Ampliar o conhecimento sobre os oceanos é fundamental para garantir a existência da população humana. A opinião é do pesquisador José Henrique Muelbert, professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (IO/Furg) e palestrante no Fórum Mundial de Ciência (FMC).”Sempre que pensamos no mar lembramos da praia e dos seus animais, mas os oceanos representam muito mais do que isso para a humanidade”, diz o cientista, que participa de debates no Fórum Mundial de Ciência (FMC) 2013, sobre as demandas impostas às ciências do mar após a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em junho de 2012.
Muelbert destaca que o documento “O futuro que queremos”, redigido a partir da Rio+20, dedica 20 parágrafos ao tema, abordando desde a importância dos oceanos na regulação do clima, passando pela preservação da biodiversidade até os efeitos para a segurança alimentar.”Isso criou a necessidade de informações de qualidade, coletadas nas escalas apropriadas e nos tempos corretos para poder gerenciar os oceanos e atender às demandas”, afirma.
Ele aponta a relevância dos oceanos como meio de transporte, fonte de alimento e, em especial, como ferramenta para vários processos de limpeza ambiental – pela absorção de poluentes como o gás carbônico – e para controlar as mudanças climáticas. “Os oceanos regulam o clima da Terra, funcionam como um grande radiador”, explica. “Setenta por cento do planeta é composto de água, e é essa água que mantém a temperatura”.
Segundo o pesquisador, os mares transferem calor dos trópicos, regiões mais quentes do mundo, para locais de água mais fria, estabelecendo uma espécie de controle térmico. “Então, os oceanos são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade que a gente conhece hoje”, reforça Muelbert. “Se quisermos mantê-la, precisamos tratar dos oceanos com mais carinho, para que possamos sustentá-los ao longo do tempo”.
O professor também ressalta a necessidade de ampliar conhecimento sobre os mares – condição para explorar seus recursos disponíveis de maneira sustentável. Para isso, segundo ele, é necessário utilizar mecanismos eficientes de observação dos oceanos.”Não se consegue gerenciar aquilo de que não se tem informação. No Brasil, por exemplo, nós temos censo do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] para gerenciar a população e os indicadores econômicos, sociais, de educação etc”, ponderou. “Dos oceanos, atualmente, não temos isso. E uma maneira de estimular e desenvolver o uso sustentável dos oceanos é, justamente, conhecendo-o melhor”.
Avanços no Brasil
Muelbert cita como progresso relevante no Brasil a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas e Hidroviárias (Inpoh). “Ele permitirá ao país desenvolver atividades estratégicas de longa duração que não são realizadas necessariamente nas universidades”.
O especialista chama atenção para a necessidade de o governo atuar para garantir o desenvolvimento de séries longas de dados sobre a evolução da costa, dos peixes, da biodiversidade e dos habitats. “Um dos papéis fundamentais do Inpoh será garantir que atividades estratégicas de pesquisa sejam desenvolvidas no país e em longo prazo”.
Para o pesquisador, outra iniciativa importante será a aquisição do navio oceanográfico como parte das ações do instituto. “O Brasil tem oito mil quilômetros de costa e uma área marinha tão rica, diversa e importante quanto à da Amazônia. Para explorar tudo isso, precisamos de navios de grande porte, que possibilitem a realização de uma atividade contínua”.