Organizado pela ABC em parceria com a Academia Nacional de Medicina (ANM), o simpósio “Produção de Vacinas no Brasil: Problemas, Perspectivas e Desafios Estratégicos” uniu importantes agentes da área de vacinologia: pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan, além de representantes do Ministério da Saúde e especialistas de grandes universidades brasileiras, participaram das discussões em dezembro do ano passado.
Durante painel de conclusões coordenado pelos Acadêmicos Jorge Kalil, Marcello Barcinski e Ricardo Gazzinelli (na foto abaixo), a cooperação entre a Fiocruz e o Instituto Butantan foi um dos tópicos levantados – e elogiados – pelos pesquisadores presentes. Destinada à promoção de saúde e desenvolvimento social, bem como à difusão do conhecimento científico e tecnológico, a Fiocruz se vincula ao Ministério da Saúde para fortalecer e consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. O Instituto Butantan, por sua vez, é vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e responde por 51% das vacinas e 56% dos soros para uso profilático e curativo do país. Suas pesquisas se relacionam aos campos da biologia, biomedicina, farmacologia e biotecnologia. Para Kalil, diretor do Instituto, e Gazzinelli, pesquisador da Fiocruz, o passo seguinte ao término do encontro é a elaboração de um documento que prospecte a atual situação do Brasil na área de vacinas, identificando seus desafios e oportunidades.
Jorge Kalil, Marcello Barcinski e Ricardo Gazzinelli
“Os debates do simpósio abrangeram desde a pesquisa básica até programas nacionais de saúde pública e imunização, normas regulatórias e problemas de produção”, resumiu Barcinski, professor titular da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fiocruz. “Colocamos, em uma mesma discussão, pessoas com diferentes visões e formações; foram dois dias extremamente produtivos”, avaliou.
Voltando à necessidade de prospectar os gargalos nacionais nas pesquisas sobre vacinas, o membro titular da ABC Antônio Carlos Campos de Carvalho, que atualmente trabalha no Ministério da Saúde, lembrou que a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) também iniciou trabalhos nessa direção. “Já foi feito um estudo sobre petróleo e gás e o próximo setor a ser abarcado é a saúde.” O intuito, explicou, é realizar uma prospecção do que será importante na área em médio e longo prazo. “Então, de alguma maneira, há setores do governo que estão analisando as oportunidades do Brasil em um horizonte de até 20 anos.”
Mesmo assim, sugeriu que a ABC e a ANM, sob coordenação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), elaborassem um documento cujos focos fossem os gargalos, oportunidades e nichos de mercado brasileiros na área de vacinas. De acordo com ele, essas duas organizações são poucos aproveitadas e a análise em questão deveria abarcar não só aspectos científicos e técnicos, mas também mercadológicos, do interesse dos produtores públicos e privados. Em sua visão, esse tipo de integração ainda é raro no país. “Não temos um mecanismo adequado de coordenar e fomentar nossas redes. Dar dinheiro individualmente a cada pesquisador faz com que a rede vire nuvem”, explicou. Nesse contexto, Campos de Carvalho vê nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) uma tentativa interessante, mas que sofre com uma “pulverização excessiva de recursos”.
Carvalho elogiou os avanços nacionais na área. “O que se consegue fazer no Brasil em termos de vacinação pode ser considerado um sucesso”, afirmou. Mas o elogio foi seguido de um alerta: “Então, se a ciência não conseguir produzir tecnologia para ampliar o acesso a medicamentos de saúde, é porque nós falhamos. Utilizando algumas vantagens do país, como os animais biorreatores, é possível baratear – e muito – a produção.”