Ciência para o novo Brasil. Esse foi o tema central escolhido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para a sua 65ª Reunião Anual, considerando que embora sendo a sétima economia do mundo e ocupando o 14º lugar no ranking da produção científica mundial, o Brasil ainda está em 58º lugar em inovação entre 141 países e tem um desempenho sofrível nas avaliações internacionais da educação básica. “Temos, portanto, grandes desafios ainda a vencer para estarmos realmente inseridos na chamada economia do conhecimento”, ressaltou a presidente e membro da ABC
Helena Nader, durante a cerimônia de abertura da reunião, realizada na noite de 21 de julho de 2013 no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife.
Ciência e educação: bases para esse novo Brasil
Segundo Helena, o novo Brasil está empenhado em reverter o quadro social e, para tanto, tem ainda que vencer grandes desafios para estar realmente inserido na chamada economia do conhecimento. “Isso implica na crescente necessidade de pronto acesso ao saber, à informação e a altos níveis de aptidões pelos diferentes setores da sociedade.”
A presidente da SBPC destacou que as manifestações de rua que vêm ocorrendo nas principais cidades brasileiras têm em sua pauta de reivindicações a melhoria da educação. “O Brasil ainda está em débito com seus cidadãos no que se refere à oferta de um ensino básico de qualidade. O país ainda tem 6% de analfabetos e 21% de analfabetos funcionais, ou seja, quase um terço da população não consegue utilizar o conhecimento da língua para se inserir nas práticas sociais”, avaliou a Acadêmica.
Em função dessa avaliação, o evento deste ano teve novas características. Como parte da programação da reunião foram realizados cursos de atualização para cerca de 7.000 professores da Rede Estadual de Ensino em Caruaru, Garanhuns, Petrolina, Recife e Serra Talhada, envolvendo diferentes instituições. “Em todos esses polos foram realizadas sessões de abertura e proferidas conferências por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento. Já os cursos para os professores da rede municipal do Recife ocorrerão nesta semana.”
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A mesa da cerimônia de abertura da reunião foi composta pelo deputado estadual João Fernando Coutinho; Luana Bonone, presidente da ANPG; Jadir Péla, secretário de C&T do Espírito Santo; Diogo Simões, presidente da Facepe; Glaucius Oliva, presidente do CNPq; Jacob Palis, presidente da ABC; deputado federal Sibá Machado; Jorge Guimarães, presidente da Capes; o ministro de CT&I, Marco Antonio Raupp; a presidente da SBPC, Helena Nader; o reitor da UFPE, Anísio Brasileiro; o secretário executivo do MCTI, Luis Elias; o secretário de C&T de Pernambuco, Marcelino Granja; o secretário de C&T da Marinha, Wilson Guerra; a secretária regional da SBPC, Rejane Mansur (UFPE) ; a deputada Luciana Santos e o deputado federal Paulo Rubem Santiago.
Destaque aos cientistas falecidos em 2012 e aos principais colaboradores
Durante a cerimônia, a Acadêmica
Regina Pekelmann Markus, farmacologista da Universidade de São Paulo (USP), homenageou os falecidos cientistas e membros da SBPC Maria Lea Salgado Laboriau, professora emérita da UnB, além de
Paulo Emílio Vanzolini,
Maria Laura Mouzinho Leite Lopes e
Bertha Becker, estes três também membros da ABC. “Certamente esses grandes pesquisadores partiram deixando para as novas gerações uma ciência mais forte do que receberam”, sublinhou Regina.
O reitor da UFPE, Anísio Brasileiro (na foto ao lado), saudou
Helena Nader, o ministro Raupp e toda a mesa. “É uma honra tê-los aqui”, disse. Ele agradeceu a parceria do Governo do Estado na organização da 65ª Reunião Anual da SBPC e fez especial menção aos professores Rejane Mansur e Ivan Mello, “que trabalharam incansavelmente na organização desse evento. Sejam muito bem vindos.”
Divulgação científica em destaque
O mestre de cerimônias José Antônio Aleixo da Silva, diretor da SBPC, destacou a presença do ex-ministro de CT&I
Sergio Rezende, agora Doutor
Honoris Causa da UFPE. Em seguida, convidou o ministro Raupp e o presidente do CNPq,
Glaucius Oliva (à direita na foto abaixo), para entregar ao professor de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ildeu de Castro Moreira (no centro da foto) o
Prêmio José Reis de Divulgação Científica.
Moreira atuou como diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia (DEPDI) do MCTI entre 2004 e 2013, tendo promovido uma revolução na divulgação científica brasileira com a criação das Semanas Nacionais de C&T – nas palavras do Acadêmico
Glaucius Oliva. “Foi nesse período também que o CNPq começou a apoiar os museus de ciências e as olimpíadas científicas. Ildeu, você honra a ciência brasileira e honra o Prêmio José Reis, ao recebê-lo”, ressaltou Oliva. Moreira fez seu agradecimento compartilhando o Prêmio com todos os profissionais que trabalham pela divulgação científica no Brasil. “Esse é um prêmio coletivo, que prestigia o trabalho de muita gente.”
Um novo Código de Ciência e Tecnologia para o novo Brasil
Foi convidado ao palanque então o deputado federal Sibá Machado, que é o relator da Comissão Especial do Código de Ciência e Tecnologia. Através do contato com a professora
Helena Nader, ele tomou contato sobre a dificuldade de exercer a profissão de cientista no Brasil em função da legislação, que não é adequada.
Machado explicou que, para facilitar a aprovação, o Código foi desmembrado em quatro leis – duas conduzidas no Legislativo e duas no Executivo. “Uma é o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) sobre o Marco Legal; a outra é a PL 2177/2011, de autoria do deputado Bruno Araújo. A que trata do Regime Diferenciado de Contratações (RDC) próprio para CTI e a outra lei sobre o Acesso à Biodiversidade serão propostas para a Câmara pelo Executivo.”
Sibá Machado destacou que a PEC sobre o Marco Legal já está pronta. “As assinaturas estão sendo colhidas e será votada em agosto. A ideia é tirar a lei 8666 do ambiente de pesquisa e colocar uma legislação própria”, afirmou o deputado.
“Eu não quero lirismo que não seja libertação”
A presidente da Associação nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Luana Bonone, cumprimentou a mesa e saudou o tema escolhido para a 65ª reunião da SBPC. “O Brasil vive um momento que há um grito por participação nas ruas. A ciência brasileira mostra nessa reunião que está antenada à sociedade.” Luana observou que a diversidade de vozes que se ouviu nas ruas ultimamente se reflete na diversidade de temas e pensamentos expressos na reunião anual da SBPC. “Esse novo Brasil que nós queremos passa pela inovação cientifica e tecnológica, por novas tecnologias sociais e, para tanto, precisamos de educação de qualidade. Precisamos difundir e divulgar esse conhecimento da academia pela sociedade, precisamos de uma ciência que melhore a qualidade de vida da população, voltada para a sociedade. Como disse o poeta pernambucano Manoel Bandeira, eu não quero lirismo que não seja libertação.”
De fato, já estamos fazendo um novo Brasil
O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antonio Raupp fez uma homenagem a Pernambuco, lembrando o engajamento do estado nas causas da integração nacional. Homenageou ainda dois recentes ex-ministros de C&T, Sérgio Rezende e Eduardo Campos, o primeiro presente na plateia e o segundo atual governador do estado hospedeiro da reunião.
Ele saudou especialmente o premiado Ildeu Moreira, cujo trabalho de alta qualidade e de grande penetração em todo o Brasil declarou ter tido o prazer de acompanhar “nesses anos de trabalho juntos no MCT e anteriormente na SBPC.” Bem humorado, Raupp dirigiu-se à Moreira, dizendo que sua única reclamação sobre o ex-diretor do DEPDI é o fato dele ter decidido abandonar o Ministério em 2013. “Mas entendemos que você já deu uma grande contribuição e agora queira priorizar a família e a carreira acadêmica no Rio de Janeiro.”
Raupp ressaltou que, por uma série de razões, a prática científica tem compromissos naturais com o país onde ela é realizada. No caso do Brasil, haveremos de reconhecer que a ciência deu contribuições importantes à sociedade, resultado de um sistema muito bem montado pela própria comunidade científica, com destacada contribuição da SBPC. “O nosso sistema nacional de ciência e tecnologia é provido de um conjunto completo de subsistemas, que funcionam harmonicamente.”
Para o ministro, o novo Brasil já está sendo construído de fato. “Basta ver que, nos últimos dez anos, 22 milhões de brasileiros ultrapassaram a linha da extrema pobreza, enquanto 40 milhões de brasileiros ascenderam para a classe C.” Raupp citou ainda o fato de que, nesse mesmo período, as reservas internacionais brasileiras subiram de 35 bilhões de dólares para 370 bilhões de dólares. A economia brasileira fica hoje entre a sexta e a sétima do mundo, com possibilidade de se firmar como a quinta até 2020. “Está havendo crescimento da renda, tanto por parte das empresas como dos trabalhadores. Ou seja, estão ocorrendo mudanças imensas na configuração social e econômica do país”
, reforçou Raupp.
Interdependência absoluta entre ciência e educação
Apontando aspectos da vida nacional que, em seu ponto de vista, pedem a assunção de compromissos por parte da ciência e dos cientistas, Raupp remeteu-se à educação, por considerá-la a base da cidadania, da soberania e também da própria ciência. “Em relação ao ensino fundamental, nosso mais estreito e renitente gargalo, conseguimos vencer o desafio quantitativo da universalização do acesso. O principal desafio, que é o qualitativo, ainda está longe de ser superado.” Em sua visão, o desafio da qualidade continua e continuará persistindo enquanto não forem dadas soluções para questões como recuperação do status da escola, qualificação dos professores e desenvolvimento de metodologias de ensino compatíveis com o jovem de hoje e capazes de proporcionar efetivo aprendizado. “A meu ver, essas são questões apropriadas para a comunidade científica se colocar, com vigor, na busca de soluções definitivas.”
Obviamente, segundo Raupp, todos querem o ingresso definitivo do Brasil na economia do conhecimento. Mas esse Brasil só será possível com a contribuição da ciência. O ministro destacou que o passo fundamental já está dado: o país já conta com um sistema que sabe produzir ciência e tecnologia. Agora, ele precisa ser expandido para os setores industriais e de serviços. “Por consequência, precisamos também que as empresas invistam mais em atividades de pesquisa e desenvolvimento – afinal, um dos objetivos fundamentais da inovação é exatamente aumentar a competitividade das empresas. Ciência e inovação, quando articuladas entre si, promoveram não só riqueza econômica, mas principalmente avanços significativos na trajetória da humanidade. Temos que usar essa mesma receita de sucesso também no Brasil, renovando e redimensionando os compromissos da ciência com o Brasil.”