Se, no plano político, as negociações de paz entre Israel e Palestina encontram inúmeros obstáculos para se concretizarem, no âmbito científico a relação é pacífica – ou pelo menos tenta ser, na maior parte das vezes. O químico e pesquisador palestino Hasan Dweik e o historiador israelense Dan Bitan dirigem, juntos, a Organização Israelense-Palestina para a Ciência (IPSO, na sigla em inglês), fundada em 2004, cujo foco é desenvolver a ciência e educação nessas duas comunidades, promovendo o diálogo e a diplomacia.

A cooperação acadêmica entre Israel e Palestina sempre esteve ligada à situação política da região. Segundo Dan Bitan, ela surgiu após as negociações de paz de 1991, mediadas pelos Estados Unidos. Essas relações, no entanto, se limitavam ao campo político, econômico e de saúde. Somente entre 1994 e 1995, após o acordo de Oslo, assinado em 1993, é que a cooperação científica começou a se estabelecer. Um dos líderes dessa nova interação foi o professor palestino Sari Nusseibeh, atual presidente da Universidade de Al-Quds. “Foi aí que surgiu a relação entre Israel e Palestina no sentido de ciência pela ciência, e não ciência pela política”, conta Bitan.
Ainda assim, a resistência é forte, principalmente entre os palestinos. “Eles só querem trabalhar juntos se a ocupação israelense na Palestina acabar”, explica Bitan, que apoia a causa da comunidade de seu colega. Tanto o historiador quanto Dweik acreditam que uma grande parte dos acadêmicos continuará relutante enquanto uma solução de paz não for estabelecida entre as duas comunidades.
Limitações territoriais

A complicada situação territorial da região é um dos pontos de maior discordância entre os dois colegas. Em 1967, Israel ocupou os territórios não contíguos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, reivindicados pela Palestina, provocando divisões na região. Dweik, por exemplo, mora na parte leste de Jerusalém e não tem limitações de circulação, mas não participa das votações para o Parlamento de Israel.
O compromisso de mais uma negociação de paz, estabelecido com os Estados Unidos, termina em abril de 2014, e Dweik e Bitan estão incertos sobre sua conclusão. “Eu sou otimista e meu amigo é pessimista. Geralmente ele está certo”, disse o israelense, que também reconheceu as complicações: “Israel considera Jerusalém sua capital, e a Palestina também. Se você pergunta a um israelense se ele confia em um palestino, ele dirá que não. Eles querem uma solução pacífica com os palestinos atrás do muro.” Dweik encara a situação de forma realista. “O acordo de paz de Oslo deveria durar cinco anos, mas estamos há 20 ainda tentando negociar.”
A água da região, que já é escassa, também é um problema, uma vez que é controlada por Israel. Por isso, esse é um tema trabalhado pelos diretores do IPSO, que agora estão preparando uma proposta de um grande projeto sobre hidrologia. “Estamos tentando levantar fundos – não recebemos recursos governamentais para não sofrer interferência -, mas já temos metade do dinheiro”, informa Bitan. “Não temos dinheiro nenhum”, contradiz Dweik. E, enquanto Israel e Palestina não avançam nas negociações, seus dois representantes científicos já chegaram a um acordo de paz – porém turbulento.