O Brasil está entre os países com pior avaliação no ensino de ciências em nível médio no mundo. É raro que nossos estudantes tenham acesso a laboratórios onde possam manipular objetos reais de seu estudo e perceber como se aplicam os conhecimentos adquiridos.
Assim como os cientistas, as crianças em idade pré-escolar demonstram uma curiosidade insaciável sobre tudo que as rodeia, querendo entender o porquê das coisas. Por que um ímã atrai alfinetes? Por que as lentes aumentam o tamanho aparente dos objetos? Por que os filhos se parecem com os pais? As crianças aprendem manipulando e brincando com os objetos.
O projeto “Aventuras na Ciência” foi inspirado em uma iniciativa da Editora Abril – criada pelo falecido Acadêmico Isaias Raw e a FUNBEC – que, nos anos 70, produziu a série “Os cientistas”, com 50 diferentes kits de ciência. Esses kits despertaram, na infância, o interesse de muitos cientistas que hoje fazem parte da Academia Brasileira de Ciências.
Em 2005 houve o relançamento desses kits em uma versão atualizada. Depois de oito anos, os kits foram implementados. Produzidos fora do Brasil, 500 mil unidades desses kits sobre astronomia, química, matemática, física e biologia foram distribuídos, em 2013, nos estados menos favorecidos, com apoio do Ministério da Educação (Capes/MCTI). O Acadêmico Moysés Nussenzveig, coordenador do projeto, relatou que há planos de pedir apoio para a Fapesp e a Faperj, de modo a contemplar os estudantes do Rio e de São Paulo.
O projeto dos kits nasceu da convicção de um grupo de cientistas de que poderiam dar uma contribuição relevante ao ensino médio de ciências, estimulando a curiosidade inata e recuperando o prazer de descobrir o porquê das coisas, usando recursos individuais para experimentação, gerando pequenos laboratórios caseiros. “Procuramos recuperar a natureza inata dos jovens e crianças, a curiosidade. Saber o porquê das coisas.” Cada kit vem acompanhado de um folheto que descreve os resultados nele contidos e conta um pouco da história dos cientistas que os descobriram. Inclui ainda um manual de instruções sobre como realizar os experimentos propostos e diversas perguntas sobre os resultados. Respostas a essas perguntas estarão disponíveis num portal próprio. Agora, o pesquisador conta que estão sendo elaborados dois novos kits, multidisciplinares.
Base científica é útil para todos
Nussenzveig deixou claro que a proposta não é “converter” todos os jovens em cientistas. “Uma boa educação em ciências é essencial para formar os futuros engenheiros de que o Brasil tanto necessita, capazes de criar e inovar, para formar profissionais de saúde que saibam e entendam como utilizar técnicas avançadas. É também crucial para treinar pessoas capacitadas para trabalhar em indústrias de vanguarda, lidando com os constantes avanços tecnológicos”, afirmou. Não menos importante, uma base científica contribui para formar cidadãos conscientes dos avanços e capazes de tomar decisões esclarecidas a respeito deles.
Um aspecto interessante frisado por Nussenzveig é que nem sempre o experimento dará certo. “O estudante tem que procurar e teimar em descobrir o que está errado e insistir até que funcione. Isso também acontece com um cientista em seu laboratório e é assim que mais se aprende.” Outra abordagem curiosa é que o kit não tem por objetivo o uso como material didático, em sala de aula. “A ideia é que os jovens realizem os experimentos por gosto e não por dever. Por isso, a proposta é que o aluno leve o kit para casa, faça os experimentos em casa, embora possa até ser levado para as escolas também.”
O Acadêmico contou que o nome “Aventuras na Ciência” foi escolhido para transmitir a ideia de que a ciência constitui uma das maiores aventuras do espírito humano. “Ela penetrou no âmago da matéria, muito além do átomo e do seu núcleo, ao mesmo tempo em que remontava à origem do universo. Agora, a ciência começa focar no entendimento da natureza da vida”, observou.
Nessa nova fase, o objetivo dos organizadores do projeto é constituir uma empresa. fazer uma parceria publico privada para produção dos kits e reinvestir o lucro no próprio projeto. A ideia esta sendo discutida junto ao BNDES.