Eleito membro afiliado da ABC para o período 2013-2017, o físico Eduardo Bedê Barros considera a capacidade de raciocínio lógico e uma boa dose de criatividade como características fundamentais a um cientista. A ciência, em sua visão, é encantadora. Isso porque os indivíduos envolvidos com ela estão constantemente desafiando as fronteiras do conhecimento e aprofundando-se cada vez mais nos mistérios do universo.
Barros se diz muito motivado pela possibilidade de que os avanços obtidos no laboratório se transformem, em alguns anos, em melhorias efetivas na vida das pessoas. Em sua área, a nanociência, isso acontece de maneira bastante notória, visto que as soluções tecnológicas desenvolvidas costumam chegar rapidamente à linha de produção.
A um jovem interessado em seguir carreira científica, ele diria que é através da ciência que os novos paradigmas do mundo são determinados. “É a partir dela que são construídas as bases da evolução da sociedade humana e fazer parte desse processo é extremamente gratificante. Além disso, fazer ciência é bom demais!”, brinca.
Curiosidade sempre presente
No caso de Eduardo, o interesse pelo campo científico o acompanha desde a infância. Irmão mais novo de uma administradora, ele diz que sempre contou com uma dose extra de imaginação. Fantasiava inúmeras aventuras baseadas em filmes de guerra e ficção científica. Seu personagem preferido era o Professor Pardal, da Disney, um original inventor. Na pré-adolescência era leitor assíduo de revistas como Super Interessante e Globo Ciência. Seu pai – executivo e consultor financeiro de diversas empresas – e sua mãe – gerente de algumas lojas da organização comercial da família – trabalhavam fora. Mas driblavam as exigências de suas profissões para conseguirem dar atenção aos filhos ao menos durante os finais de semana e férias.
Na escola, Eduardo sempre teve um desempenho muito bom. Suas disciplinas preferidas eram ciências e matemática. “Ainda no ensino fundamental comecei a me interessar mais seriamente pela matemática, participando de olimpíadas locais. Entretanto, foi somente no segundo ano do ensino médio que passei a estudar física com maior profundidade e afinco”, conta.
Nesse período, Barros foi selecionado para ser monitor de física em sua escola: a curiosidade científica transformou-se, então, em interesse científico. “Na mesma época, o Prof. Idelfrânio Moreira, responsável pelos laboratórios do colégio, me chamou para fazer parte do Clube de Física, no qual vários alunos se reuniam para discutir conceitos da Ciência e, principalmente, para desenvolver projetos científicos e tecnológicos a serem apresentados em diferentes Feiras de Ciências”, emenda.
A escolha pela física
Quando chegou a época do vestibular, Eduardo estava lendo a obra “O Tao da física”, do cientista austríaco Fritjof Capra. Nesse livro, o autor mescla os conceitos de partículas e física quântica com antigas concepções da filosofia oriental. “Lembro-me que essa leitura me causou grande impacto. Antes de terminá-la, eu decidi que estudaria física, no intuito de tentar compreender o universo”, credita.
Embora a decisão tenha surpreendido a família tradicional de economistas, Eduardo optou por cursar física na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sob a orientação dos professores Paulo de Tarso Freire e Josué Mendes Filho, ele ingressou na iniciação científica já no terceiro semestre da graduação. “Tive contato com excelentes professores, que estimularam muito meu desenvolvimento pessoal e científico. E destaco o papel fundamental desempenhado por meus colegas de turma. Havia entre nós um ambiente de competição amigável, estímulo mútuo e companheirismo.”
Ainda sobre o Prof. Josué Mendes Filho, que posteriormente o orientou em seu mestrado, Barros se mostra imensamente agradecido. “Durante toda a minha carreira, tive seu apoio incondicional. Ele me proporcionou diversas oportunidades, sem as quais eu dificilmente teria sucesso nessas primeiras etapas. Além da confiança em mim depositada, também contribuiu com minha formação ao me apresentar uma visão diferente da física, mais dialética e menos matemática”, reconhece.
No doutorado – realizado, assim como sua graduação e mestrado, na UFC – Barros teve o Acadêmico Antônio Gomes de Souza Filho como seu orientador. Ele também realizou um estágio de doutoramento sanduíche no Massachusetts Institute of Technology (MIT) sob a orientação da Dra. Mildred S. Dresselhaus. “Ambos me mostraram, por meio do exemplo de suas respectivas trajetórias profissionais, que, para fazer ciência, são necessárias muita dedicação e criatividade. Também me ensinaram a importância de se fazer o possível para proporcionar um ambiente de trabalho sadio e estimulante para os alunos”, credita. Após a conclusão dessa fase, o físico cursou seu pós-doutorado no Japão, em um grupo científico comandado pelo prof. Riichiro Saito na Tohoku University.
Nanomateriais: o alvo de seus estudos
O trabalho de pesquisa de Eduardo Bedê Barros envolve o estudo das propriedades dos chamados nanomateriais – definidos por ele como materiais de tamanhos diminutos que apresentam propriedades bastante inusitadas, que dependem fortemente de sua forma e tamanho.
Barros explica: “Dentre eles, destacam-se os nanotubos de carbono e grafeno – não só por sua extrema resistência mecânica, mas também pelas propriedades eletrônicas apresentadas, cujas peculiaridades têm atraído grande interesse científico e tecnológico devido a suas possíveis aplicações.” De acordo com o pesquisador, essas aplicações vão desde o reforço mecânico de equipamentos e materiais até a aplicação em dispositivos eletrônicos.
Ele ainda acrescenta que o estudo de materiais tão pequenos exige a utilização de técnicas experimentais sofisticadas como a microscopia eletrônica, a microscopia de força atômica e a espectroscopia vibracional. Para Eduardo, as práticas citadas permitem tanto a visualização desses materiais, como também o estudo e a compreensão de suas propriedades.
Sobre a titulação
Sobre a eleição como membro afiliado da ABC, Barros se mostra muito satisfeito. “O título de membro afiliado significa um grande reconhecimento ao meu esforço e dedicação, o que me deixa extremamente orgulhoso, agradecido e motivado a continuar exercendo minha profissão da melhor maneira possível”, afirma.
Para Eduardo, a oportunidade lhe proporcionará maior contato com outros cientistas, não só de sua área de conhecimento, mas também de outros campos, rendendo-lhe uma visão mais completa dos grandes desafios enfrentados pela comunidade científica brasileira e mundial.
Acreditando fortemente na realização e divulgação de uma ciência eficiente, ética e útil para a sociedade, ele continua: “Penso que, como Acadêmico, poderei auxiliar na identificação de dificuldades e desenvolvimento de soluções para melhorar a forma como a ciência é praticada em nosso país. Além disso, pretendo participar da interação do Brasil com outros países do mundo – tendo como objetivo principal transformá-lo em uma nação cientificamente competitiva e relevante no cenário mundial.”