A sessão parlamentar realizada no último dia do Fórum Mundial de Ciência deu espaço para que representantes políticos e do poder público apresentassem sua visão de ciência, tecnologia e inovação, e a conclusão foi indiscutível: a integração entre a comunidade científica, os tomadores de decisões políticas e a sociedade civil é essencial para se atingir o desenvolvimento sustentável.
Péter Szijjártó, Umar Bindir, Gretchen Kalonji, Sibá Machado, Rodrigo Rollemberg,
Maria Candida Teixeira, Joshua Mandell, Lucy Calderon, Eugene Ngcobo,
Ninlawan Petcharaburanin, Eduardo Viotti
Maria Candida Teixeira, Joshua Mandell, Lucy Calderon, Eugene Ngcobo,
Ninlawan Petcharaburanin, Eduardo Viotti
Os pontos de vista eram diversos. O conselheiro sênior de Inovação e Competitividade do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Joshua Mandell, defendeu que os investimentos no ramo de CT&I não devem se limitar à pesquisa básica, mas também abranger a área de business e empreendedorismo, “cruciais para a ciência”. Ele também reconheceu a importância das parcerias com mundo em desenvolvimento. “Não há uma solução singular que virá apenas dos Estados Unidos ou dos outros países desenvolvidos, é preciso compartilhar. Apoiar jovens cientistas em todo mundo, por exemplo, é fundamental. Os EUA precisam aprender a dividir conhecimento com outros paises.”
Péter Szijjártó, secretário de Estado de Assuntos Internacionais da Hungria, apresentou sua visão a partir da experiência de crise vivida pela Europa. Ele informou que a situação precisou ser encarada como uma oportunidade de mudanças – o que, de fato, foi feito em seu país. Segundo Szijjártó, a forma de viver da Hungria era insustentável. “Em uma população de aproximadamente 10 milhões de pessoa, apenas 1,8 milhão pagava impostos. Era um sistema progressivo: quem ganhava mais, pagava muito mais.” Ele informou, ainda, que um policial, por exemplo, se aposentava depois de 20 anos de serviço, quando ainda tinha saúde e podia continuar exercendo a profissão por muitos anos.
“Isso mudou, agora temos mais pessoas trabalhando. O estado do bem estar social acabou, agora nos baseamos na meritocracia.” Segundo o húngaro, CT&I está no centro da economia, há mais pesquisa & desenvolvimento, o ensino superior melhorou, o número de engenheiros e cientistas aumentou, os jovens são mais estimulados a estarem empregados. “Depois da crise, nada será como antes.”
A repórter do jornal guatemalteca Prensa Libre e representante da Federação Mundial de Jornalistas Científicos (WSFJ, na sigla em inglês), Lucy Calderon, falou sob a ótica da comunicação em ciência. Ela ressaltou a importância de informar, explicar, guiar e promover esse tema para várias audiências, permitindo que as pessoas transformem a maneira que veem o mundo. “Lemos nos jornais tantas histórias de injustiças, enquanto histórias científicas podem criar lideranças e estimular os jovens a escolher carreiras na ciência.” Calderon afirmou que o desafio dos jornalistas é disseminar informação científica que contribua para o desenvolvimento local, afete a comunidade em geral. “Devemos comunicar os avanços e os erros, as histórias de sucesso e de fracasso.” Para isso, defendeu, é importante haver jornalistas científicos especializados.
Interação entre cientistas e políticos
O senador brasileiro Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou ser necessária a definição de políticas publicas e a produção de legislação sustentadas no conhecimento científico e tecnológico. Para isso, é imprescindível uma interação cada vez maior entre a comunidade científica e a política, possibilitando a construção de um ambiente de inovação, ainda precário no país.
Um exemplo da falta de cooperação, segundo o senador, foi a votação do novo Código Florestal. Um dos pontos mais criticados pelos cientistas brasileiros foi a ausência de especialistas na determinação das áreas de preservação permanente, em que deveriam ser levados em conta critérios de inclinação, textura do solo e biodiversidade presente naquela área. “A ausência de um conhecimento maior impediu que o congresso definisse essas áreas com rigor científico.”
Já Eduardo Viotti, consultor legislativo do Senado e professor da Universidade de Brasília, foi taxativo: “Membros do Parlamento que se dedicam a ciência e sustentabilidade têm pouca probabilidade de serem eleitos no próximo ano”. Uma das razões é o fato de os benefícios de ambos virem em longo prazo e terem, portanto, pouco apelo social.
Para Viotti, uma das formas de combater esse problema é elevar o conhecimento público sobre questões científicas, como o aquecimento global e os prejuízos de se sabotar pesquisas feitas com o uso de animais, como aconteceu no caso recente do Instituto Royal. “A popularização da ciência é essencial. Por isso, proponho a abertura do acesso a publicações científicas, que tem um retorno rápido. O que nao é público, nao é ciência.”
Em relação ao problema da evasão de bons profissionais, o deputado federal Sibá Machado (PT-AC) sugeriu a criação de um fundo mundial de solidariedade a pesquisas nos países pobres e a transferência de grandes centros universitários para esses paises. “O risco de levar uma pessoa para estudar fora é muito grande, pois elas não querem voltar devido à falta de estrutura. Dos doutores no Brasil, apenas 5% estão na Amazônia, por exemplo. Ninguém quer ir para lá.”
A África emerge em CT&I
O Fórum Mundial de Ciência teve uma participação importante de representantes de países africanos. Na sessão parlamentar, o presidente do Comitê de Ciência e Tecnologia da Assembleia Nacional da África do Sul, Eugene Ngcobo, ressaltou que seu país tem um potencial grande em C&Te está caminhando em direção a uma abordagem multidisciplinar nessa área.
A ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação da Angola, Maria Candida Teixeira, comemorou que, nos últimos dez anos, seu país deu grandes passos na educação superior, e estabeleceu o compromisso de treinar cientistas e profissionais com qualificação de alto nível. Já Umar Bindir, diretor geral do Escritório Nacional para Aquisição e Promoção da Tecnologia da Nigéria, comentou que o país começou a investir em inovação, mas o alto índice de pobreza ainda é um entrave para uma maior promoção de C&T. Mas, conforme resumiu a senadora tailandesa Ninlawan Petcharaburanin, “desenvolvimento sustentável é um longo processo, porém positivo. E, como cientista, acredito que ciência e tecnologia mudam o mundo.”