A necessidade de divulgar os resultados das pesquisas científicas para o público leigo e o surgimento de uma nova mídia gerada pelas redes sociais on-line foram alguns dos assuntos debatidos nos dias 11 e 12 de outubro, durante o seminário “Divulgação Científica: rumos e desafios”. O evento – o sexto do ciclo de seminários organizado pela FAPERJ desde o início de 2013 – fez parte da programação da 3ª Feira FAPERJ de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada no Centro Cultural da Ação da Cidadania (CCAC), no bairro Saúde, Zona Portuária do Rio.
Presente à abertura do seminário, o presidente da FAPERJ, Ruy Garcia Marques, falou sobre a importância da realização do ciclo de seminários da Fundação. “Com estes seminários, procuramos chamar a comunidade acadêmica, estudantes e o público interessado para discutir temas prioritários para a ciência e a tecnologia do estado e mesmo do país. Fármacos, patentes e ética na pesquisa foram alguns dos temas já debatidos”, recordou.
Cláudia Rodrigues, Pedro Persechini, Monica Dahmouche e Paul Jürgens

O primeiro dia de palestras foi dedicado ao tema “Os desafios da difusão e popularização da ciência no século XXI” e teve como debatedores a diretora do Museu Nacional/UFRJ, Cláudia Rodrigues; a jornalista da Fiocruz, coordenadora do Núcleo de Divulgação do Programa de Oncobiologia da UFRJ e assessora de imprensa da Academia Nacional de Medicina (ANM) e da Federação de Sociedades de Biologia Experimental, Cláudia Jurberg; a diretora do Museu Ciência e Vida, em Caxias, e responsável pela área de divulgação científica da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), Monica Dahmouche; e o professor e pesquisador da UFRJ e cofundador do Espaço Ciência Viva, Pedro Muanis Persechini. Nessa mesa-redonda, atuou como moderador o chefe do setor de jornalismo da FAPERJ e jornalista responsável pela edição da revista Rio Pesquisa, Paul Jürgens.
Para a jornalista Cláudia Jurberg (na foto à direita), da Fiocruz, que esteve entre os palestrantes da mesa-redonda do primeiro dia de discussões, “antes da Internet e das redes sociais, a comunicação era de mão única, com os grandes conglomerados de mídia detendo o monopólio da informação a ser transmitida ao público. Hoje, qualquer um pode criar, compartilhar e comentar informações em comunidades e redes virtuais: é a chamada mídia social”, explicou a jornalista. Ela ainda falou sobre a experiência de divulgar a temática do câncer entre os jovens através de uma Fan Page, no Facebook. “Atualizamos a página diariamente com postagens de vídeos, debates com especialistas, entre outros recursos. Não queremos que as pessoas apenas curtam as postagens; nosso objetivo é que elas compartilhem e debatam aquela informação”, destacou.
A diretora do Museu Nacional, Cláudia Rodrigues, falou sobre o desafio de traduzir para o leigo a mesma riqueza que uma peça tem para o cientista. “Mais do que nosso rico acervo sobre história natural, nosso patrimônio mais importante é o público. Em segundo lugar vem a exposição, já que menos de 1% do acervo está exposto atualmente”, afirmou. Ela aproveitou para falar sobre o projeto de, até 2018, colocar todos os três andares do Palácio de São Cristóvão para exposições, enquanto as atividades de ensino e pesquisa seriam transferidas para novos prédios no horto florestal.
Um dos fundadores do primeiro museu de ciências interativo do país, o Espaço Ciência Viva (ECV), na Tijuca, Zona Norte do Rio, Pedro Muanis Persechini chamou a atenção para o risco do sensacionalismo na cobertura de notícias científicas e do papel a ser exercido pelos museus, órgãos de divulgação e especialistas. “No afã de dar boas notícias, já vimos muitas reportagens falando sobre a cura de doenças, quando, na verdade, tratava-se ainda de experimentos que estavam sendo realizados em ratos. Para evitar isso, precisamos desmitificar o papel do cientista e fazer com que os divulgadores de ciências, depois de terem suas matérias respaldadas por especialistas, possam agir como curadores e produtores de conteúdo”, afirmou Persechini.
Já a diretora do Museu Ciência e Vida, em Caxias, e responsável pela área de divulgação científica da Fundação Cecierj, Monica Dahmouche, falou sobre o fortalecimento da divulgação científica nos últimos anos e sobre a importância do museu na região. “O Museu Ciência e Vida tem um importante papel como opção de lazer e educação científica numa região carente, como é a Baixada. Como se trata de um espaço interativo de ciências, que não possui acervo próprio, ele mantém suas atividades graças às parcerias que estabelece com outras instituições científicas”, explicou. Ela destacou ainda iniciativas de popularização da C&T em nível nacional, como a Semana Nacional de C&T, além dos diversos editais abertos pelas agências de fomento que podem contemplar a área.
Segundo dia de apresentações discute os novos caminhos do jornalismo

No segundo dia de palestras, na manhã de sábado, 12 de outubro, a sessão com o tema “Os novos caminhos da divulgação em ciência na mídia: jornalismo em transformação, interatividade e redes sociais” contou com o diretor científico da FAPERJ e membro titular da ABC Jerson Lima como moderador. Ele apresentou os participantes e falou sobre a importância do jornalismo para divulgar as ciências. “Quando eu era adolescente, ficava muito curioso em juntar dinheiro e comprar nas bancas as revistas que saíam sobre ciências. Graças a elas despertei minha curiosidade para a carreira científica”, lembrou. Os debatedores foram a editora de Ciência e Saúde do jornal O Globo, Ana Lúcia Azevedo; a editora executiva da revista Ciência Hoje, Alícia Ivanissevich; o repórter da revista Piauí e responsável pelo blog Questões da Ciência, Bernardo Esteves; e a assessora de Comunicação Social da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Elisa Oswaldo-Cruz Marinho.
Ana Lúcia Azevedo, do jornal O Globo, iniciou sua apresentação lembrando que, com a Internet e as redes sociais, não somente o jornalismo sobre ciências, mas todo o jornalismo está em transformação. “No jornalismo impresso, pela métrica, manchetes e outros recursos, podemos direcionar as informações ao leitor. Já na Internet, a média de tempo de acesso ao site de um jornal se resume a apenas dois minutos, e não há ninguém que saiba exatamente quem acessa o site”, explicou. “Os jovens buscam muito a interatividade. Eles trocam e compartilham informações de forma totalmente caótica e aleatória, não há qualquer lógica, é tudo puramente intuitivo. Os fatos mostram que o jornalismo está em transformação. Mas para onde? Ainda não sabemos”, disse.
E
lisa Oswaldo-Cruz, Ana Lúcia Azevedo, Jerson Lima Silva,
Bernardo Esteves e Alícia Ivanissevich

Algumas dessas transformações no jornalismo a partir da massificação da Internet e das redes sociais foram objeto da exposição de Alícia Ivanissevich, da revista Ciência Hoje. Ela destacou a transparência das informações e o posicionamento crítico como a nova objetividade do jornalismo. “Os jornalistas não são parceiros acríticos, não são compadres dos cientistas; são sim, parceiros na cultura de divulgação e de educação em ciência e tecnologia. É essencial que os jornalistas tomem partido, não finjam ser imparciais e deixem claro os interesses e as fontes daquela notícia, para mostrarem uma opinião mais precisa, se diferenciarem e conquistarem maior credibilidade junto ao leitor”, afirmou.
Blogueiro e repórter da Piauí, Bernardo Esteves trouxe ao público uma discussão sobre os critérios de publicação de artigos científicos e o acesso aos debates sobre ciência pela Internet. “Existe um portal na Internet em que os artigos científicos são publicados e revisados em tempo real por outros cientistas. Espaços como o Twitter e os blogs também permitem que debates sobre ciência, que antes eram restritos aos corredores de congressos, sejam travados na rede, que se torna uma nova arena de debates”, acrescentou.
Por último, Elisa Oswaldo-Cruz, da ABC, destacou a necessidade de se divulgarem mais as carreiras científicas entre os estudantes de ensino médio. “Hoje, o grande gargalo da ciência é o ensino médio, pois apenas 1% deles escolhe essa área. Pensando nisso, criamos, na ABC, com apoio da FAPERJ, o site Proficiência, voltado a esclarecer dúvidas sobre carreiras científicas para esses estudantes”, destacou. Ela ainda falou sobre a necessidade de um maior intercâmbio entre jornalistas e divulgadores de ciência. “Faltam assessorias nas instituições de ensino superior para aproximar pesquisadores e jornalistas. Assim, uma de nossas propostas é a criação de uma rede regional de divulgadores de ciência”.