
Streck diz que sua curiosidade foi fundamental para a entrada no mundo científico e, independentemente do curso superior escolhido, fosse física ou história, acabaria sendo pesquisador. Sem dúvida, o exemplo familiar contribuiu para isso: “Meus pais são formados em teologia. Quando eu era criança, lembro do meu pai cursando o mestrado e sendo professor. Anos mais tarde, minha mãe fez o doutorado e hoje também é professora. Ou seja, estou numa família de professores e pesquisadores, que são os que mais me incentivam”.
Filho único, Streck estava sempre com os joelhos ralados de tanto jogar futebol com os amigos e o pai, com quem ia aos jogos do Internacional. Com sua mãe, ele brincava em casa e fazia as tarefas do colégio. Também gostava muito de andar de bicicleta e era muito próximo dos primos, que considera irmãos.
O início da trajetória
No terceiro semestre da graduação, o futuro pesquisador começou a iniciação científica no Departamento de Bioquímica, área pela qual acabou se interessando bastante. Entrou no grupo de pesquisa sobre erros inatos do metabolismo, e foi orientado pela professora Angela Wyse, que também foi sua orientadora no doutorado.
Streck destaca alguns professores, além de Wyse, que tiveram importância na sua formação, como a sua orientadora no trabalho de conclusão de curso, Teresa Dalla-Costa, além de outros três do seu grupo de estudo: Carlos Dutra Filho, Clóvis Wannmacher e o Acadêmico Moacir Wajner. “Outro professor que me ajudou muito durante o doutorado foi o João Sarkis, que infelizmente faleceu há alguns anos.”
Eleito membro afiliado da ABC para o período 2014-2018, o jovem cientista não fez mestrado – após a habilitação em análises clínicas, ele foi direto para o doutorado em bioquímica, ambos cursados na UFRGS. Atualmente, Streck é professor titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e docente permanente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde.
Combatendo o inimigo: erros inatos do metabolismo
Os erros inatos do metabolismo são um grupo de doenças genéticas raras que, como têm um diagnóstico difícil, acabam sendo subdiagnosticadas. “Ou seja, não conseguimos detectar e identificar todos os indivíduos com essas doenças”, explica o pesquisador. Grande parte desses erros inatos é diagnosticada pelo teste do pezinho. “De uma forma geral, essas doenças provocam problemas no cérebro, principalmente por atrapalhar o seu desenvolvimento. Se não tratadas adequadamente, a chance de óbito e/ou sequelas graves é muito grande.”
Existem muitos erros inatos do metabolismo, mas, atualmente, Streck trabalha com dois tipos: Doença do Xarope do Bordo e Tirosinemia. “São doenças do metabolismo de aminoácidos, e geralmente começam a apresentar sinais e sintomas dias após o início da amamentação. O dano neurológico e problemas no desenvolvimento do cérebro são eventos comuns nessas doenças.”
Seu estudo foca em compreender como as doenças ocorrem, ou seja, de qual maneira os danos acontecem. Ao se saber o mecanismo de uma doença, pode-se pensar em estratégias para enfrentá-la. “Para combater o inimigo, precisamos conhecê-lo. Dessa forma, tento desvendar essas doenças com o objetivo de propor alternativas terapêuticas para as mesmas.”
A ciência no DNA
É justamente essa parte – o descobrimento – que Streck considera a mais encantadora da ciência. “É trazer aos nossos olhos um conhecimento novo. Se ele puder ajudar a vida das pessoas, nem que seja de uma somente, já vale o esforço.” O tempo livre que tem, ele dedica à família – casado com uma cientista, tem uma filha de seis anos e um filho recém-nascido – e a uma de suas maiores paixões, o futebol.
Revisor de mais de 40 periódicos científicos, o gaúcho considera uma honra pertencer ao seleto grupo de jovens cientistas da ABC. “Representa o maior reconhecimento que já tive na minha vida. Motiva-me a trabalhar ainda mais pela ciência e pelas pessoas que pretendemos ajudar com os nossos trabalhos.”
Ele afirma que vai contribuir com a Academia participando dos eventos, interagindo com as pessoas e trabalhando por melhores condições para a ciência, tecnologia e inovação brasileiras. “A ciência está gravada no meu DNA.”