“Nós tivemos, em dez meses, uma quantidade de trabalho equivalente a nove anos”, conta o vice-presidente executivo da Associação de Seguros do Chile, Jorge Claude, referindo-se ao terremoto seguido de tsunami ocorrido no país há três anos. Palestrante do Simpósio Mudanças Climáticas e Desastres Naturais sediado pela ABC em 26 de setembro, sua fala resumiu as principais experiências do setor chileno de seguros frente a uma situação tão extrema. O evento foi organizado em parceria com a Associação de Genebra e contou com o apoio da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg).

Segundo dados fornecidos por Claude, o Chile responde por 30% de toda a energia liberada por terremotos durante o século 20. O desastre em questão aconteceu em 27 de fevereiro de 2010 – passando, por esse motivo, a ser conhecido como 27F – e alcançou uma magnitude de 8,8 graus na escala Richter. E a história não para por aí: o tremor desencadeou um tsunami que atingiu regiões já danificadas pelo terremoto. “As lições aprendidas na ocasião podem ser adaptadas à realidade de qualquer catástrofe ao redor do mundo”, opina. Ainda de acordo com ele, foram contabilizadas 525 mortes e 23 pessoas foram declaradas desaparecidas. A reparação dos danos resultou em um custo de US$7,5 bilhões de perdas asseguradas. Já aquilo que não estava respaldado pelo setor de seguros, o equivalente a US$8,4 bilhões para o Tesouro chileno, foi arrecadado principalmente através do aumento das taxas de impostos.

Tendo ocorrido apenas 45 dias após o terremoto que devastou o Haiti, o 27F trouxe desafios logísticos e estratégicos à indústria chilena de seguros. Na ocorrência de catástrofes como essa, lembrou o palestrante, funcionários das seguradoras também correm risco de vida e instalações básicas entram em colapso. “Nós não tínhamos nem onde e nem com quem trabalhar”, justifica. Além de problemas no abastecimento de água e no setor elétrico, também era necessário lidar com a dificuldade de acesso – ou total inacessibilidade – a áreas danificadas. Já no tocante à estratégia, Claude ressalta que não havia um alinhamento de planos entre as diferentes empresas de seguros do país. Ele também citou questões financeiras, técnicas e legais, em seguida defendendo a importância de um plano de comunicação efetivo para o setor: “As seguradoras podem estar fazendo um ótimo trabalho, mas se isso não for transmitido à população, não significará nada.”

De acordo com ele, ainda que as seguradoras tenham agido rápida e eficientemente, a magnitude desse terremoto evidenciou que ainda há uma lacuna na cobertura de seguros do país. No Chile, estima-se que apenas 23% das casas estejam asseguradas, principalmente porque pessoas sem hipoteca não costumam investir em seguros sísmicos. Além disso, esse tipo de cobertura é vendido como um adicional aos seguros contra incêndios e a importação de termos e definições, feita sem uma tradução adequada, confunde proprietários e possíveis compradores. Como resultado das dificuldades enfrentadas, algumas iniciativas surgiram, dentre as quais está a elaboração de um modelo de análise de risco contra tsunamis e abalos sísmicos para o cálculo da perda máxima possível (PML, na sigla em inglês). Na opinião de Claude, “o país mais sísmico do mundo não podia mais se dar ao luxo de não ter um modelo customizado desse tipo”. Pioneiro na inclusão de tsunamis em suas análises, os primeiros resultados do projeto de autoria da Associação de Seguros do Chile devem sair em dezembro deste ano.

Por tratar-se, em sua visão, de um problema social que demanda maior envolvimento do governo, das autoridades e de qualquer pessoa que possa ser de alguma ajuda no assunto, Claude lembra: apesar de devastador, o terremoto não foi em Santiago, maior cidade do país. “Se tivesse sido, será que teríamos conseguido nos recuperar? Os recursos seriam suficientes?”, questiona. Optando por encontrar as respostas para essas perguntas antes que algum desastre natural atinja a capital, o Chile continua a investir em seu setor de seguros.