Natural de Brasília, Celso Shiniti Nagano passou sua infância em contato com a natureza. Divertia-se observando, durante horas, as plantas, animais e até mesmo o clima de onde morava. Tudo aquilo, no entanto, suscitava em sua cabeça inúmeras perguntas para as quais ele não sabia as respostas. “Meus pais sempre me estimulavam a buscá-las. O mesmo acontecia em relação às tarefas escolares”, lembra, contando que seu pai trabalhava como geotecnista em projetos de obras públicas, tais como usinas hidroelétricas e aeroportos.
“O nosso quintal era a maior fonte de brincadeiras. A partir daquela velha demonstração da germinação do feijão na escola, eu quis testar o experimento com todas as sementes que encontrava na horta de casa, mas é claro que nem sempre obtinha êxito”, rememora.
Além disso, o menino também gostava de consultar enciclopédias. Quando estava curioso sobre algum assunto que não constava nos livros de que a família dispunha em casa, Celso ia à biblioteca aprofundar sua pesquisa. “A leitura era um hábito que, além de estimulado por meu pai, me divertia muito. Anualmente, nós juntávamos os livros lidos para conseguirmos desconto na aquisição de novos volumes”, recorda. Seus temas de leitura preferidos eram os relacionados à biologia – inclusive livros didáticos, que pegava emprestado de suas irmãs.
Caçula de duas meninas, ele conta que seus pais sempre exaltaram a importância do ensino superior. O primeiro contato de Celso com uma universidade se deu quando, aos quinze anos, foi visitar a irmã na Universidade Federal de Viçosa. Na época, o futuro especialista em bioquímica pretendia estudar agronomia.
O caminho para fazer ciência
Quando reflete sobre o despertar do seu gosto pela Ciência, Nagano diz que a afinidade com os temas científicos aumentou no ensino médio, quando passou a ter contato com feiras de ciências, documentários e visitas a museus, zoológicos e aquários.
A escolha por agronomia, uma certeza até um determinado momento de sua vida, foi trocada pela engenharia de pesca. Um dos motivos foi a influência do avô, que o levava para pescar no litoral paulista durante suas férias. Lá, Nagano observava a imensa variedade de espécies presentes nas rochas, o que foi despertando seu interesse pelo ambiente marinho. O segundo motivo foi mais prático: “Havia mais agrônomos e biólogos do que engenheiros de pesca no país. Além disso, as disciplinas do curso possibilitavam um estudo mais focado em organismos aquáticos e o campo de trabalho era bastante amplo”, explica.
O curso de sua escolha, entretanto, só era oferecido em três instituições federais: a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal do Ceará (UFC). Nagano optou pela UFC e, antes mesmo de se mudar para Fortaleza, começou a envolver-se em grupos de pesquisa, monitoria e extensão. “Após esse período, fui admitido no antigo Programa Especial de Treinamento, que atualmente se chama Programa de Educação Tutorial (PET) e tem como objetivo estimular os estudantes a desenvolver projetos em pesquisa, ensino e extensão. Posteriormente, deixei o grupo PET para fazer iniciação científica”, conta.
Ainda na graduação, a primeira aula de campo de biologia aquática despertou no rapaz a vontade de estudar algas marinhas e o professor da disciplina, Alexandre Holanda Sampaio, ofereceu a ele um estágio em seu laboratório. A oportunidade permitiu que Nagano ingressasse em um grupo de pesquisa multidisciplinar liderado pelo Acadêmico Benildo Sousa Cavada. “A equipe, caracterizada pela excelência nos estudos de proteínas de plantas superiores e de algas marinhas, me possibilitou trabalhar em estudos inéditos, como a determinação das primeiras estruturas primárias de uma lectina de alga marinha e de Mimosoidae”, orgulha-se.
O novo membro afiliado também realizou, durante a graduação, estágios em outros laboratórios: um na Embrapa-Cenargen, em Brasília, e outro no Instituto de Biomedicina de Valencia, na Espanha. Seus orientadores foram, respectivamente, os doutores Carlos Bloch Jr. e Juan José Calvete. Para Nagano, a vivência no exterior nessa fase abriu portas para a realização de seu doutorado, mais adiante.
Pesquisas voltadas para o estudo das lectinas
O professor da UFC estuda a presença, o isolamento e a caracterização estrutural de proteínas denominadas lectinas. “Essas proteínas, devido à sua capacidade de reconhecer especificamente os tipos de carboidrato, estão associadas a inúmeros processos biológicos, como reconhecimento célula-célula, fertilização, inflamação e metástase. Também são importantes ferramentas tanto para estudos histoquímicos e imunológicos, como para a avaliação do potencial de drogas terapêuticas contra o câncer e o vírus HIV”, esclarece.
Celso Nagano obteve seu título de mestrado em bioquímica vegetal pela mesma instituição onde cursou a graduação, a UFC. O doutorado em bioquímica e biologia molecular foi cursado na Universidade de Valencia, na Espanha. “No período do mestrado, continuamos com os estudos estruturais em lectinas de algas marinhas e, no doutorado, além de estudar as lectinas de algas da costa brasileira, nos dedicamos aos estudos estruturais de lectinas de plantas superiores nativas do Brasil”, conta.
Para ele, sua área da ciência é fascinante pelo simples fato das proteínas ainda serem moléculas pouco exploradas nas algas marinhas. Ele acredita estar diante de um panorama desafiador, repleto de possibilidades e de descobertas eminentes. Em sua visão, a curiosidade funciona como um estímulo constante a novas descobertas. “A busca por respostas aos questionamentos nos faz crescer e, a cada nova resposta, um número ainda maior de perguntas aparece”, opina o Acadêmico.

A realização profissional é uma consequência
Além da curiosidade, Nagano identifica outras características fundamentais a um cientista. “Também ajuda ter disciplina e espírito crítico, que vão sendo desenvolvidos com o tempo”, observa o pesquisador laureado com a Distinção Acadêmica Magna Cum Laude da UFC no ano de 2002. Ele ainda afirma que, quando se trata de ciência, a cada dia é alcançada uma nova descoberta. “Isso, naturalmente, nos estimula a progredir e a realização profissional é uma consequência. É essencial, ainda, que se tenha bastante persistência, pois os logros são obtidos a médio e longo prazo”, afirma.
Surpreso pela eleição como Membro Afiliado da ABC, Celso Nagano sentiu-se muito honrado pelo reconhecimento. “Isso nos motiva a continuar trabalhando com entusiasmo na geração de conhecimento e na formação científica dos estudantes”. Além disso, ele acredita que a Academia possibilitará não só sua interação com os demais pesquisadores, mas também a promoção de uma maior visibilidade em relação à sua instituição de ensino. “Tornar-se Acadêmico é uma grande responsabilidade, algo muito desafiador. Acredito que, através das ações da ABC, poderei contribuir com o desenvolvimento da ciência, buscando torná-la mais acessível à sociedade”, finaliza Nagano.