Já nas aulas de física, buscava decifrar o fundamento de todas as coisas, da matéria em si, da existência do nosso mundo. Aproveitava as aulas de filosofia do colégio para questionar.”
Fascinado pelos kits de química, o jovem nunca seguia exatamente as receitas das reações – gostava de testar misturas, o que, para ele, era uma diversão. No final do ensino médio, as questões relacionadas à existência da matéria e à formação do universo o levaram a uma inquietude e à vontade de entender os fenômenos físicos de forma mais profunda. “Querer buscar explicações mais fundamentais foi o que me conduziu inevitavelmente para as ciências físicas.”

Na UFRGS, o legado familiar
Nascido em Porto Alegre, foi na mesma universidade de seus pais que Baptista fez a graduação, o mestrado (que, em um ano, transformou-se em doutorado) e um pós-doutorado em física. É também na UFRGS que ele atualmente é professor adjunto do Instituto de Física e vice-diretor do Centro de Microscopia Eletrônica. O irmão, dois anos mais velho, fez filosofia e depois se formou em medicina, também pela UFRGS.
No segundo ano da graduação, Baptista ganhou uma bolsa do CNPq e começou a iniciação científica com o Acadêmico Fernando Cláudio Zawislak, no Laboratório de Implantação Iônica. Ele trabalhava em um acelerador de íons, modificando moléculas de fulereno através de colisões atômicas. “Era fascinante poder controlar um feixe acelerado de átomos e ainda provocar colisões”, conta. “Usávamos o feixe também para descobrir a composição atômica de diversos materiais, através de experimentos de retroespalhamento Rutherford. Era como trabalhar com o invisível, sabendo que cada ponto que aparecia no computador era um único átomo que acabara de sofrer uma colisão.”
O gaúcho afirma que sua graduação foi bastante recompensadora e o levou a aprender muito dos fundamentos que tanto queria entender. “Minha visão de mundo se expandiu e eu podia olhar os fenômenos e a natureza de forma mais ampla e profunda.” O entendimento sobre o processo científico também foi crucial: como fazer ciência e o que todas as teorias significavam.
Na pós-graduação, ele continuou as pesquisas na física experimental. No doutorado, Baptista teve contato com diversas técnicas experimentais relacionadas à análise de materiais, técnicas espectroscópicas, nucleares e de microscopia. “Meu orientador e também coordenador do laboratório, o professor Fernando Zawislak, foi um grande incentivador e amigo, sempre com ideias inovadoras e uma postura profissional exemplar.” Zawislak é um físico com uma história bastante consolidada, mas sempre com o olhar no futuro, buscando novos desafios, diz Baptista. “Essa liberdade de pensamento que ele proporcionava ajudou fortemente na minha formação como profissional, possibilitando ir adiante, conduzindo às minhas próprias linhas de pesquisa.”
Nanomateriais como possíveis detectores de doenças
Ao fim do doutorado, o cientista seguiu um novo rumo, na área de síntese, processos e caracterização de nanomateriais. Ele fez um pós-doutorado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, onde teve contato com pesquisadores de todo o mundo.
É nessa área que Baptista trabalha atualmente – síntese, caracterização e manipulação de nanomateriais, nanofios semicondutores, nanopartículas e grafeno. “O objetivo é sintetizar nanomateriais com propriedades diferenciadas e aplicá-los na fabricação de diversos dispositivos, tais como sensores de moléculas ou dispositivos lógicos.” No caso dos sensores, é possível obter nanodispositivos com alta sensitividade, podendo detectar a presença de até uma única molécula. Esse tipo de dispositivo poderia ser utilizado no futuro para o diagnóstico de doenças em estágio inicial, por exemplo, e na detecção de gases tóxicos em pequenas quantidades.
Compreender – e controlar – fenômenos
Baptista acredita que a ciência nos conduz ao entendimento da natureza de uma forma representativa. “Podemos traduzir a realidade através de uma linguagem, mesmo sabendo que a realidade em si possa ser mais abstrata”, descreve o pesquisador. “Através da ciência, podemos não só compreender fenômenos, mas controlá-los. Nosso arquétipo nos leva a explorar, buscar novas questões e atribuir significados, pois somos curiosos. A ciência é o meio ideal para tal busca.”
Como todo cientista, ele é um observador e, por isso, gosta muito de viajar e explorar novos ambientes e culturas. Também tem por hábito fotografar, e se descreve um “observador da dinâmica das coisas”. “Além disso, gosto de velejar, que é um esporte de observação.”
Para o novo membro afiliado da ABC, eleito para o período 2014-2018, o significado deste título está no reconhecimento de um trabalho contínuo e conjunto, feito em rede: “Ele representa toda essa soma de forças”.