Para Waldeci Paraguassu Feio, dentre as características fundamentais a um bom cientista figuram a paixão, a determinação, a paciência e a perseverança. “Sempre há uma pergunta a ser feita e uma resposta a ser encontrada. Será que o homem é capaz de descobri-las? Qual o limite da ciência?”, questiona, encantado pelos desafios que envolvem o campo científico. Ciente das dificuldades enfrentadas diariamente por jovens que, por estarem em idade de prestar vestibular, precisam tomar a difícil decisão de qual carreira seguir, Paraguassu opina: “Se você deseja fazer ciência, não tenha medo, você não precisa ser o novo Einstein para tanto. Apaixone-se e siga o seu coração, pois é importante sentir prazer no que se faz.”
E Paraguassu sabe do que está falando. Apaixonado por sua área de atuação, a física, ele foi eleito membro afiliado da ABC para o período de 2013 a 2017. Na visão do pesquisador, a distinção simboliza uma grande conquista: “Sinto que agora faço parte de um grupo seleto que tem a responsabilidade de pensar e divulgar a ciência no Brasil. Espero dar o melhor de mim, exercendo o papel de representante da comunidade científica brasileira onde quer que eu vá.”
A vida antes da ciência
“Apesar de humilde, tive uma infância muito feliz”, afirma com convicção. Seus pais se separaram quando ele ainda era muito pequeno e Waldeci, caçula da família, foi criado com a presença constante de seus 11 tios e tias. A irmã mais velha do físico se casou cedo e não cursou o ensino superior, dedicando-se à criação de seus dois filhos. “Meus tios, por sua vez, tinham diferentes profissões. Dois deles, em particular, seguiram a carreira militar, o que me chamava muito à atenção durante a infância”, recorda. Nessa época, ele gostava especialmente de brincar com carrinhos e soldados. Criativo desde pequeno, Paraguassu conta que os brinquedos quebrados serviam de inspiração para a montagem de outros brinquedos.
Quando se tratava dos estudos, ele recorda que no colégio, as disciplinas que mais o atraiam eram aquelas que exigiam raciocínio lógico, como a matemática. Posteriormente, quando começou a estudar física – e principalmente na ocasião de seu primeiro contato com o campo da óptica – Waldeci ficou encantado. Fascinado pela matéria, que imediatamente se tornou sua preferida, ele se sentia muito estimulado pelas aulas de um professor que, ao esboçar igual paixão pela física, levou o menino a se empenhar cada vez mais em suas lições.
Quando chegou ao final do ensino médio, às vésperas do vestibular, Paraguassu sentia-se dividido entre a engenharia elétrica e a física. Por fim, optou pela física e ingressou na Universidade Federal do Pará (UFPA), ainda em dúvida se havia feito a escolha certa. “No decorrer dos anos, descobri as diversas possibilidades que a carreira oferece e fiquei mais seguro e satisfeito com a decisão tomada. Hoje em dia, não me vejo fazendo outra coisa”, conclui.
Estudando as propriedades físicas de novos materiais
Uma vez na graduação, ele rapidamente se interessou pelo Programa Especial de Treinamento (PET) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “A bolsa do programa foi muito útil na compra do material acadêmico e despesas em geral”, reconhece. Durante esse tempo, Waldeci Paraguassu teve contato com bons professores que lhe deram muito apoio e incentivo.
No entanto, o rapaz – que costumava passar o dia inteiro na universidade e, ao final do curso, enxergou a pós-graduação como um caminho bastante natural – conta que foi no mestrado que ele conheceu a pessoa que mais influenciaria sua carreira, o professor Josué Mendes Filho. “Um verdadeiro apaixonado pela ciência, que vendia sonhos e declarava seu amor pelo campo a quem quer que fosse”, define. Apesar de toda a inspiração proveniente de Mendes Filho, o título de mestre, obtido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), contou com a orientação do professor Paulo de Tarso Cavalcante Freire – considerado por Paraguassu um excelente cientista, além de um ser humano admirável e um grande amigo.
Em seguida, o físico se doutorou, na mesma instituição, também sob a orientação do Prof. Freire. Atualmente, Paraguassu é vice-diretor da Faculdade de Física da UFPA, chefe de um laboratório de pesquisa da universidade e bolsista de produtividade nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor de diversos trabalhos internacionais, Waldeci Paraguassu Feio possui cerca de 300 citações em trabalhos publicados em periódicos internacionais.
O cientista – que também atua como revisor da Psysical Review Letters e da Physical Review B – tem como foco de suas pesquisas a área da física da matéria condensada, especificamente o estudo de propriedades físicas de novos materiais. Ele explica: “Olhe para seu telefone celular. Olhou? Pois é, não existe um único material neste dispositivo que não tenha passado pelas mãos de físicos e químicos da matéria condensada. É isso que fazemos. Estudamos os materiais do presente e do futuro.”