Desde cedo, o membro afiliado da ABC Brenno Amaro da Silveira Neto, eleito para o período 2014-2018, mostrava aptidão para a ciência. A disciplina o atraía já na época do colégio, quando um simples experimento com nitrogênio líquido no Laboratório de Química o deixou fascinado. O interesse que tinha em entender melhor a natureza e seus fenômenos era grande, mas o pesquisador gaúcho sempre fez questão de ver também o lado humano das ciências exatas. Por isso, seguiu um caminho inusitado: além de investir na carreira de química, também graduou-se em teologia.
Questionamento existencial envolvendo mais que a matéria
“Ser uma pessoa sempre voltada para a área das ciências exatas me trouxe uma grande preocupação alguns anos atrás. Faltava entender um pouco mais sobre a humanidade e o ser humano”, explica a escolha. Assim, enquanto fazia o doutorado em química na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde já tinha completado a graduação e o mestrado, Silveira também investia no bacharelado pelo Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul.
“A escolha foi devido à influência familiar e por entender que a teologia me traria uma compreensão diferenciada sobre a humanidade, bem como sobre o ser humano em geral”, conta. “Por mais estranho que pareça para muitas pessoas, acredito que foi uma escolha acertada. O conhecimento adquirido me trouxe muito equilíbrio emocional e uma visão diferente da convencional que os cientistas de áreas exatas em geral têm. Comecei a perceber melhor os tons de cinza que a vida nos apresenta.”
O ambiente familiar contribuiu para que Silveira visse o “lado humano” da ciência. Com três irmãs mais velhas, ele revela que teve uma infância tranquila e feliz e, por terem se aposentado cedo, seus pais puderam se dedicar aos filhos. Seus passatempos eram brincar de pique-esconde, andar de bicicleta e construir carrinhos de lomba, usando cabos de vassoura como eixos.
Na escola, a química, bem como a física, eram as matérias que mais despertavam o interesse do jovem cientista, hoje professor adjunto do Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ-UnB). “O que pesou para a química foi o caráter artístico e filosófico que sempre estão associados a esta ciência, hoje reconhecida como a ciência central”.
Maturidade alcançada na pós-graduação
No segundo semestre da faculdade, cursada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Silveira começou a fazer iniciação científica, e a pesquisa foi se tornando uma paixão crescente. Mas, por imaturidade, a graduação não foi fácil. Ele comenta que tinha o hábito de faltar muitas aulas, do qual hoje se arrepende. “Tive 13 reprovações por falta. Mas, mesmo assim, consegui me formar em cinco anos.”
Na pós-graduação, também cursada na UFRGS, ele compensou a falta de maturidade anterior se tornando “o aluno ideal para qualquer orientador”, e teve todas as disciplinas creditadas com conceito máximo. Por interesse pessoal, fez matérias além das que o currículo exigia. Trabalhava com afinco e dedicação nos projetos do laboratório todos os dias da semana. “E ainda me divertia muito, pois não abri mão de uma vida social saudável”, relembra Silveira.
Ele conta que, nessa jornada, duas pessoas marcaram sua vida: uma delas foi seu orientador de mestrado, o professor Dennis Russowsky, que o ensinou a trabalhar metodologicamente. A outra foi o Acadêmico Jairton Dupont, seu orientador de doutorado. “O professor Jairton foi quem mais influenciou e influencia minha carreira”, afirma. “Com ele aprendi que a ciência é apenas um passatempo. O importante é a vida. O problema é que a ciência é um passatempo permanente! A paixão, competência e visão científica que ele compartilha com seus discentes são inspiradoras. É um grande amigo até hoje.”
Busca por novas moléculas com atividade biológica em prol do ser humano
No momento, seu grupo de pesquisa desenvolve metodologias químicas para obtenção de novas substâncias que possam ter seu potencial contra doenças graves testado, além de compostos capazes de permitir estes estudos em nível celular. É um trabalho extremamente aplicado e com visão tecnológica. “Desta forma, conseguimos percorrer o caminho desde a concepção de uma nova substância até a compreensão de sua forma de ação benéfica. Atualmente temos inúmeras substâncias desenvolvidas em nosso grupo de pesquisa que se encontram em fase pré-clínica para o combate do câncer de mama.”
E seu trabalho vem sendo reconhecido: em 2008 ganhou o Prêmio Inventor Petrobras e em 2013 o BMOS/RSC Young Investigator Award. Especificamente na sua área, Silveira considera atraente a oportunidade de realizar pesquisas aplicadas e de relevância na fronteira do conhecimento. “Associado a isto tem o lado humano que é muito gratificante, como por exemplo, ver um aluno iniciando os seus trabalhos ainda bem jovem e, ao concluí-lo, ser uma nova pessoa completamente transformada e amadurecida.” E foi exatamente assim que aconteceu com o pesquisador, apaixonado pela sua “ciência artística”. “Sou muito feliz com a química fazendo parte de minha vida.”
No tempo livre que tem, Silveira gosta de estar junto da família e estudar partituras – ele toca violão, guitarra e baixo. O cientista, que também sempre teve facilidade com as palavras e se destacava nas redações do colégio, gosta, ainda, de escrever poesias. Mas, apesar de tender a ser mais reflexivo, ele também considera a novidade e o desafio da ciência encantadores: “A cada dia há novas descobertas, novos desafios e novas fronteiras para transpor”.