Na cerimônia de posse dos novos Acadêmicos da Academia Brasileira de Ciências, realizada na Escola Naval na noite de 7 de maio, o Acadêmico Fernando Galembeck fez a saudação aos colegas que acabavam de ser empossados, ressaltando que foram acolhidos na Academia pela sua contribuição ao avanço das fronteiras da ciência. Ele ressaltou que a ABC é uma Academia vigorosa, que tem tido um papel cada vez mais importante na vida do país. Galembeck destacou que a importância das Academias de Ciências em todo o mundo se dá pelo fato de congregarem cientistas com formações, perfis e interesses diferentes. Em sua visão, “a especialização serviu bem ao século 20, mas o presente exige muito mais universalidade do conhecimento de cada cientista, ao mesmo tempo em que o crescimento explosivo da ciência exige cada vez mais profundidade de cada um.”
Galembeck acha curioso que num mundo assombrado por crises econômicas e desemprego, haja um “apagão de mão de obra” em muitos países, especialmente no Brasil, o que cria grandes oportunidades para quem tem conhecimentos técnico-científicos. Além disso, provoca uma reflexão sobre a natureza do trabalho que gera riqueza hoje em dia, pois nos séculos passados as grandes potências mundiais eram os países que tinham as maiores populações. “O maior fator de produção era o trabalho humano, portanto produzia mais quem tinha mais gente”, observou o Acadêmico. Hoje, embora o número de pessoas seja um fator fundamental, o poder nacional depende daquelas qualificadas para o trabalho intelectual, especialmente o trabalho técnico-científico.
O Brasil é um bom exemplo disso: temos grande destaque na produção de alimentos porque usamos ciência e tecnologia na relação com a água, o sol e a terra. “O país é líder global em inovação em muitas cadeias produtivas graças a muitos agentes qe trabalharam nos laboratórios, empresas e órgãos de coverno para construírem essa realidade com boas políticas, boa ciência e tecnologia e vigor empresarial”, apontou Galembeck.
Professor convidado da Unicamp depois de sua aposentadoria, Galembeck considera a inovação baseada no conhecimento novo uma forma eficiente, decente e ética de se criar riqueza, produzindo fortunas e criando novas formas de atividade profissional. A profissão que ele ainda não vê valorizada e respeitada no Brasil, porém, é uma das mais antigas e das mais importantes para o desenvolvimento do país: a de professor. Ele diz que, na área da educação, a consciência das necessidades e as intenções não se correlacionam com os fatos. “Vejo hoje grandes metas numéricas, mas não vejo o fundamental: a escola como um centro de aprendizagem, a prática do ensino baseada na melhor ciência e, principalmente, a noção de que não há aprendizagem sem esforço individual, concentração e leitura.” Finalizando, Galembeck fez um apelo aos novos membros eleitos para a ABC: “Assumam suas cadeiras, para ajudarem esta Academia a ajudar o Brasil.”
“Ciência sem consciência é a ruína da alma”
Citando Rabelais, escritor e médico francês do Renascimento, a nova Acadêmica Eliete Bouskela agradeceu, em nome dos empossados, a honra de passar a pertencer aos quadros da Academia e garantiu que todos procurarão contribuir para o progresso do país através de suas pesquisas, visando tirar o Brasil da situação de fornecedor mundial apenas de alimentos e matérias primas. Ela destacou que os novos membros da Casa, assim como os antigos, consideram a liberdade de pensamento e ação essencial ao ato criativo, fundamento da inovação e da ciência em si, sempre considerando, evidentemente, os aspectos éticos e morais da inovação científica.
Bouskela destacou a importância das Academias de Ciência desde o século 15 em diversos países da Europa e afirmou que “a Academia Brasileira de Ciências, pela qualificação dos membros que congrega, pelos eventos que promove, pelas diretrizes que emite, pelos contatos científicos que proporciona e pela pluralidade das seções que compreende é um poderoso elo no encadeamento do progresso nacional.”
Ações da ABC
O presidente da ABC, Jacob Palis, fechou a sessão, apresentando dados relativos às atividades e ações da ABC no último ano: “Foram 27 atividades nacionais, 20 atividades internacionais, diversas ações em parceria com a SBPC. Publicamos um livreto sobre a visão dos jovens membros afiliados sobre ciência tecnologia e inovação, além das quatro edições anuais dos Anais da ABC, cujo índice de impacto em 2010 era em torno de 0.9 e em 2012 chegou a 1.094 – o mais alto da história da ABC, mas ainda bem abaixo do potencial da revista. Durante este ano, tivemos 58 edições eletrônicas das Notícias da ABC, que já tem hoje 3.000 assinantes. A ABC atualmente tem mais de 3 mil fãs no Facebook e 5.480 seguidores no Twitter.”
No total, de acordo com Palis, foram cerca de 70 atividades realizadas em 2012, entre elas a Reunião Magna. “Esse vigor foi o que nos levou a ter no Brasil, em novembro de 2013, o Fórum Mundial de Ciência, pela primeira vez fora da Hungria. Este será um evento maior, para o qual temos parceria com o MCTI, a FCW, a Capes. Será um grande destaque da participação brasileira no cenário mundial da ciência e, certamente, vai contribuir para dias melhores da nossa ciência perante o poder público. Muito obrigado.”
Ao final do discurso, Palis convidou o Acadêmico e presidente da Capes Jorge Guimarães, que estava na mesa de abertura da cerimônia, para receber a primeira carteirinha de membro da ABC. “Por sua contribuição imensurável à ABC, Jorge será o primeiro Acadêmico a ter o novo documento, que está em fase de produção e será enviado a todos os nossos membros”, disse Palis, ao que Guimarães retrucou: “Até porque a ideia foi minha…”, arrancando risos da plateia.
O mestre de cerimônias, Ronaldo Rosa, deu então por encerrada a sessão e convidou a todos para o coquetel no Salão Nobre, oferecido pela Fundação Conrado Wessel.