Um dos presidentes de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Acadêmico Sérgio Mascarenhas de Oliveira recebeu, na sexta-feira, 19/7, o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco. A honraria foi proposta pelo vice-presidente regional da Academia Brasileira de Ciências (ABC), professor Cid Bartolomeu de Araújo, do Departamento de Física da UFPE, para cuja criação Mascarenhas teve uma participação decisiva. Em 1971, ele atuou junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), que levou à assinatura de um convênio que tornou possível a criação do primeiro grupo de pesquisas no departamento.
Graduado em física e em química pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Mascarenhas é reconhecido como um dos mais importantes físicos brasileiros de sua geração, tendo trabalhado em pesquisas na área d efísica experimental. Fixou-se em São Carlos desde os anos 50, onde foi um dos fundadores do Instituto de Física e Química, que logo se tornou uma das principais instituições brasileiras nas suas áreas de atuação.
Interessado em física aplicada, fundou e dirigiu o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária da Embrapa, em São Carlos. Ao longo dos anos, seus trabalhos foram estendidos para as áreas de biofísica molecular; física médica; física e dosimetria das radiações; ciência e engenharia de materiais; tomografia computadorizada aplicada à agropecuária; educação para ciência; ciência e arte em arqueologia e restauro.
Mascarenhas cooperou na fundação da Universidade Federal de São Carlos e na criação do primeiro curso de Engenharia de Materiais no Brasil. Fundou e dirigiu a Fundação de Pesquisas Adib Jatene (Instituto de Cardiologia, SP). Implantou e dirigiu cursos de biofísica e física médica no International Center for Theoretical Physics (ICTP) em Trieste, na Itália, a convite do Prêmio Nobel Abdus Salam.
Hoje, Mascarenhas é professor titular aposentado do Instituto de Física e Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. Atua no Instituto de Estudos Avançados da USP- São Carlos, onde criou o Programa Internacional de Estudos e Projetos para a América Latina. É diretor do Programa Educação e Ensino de Ciências para a América Latina da Ford Foundation. Atua ainda como coordenador geral da Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio (RIPA) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Sérgio Mascarenhas orientou cerca de 50 teses de mestrado e doutorado (alunos brasileiros e de países vizinhos), além de ter publicado cerca de 200 trabalhos científicos no Brasil e no exterior. Foi professor visitante em diversas universidades dos Estados Unidos, México, Japão, Reino Unido e Itália. Em dois mandatos consecutivos, de 1969 a 1973, foi vice-presidente da SBPC. Em 1975, foi um dos fundadores da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências do Mundo emDesenvolvimento (TWAS), dentre outras Academias do mundo.
É Professor Emérito do Instituto de Física e Química de São Carlos desde 1999 e Professor Emérito da Universidade Nacional do México. Dentre outras homenagens, recebeu o título de Comendador e a medalha Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedidos pela Presidência da República. Foi premiado pela Fundação Conrado Wessel (FCW-Brasil), pela Fundação Guggenheim(EUA), pela Fundação Fullbright (EUA) e pela Fundação Yamada (Japão). É Cidadão Honorário da cidade de São Carlos. Foi homenageado pela Fealtec com o prêmio Peão da Tecnologia pela criação de grupos de pesquisas pioneiros que resultaram no Polo de Alta Tecnologia de São Carlos. Recebeu Voto de Aplauso pelo prêmio de Pesquisador Emérito do CNPq, pelo seu trabalho e pelo pioneirismo em favor da ciência brasileira, outorgado pelo Senado Federal, em 2006.
Em seu discurso sobre o homenageado, Cid Araújo (na foto à esquerda) destacou que bastariam estes títulos e os trabalhos prestados em favor da ciência brasileira para que o Departamento de Física indicasse Sérgio Mascarenhas para o título de Professor Honoris Causa. Entretanto, fez questão de ressaltar outras razões muito fortes para esta indicação, diretamente relacionadas com o nascimento e a existência do Departamento de Física da UFPE, para o que a contribuição de Mascarenhas foi fundamental.
A partir da demanda de um grupo de estudantes que Araújo integrava, Mascarenhas apresentou ao CNPq a proposta de um convênio especial para implantação do grupo de pesquisa em Física no Recife, que foi aprovado. Mais tarde, indicou o físico da PUC-Rio e hoje ex-ministro de CT&I SergioRezende para coordenar o projeto no Recife. “Rezende veio para passar apenas um ano no Recife, mas gostou e virou pernambucano”, contou Cid Araújo. E acrescentou que Sérgio Mascarenhas sempre manteve contato com o grupo. “Ele nos visitou várias vezes, discutia o andamento dos trabalhos, ministrou palestras, participou de churrascos, tocou violão… e foi de certo modo um grande avalista e supervisor do nosso projeto. Portanto, a vida do Departamento de Física, nos primeiros anos, dependeu muito da influência positiva e do apoio do Prof. Sérgio Mascarenhas. Por isso decidimos fazer esta homenagem”, contou Araújo.
Durante a existência do Departamento de Física, desde 1971, o Departamento homenageou com este título apenas dois professores: José Leite Lopes, pernambucano, professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) no Rio de Janeiro, membro titular da ABC e um dos maiores líderes da segunda geração de físicos brasileiros; e o membro correspondente da ABC Claude Cohen-Tannoudji, do Collège de France, Prêmio Nobel de Física, que desempenhou um papel muito importante na implantação da pesquisa na área de Óptica do Departamento de Física. “Valorizamos muito este título e ele representa uma forma de demonstrarmos ao Sérgio Mascarenhas o nosso reconhecimento pela sua carreira científica, atividades de política científica e pelo suporte dado ao Departamento de Física da UFPE. Muito obrigado.”
Depois de saudar os presentes, entre eles a presidente da SBPC e Acadêmica Helena Nader, e agradecer o título recebido, Mascarenhas falou da importância da ciência para o desenvolvimento do Brasil. Segundo ele, são “uma vergonha” as assimetrias sociais que existem no país. “Penso que o caminho para que o nosso país se desenvolva é a ciência, a tecnologia e a inovação”, declarou.