O 6º Fórum Mundial de Ciência (FMC 2013), de domingo (24) a quarta-feira (27), no Rio de Janeiro, inclui debates sobre como tecnologias poderiam ajudar a reduzir a desigualdade social. Considerado o responsável pelo atual formato do programa Bolsa Família, o secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE), Ricardo Paes de Barros, deve apresentar experiências brasileiras no combate ao problema.
Graduado em engenharia eletrônica, com mestrado em matemática e doutorado em economia, Paes de Barros avalia que a tecnologia atua em dois campos básicos para melhorar as condições de vida do ser humano. “O caminho tradicionalmente conhecido está mais ligado às ciências naturais e tem a ver com o desenvolvimento da medicina, que certamente resolve problemas de toda a sociedade”, observa. “Isso também envolve avanços em genética, que promovem ganhos de produtividade na agricultura, e o progresso digital, que torna celulares e computadores acessíveis à população mais pobre.”
Para o representante da SAE, porém, o outro caminho contra a desigualdade marca o Brasil com maior ênfase. “É quando a ciência nos ajuda a desenhar políticas sociais”, explica, ao enumerar iniciativas nacionais para inclusão produtiva no campo “reconhecidas mundialmente”, como a combinação de assistência técnica com crédito, além de programas de distribuição de sementes e de aquisição de alimentos pelo governo, a fim de gerar mercado consumidor.”Todo esse conjunto de políticas forma uma tecnologia social, que tem um componente científico, quando se desenham e, posteriormente, se avaliam as ideias”, diz o economista. “Seria uma área da ciência em que se utilizam conhecimentos de economia, sociologia, antropologia e serviço social, para desenvolver políticas públicas que podem vir a ter grande impacto.”
Referência
De acordo com o secretário, o fato de o país ser considerado um “ponto fora da curva” em termos da capacidade de reduzir pobreza deve orientar as discussões entre os cientistas do FMC. “Os avanços brasileiros na área social são mundialmente conhecidos e celebrados”, afirma. “Eu acho que todo mundo vem para o Brasil para saber: como vocês fizeram isso?”
No que diz respeito a esse tema, Paes de Barros imagina que os pesquisadores estrangeiros fiquem “um pouco desapontados” com a ciência nacional, porque ainda não se conseguiu desvendar plenamente a fórmula que levou o país a reduzir pobreza. “Nosso desenvolvimento social nos últimos dez anos está muito à frente da ciência”, avalia. “A ciência vai levar algum tempo até acertar o passo com a prática.”
Recentemente, países em desenvolvimento têm firmado parcerias internacionais em busca da erradicação da pobreza e da redução da desigualdade. O secretário considera fundamental esse intercâmbio de conhecimento. “Encontrar a solução para um problema comum não é só uma questão de eu trocar o que eu sei pelo que você sabe”, argumenta. “Na hora que as pessoas sentam e discutem as formas como estão tentando resolver uma dificuldade, pode nascer uma solução completamente diferente.”
Semiárido
A seca é uma das realidades compartilhadas pelo Brasil com países de todo o planeta. Segundo Paes de Barros, os avanços sociais obtidos no semiárido podem servir de modelo para parceiros. “O Piauí, por exemplo, é um dos estados brasileiros que mais crescem na área rural, muito baseado na ideia de arranjos produtivos locais, basicamente do mel”, conta. “Eles criaram uma cooperativa para fazer o produto, que hoje é vendido no país e até fora dele.”
O secretário enaltece avanços sociais alcançados no Semiárido, principalmente na organização de programas a partir de ciências sociais e humanas, mas considera que ainda há muito a se evoluir na parte tecnológica, “exatamente para aproveitar melhor toda aquela área incrivelmente ensolarada, com muito vento”. Ele destaca a Chapada do Araripe, planalto entre o Ceará, Piauí e Pernambuco com grande potencial para energia eólica. “O semiárido brasileiro ainda vai acabar se tornando uma área de riqueza e grande desenvolvimento.”
Produtividade
A SAE e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) organizam um mapa das políticas públicas voltadas para a produtividade do trabalho. “O sucesso do Brasil na área social não é pleno”, ressalta Ricardo Paes de Barros. “Uma preocupação muito séria nossa é que temos sistematicamente aumentado a remuneração do trabalho a uma velocidade muito mais alta do que temos melhorado a produtividade. Isso pode ser problemático no longo prazo.”
Na visão do secretário, o avanço da produtividade é o grande desafio do país para a próxima década. O mapa do Ipea se baseia em sete pilares – um deles propõe a expansão de fronteiras tecnológicas e um reforço à inovação.”Para o aumento da produtividade, o progresso tecnológico não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo”, comenta. “Na verdade, é muito difícil expandir a produtividade sem incorporação de novas tecnologias. Esse talvez seja o pilar com maior capacidade de se renovar no longo prazo, já que não se esgota. O avanço tecnológico pode ser recriado de novo e de novo, século após século.”