Caio Vinícius Saito Regatieri foi uma criança bastante ativa: além da natação e de jogar bola, divertia-se dissecando pequenos animais. Somente o pai trabalhava fora. Médico oftalmologista, seu convívio próximo com a universidade despertou nos filhos o interesse pelo campo científico. “Sempre quis seguir o caminho da medicina, pois na minha família há muitos médicos. Minha tia-avó, por exemplo, foi a primeira médica nipo-brasileira do país”, conta.
O rapaz esteve sempre seguro de sua escolha. Envolvido em pesquisas de iniciação científica desde o primeiro ano de faculdade, Caio conta que seu padrinho era professor da Escola Paulista de Medicina e o orientou em seu primeiro estágio na área de cirurgia pediátrica. Outra grande influência na trajetória de Caio durante a graduação foi o professor Odair Masson, especialista no campo da nefrologia, com o qual ele realizou monitorias. “Já durante o período de residência, posso citar como pessoas essenciais em minha formação os professores Rubens Belfort Jr. – membro titular da ABC – Denise de Freitas e Paulo Schor, que me incentivaram a percorrer o caminho de médico-cientista”, credita.
Em seguida, Regatieri cursou doutorado em ciências biológicas (biologia molecular), também na Unifesp, sob a orientação da Acadêmica Helena Nader – atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Além de se sentir constantemente incentivado pela pesquisadora, ele conta que foi também no doutorado que conheceu sua atual esposa, a professora Juliana Dreyfuss, sua colega de estudos na época. “Com elas eu aprendi a apreciar a ciência”, constata.
Percorrendo os degraus do caminho acadêmico, Regatieri obteve alguns títulos de pós-doutorado. O primeiro deles foi cursado no Tufts-New England Medical Center (TNEMC) e o segundo, no Massachusetts Eye and Ear Infirmary, ambos nos Estados Unidos (EUA). Atualmente, ele é pós-doutorando do Departamento de Oftalmologia da Harvard Medical School e seus estudos envolvem duas linhas de pesquisa: uma voltada para a oftalmologia básica e outra para a oftalmologia aplicada. Na primeira, o pesquisador investiga o papel das células-tronco de retina na restauração da visão em modelos experimentais com possibilidade de realização de transplantes em humanos para tratamento de doenças da retina. “A segunda linha”, explica, “busca o desenvolvimento de novas tecnologias para a realização de tomografias do fundo do olho que possibilitem o diagnóstico precoce e preciso de doenças da retina e do nervo óptico, tais como glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade.”

Talento reconhecido
Membro em treinamento da Academia Americana de Oftalmologia e da Associação Panamericana de Oftalmologia, Caio vem colecionando distinções por seu empenho acadêmico e científico. O reconhecimento começou cedo: vencedor das edições de 2002, 2003 e 2004 do Prêmio Pereira Barretto de Iniciação Científica da Unifesp, ele foi também o primeiro colocado no Exame de Residência Médica em Oftalmologia da universidade, no ano de 2005. Ademais, o membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia foi laureado – dentre outros – com o Melhor Vídeo no Congresso da Sociedade Brasileira de Laser e Cirurgia Oftalmológica (2006), o Tyson ARVO Travel Scholar Award (2007), o Prêmio Allergan de Melhor Residente da Unifesp (2008) e o Prêmio Professor Rubens Belfort (2009), também da Unifesp.
Eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências para o período de 2013 a 2017, Regatieri considerou o título uma grande honra: “Fico lisonjeado por poder fazer parte de uma organização que conta com cientistas de tamanho renome. Integrar esse seleto grupo de pesquisadores certamente trará muitos benefícios, já que poderei estar em contato com grandes mentes.” Em contrapartida, Caio pretende contribuir para a ABC por meio de ações que divulguem as atividades científicas e incentivem os jovens brasileiros a seguirem o caminho da ciência.
Motivando as novas gerações
Regatieri é enfático quanto à satisfação proveniente da carreira de cientista. Procurando motivar jovens interessados na área de pesquisa a seguirem seus sonhos, ele afirma: “Apesar de pouco divulgada, a ciência brasileira conta com o apoio de diversos institutos de pesquisa e universidades de ponta, todos eles de nível internacional. Um estudante que apresenta interesse pelo campo científico deveria ingressar na iniciação científica durante a graduação para conseguir um panorama mais amplo acerca da profissão de pesquisador no Brasil.”
Para ele, trabalhar com ciência é fascinante. De fato, ele ressalta, são necessárias certas características fundamentais – como perseverança, dedicação e criatividade – e existem muitas dificuldades a serem enfrentadas. Por outro lado, a possibilidade de desenvolver novos tratamentos e tecnologias capazes de melhorar a qualidade de vida das pessoas compensa quaisquer contratempos. “A ciência, em última instância, encanta pelos contínuos desafios que nos traz no dia a dia”, finaliza o novo Acadêmico.