O Acadêmico José Galizia Tundisi, coordenador do Instituto Internacional de Ecologia (IIE) e presidente do Instituto Internacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA), foi convidado a assumir a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia da cidade de São Carlos, em São Paulo. Em mandato que irá de 2013 a 2016, o professor titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP)

O ingresso no campo da política

“O importante é destacar que um cargo político, quando preenchido por alguém que tenha vivência na academia, estimula a cidade a resolver seus problemas utilizando ciência e tecnologia para a transformação social”, afirma o novo secretário municipal. Convidado pelo prefeito Paulo Altomani a assumir o cargo, a repercussão de sua entrada no quadro da Prefeitura foi muito positiva, graças a seu prestígio em meio à comunidade científica.

Após reunir-se com o antigo secretário, o Acadêmico percebeu a escassez dos recursos que teria para trabalhar. “Foi isso o que recebi: nada. E um orçamento tão ruim, que eu já gastei tudo”, conta. Apesar das dificuldades enfrentadas, o especialista em botânica mostra-se bastante motivado a transformar a realidade do município, tendo como base de seus projetos o investimento na pesquisa das universidades. “Nosso mais importante projeto é reunir os problemas presentes em São Carlos para apresentá-los às universidades e financiar os estudos necessários para a elaboração de planos capazes de resolvê-los”, explica Tundisi, que também pretende implementar uma Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) regional.

Ex-presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Tundisi conta que sua primeira ação foi planejar a instalação de alguns linígrafos – aparelhos destinados ao registro do nível da água – no município. De acordo com ele, quando acontecem enchentes, os linígrafos medem a altura da água e fazem uso de um sistema de alarme em tempo real. “Ainda dentro desse assunto, pretendo utilizar vants [veículos aéreos não tripulados] da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), que irão circular pela cidade durante as chuvas, verificando os pontos de vulnerabilidade e identificando-os, por telefone, diretamente para a defesa civil”, aponta.

O pesquisador também está montando cooperativas que centrarão seus trabalhos na transformação do lixo orgânico em adubo para, em seguida, aumentar a quantidade de flores em São Carlos. Altamente motivado a gerar empregos e enfeitar a cidade, ele conta: “Já fizemos um convênio com a Holambra – município localizado na microrregião de Campinas e conhecido como a cidade das flores – para ensinar as cooperativas a tratar as flores.” Nesse sentido, surgem os projetos “São Carlos Mais Verde: Recuperando a Biodiversidade”, “São Carlos Mais Florida”, “São Carlos Mais Limpa” e “São Carlos Mais Sustentável”. “Nós temos que dar um salto do século XIX ao século XXI”, opinou o secretário, referido-se à coleta seletiva de lixo na cidade. Para evitar que os funcionários fiquem arrastando sacos plásticos pelas ruas, ele comprou carrinhos elétricos em Curitiba (PR) que irão agilizar o processo e torná-lo mais higiênico. Comparando a realidade de São Carlos à das cooperativas norte-americanas, o professor alertou para o perigo de contaminação acarretado pela falta de higiene dos trabalhadores. Sem ao menos um espaço para banhar-se após o trabalho, eles saem da coleta de lixo diretamente para os transportes públicos, correndo o risco de carregar contaminantes consigo, na pele e nas roupas, e transferi-los para os usuários da rede pública de transporte. Além disso, eles levam marmitas e comem sentados no chão, em meio ao lixo. “Os funcionários aqui trabalham sem uniforme ou qualquer tipo de proteção. Nos EUA, eles utilizam roupas parecidas com as dos astronautas e possuem exaustores e esteiras.” Enfrentando o problema, Tundisi investiu na construção de quatro barracões com banheiros, chuveiros e vestiários, além de um refeitório. “Isso é educação para o social: resolver a questão social não é apenas dar comida para as pessoas, é cuidar de todo o processo”, conclui.
Durante a entrevista, Tundisi ainda contou outra novidade acerca do investimento na educação como fonte de desenvolvimento: segundo o Acadêmico, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos está elaborando uma Olimpíada de Ciências e uma Feira de Ciências, a serem realizadas no âmbito das escolas municipais e estaduais. “À frente da Secretaria Municipal de Educação do município há uma pessoa muito competente, o professor Carlos Alberto Andreucci, que cursou seu doutorado na Alemanha. A nossa equipe é bastante técnica, visto que a maioria dos secretários é especialista em suas respectivas áreas”, completa.

Parceria com Schwarzenegger

Tundisi esteve no Rio de Janeiro, em 25 de abril deste ano, para assinar um contrato com a empresa R20. Fundada pelo ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger, trata-se de uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover projetos de desenvolvimento econômico de baixa emissão de carbono.

Idealizador da instituição e presidente de seu Conselho, o ex-ator hollywoodiano afirma que o R20, Regions of Climate Action, não é apenas mais uma ONG ou rede de regiões. Ele é, na realidade, uma aliança entre forças que acreditam na possibilidade da mudança climática e do desenvolvimento de uma economia verde serem abordados a um nível subnacional. Sediada em Genebra, na Suíça, a empresa – que funciona a partir da lógica de parcerias público-privadas – conta também com um escritório nos Estados Unidos (EUA).

De acordo com o site da organização, seu grande propósito é atuar demonstrando que reduzir em 75% a emissão de gases de efeito estufa até o ano de 2020 é não só viável, mas também possível de ser alcançado sem nenhum custo líquido. No site do R20 está disponível, em português, uma brochura explicativa de suas ações.

O ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger e o Acadêmico José Galizia Tundisi

O encontro entre o Prof. Tundisi e Schwarzenegger tinha como objetivo a assinatura de um contrato que concretizasse a parceria entre o R20 e a Prefeitura de São Carlos, na qual a ONG responsabilizou-se pela elaboração de um projeto de iluminação para a cidade. Em entrevista ao NABC, o Acadêmico contou: “Em sua vinda ao Brasil, vários municípios brasileiros assinaram convênios com a empresa de Schwarzenegger. A organização, após entregar-nos um estudo gratuito, encontrará investidores interessados no processo.”

Sobre o Acadêmico

Dono de um extenso e rico currículo – que conta com a atuação como consultor nas áreas de limnologia, gerenciamento de recursos hídricos, recuperação de lagos e reservatórios e planejamento e otimização de usos múltiplos de represas em 40 países ao redor do mundo – o Acadêmico possui graduação em história natural pela USP, mestrado em oceanografia pela Univ
ersity of Southhampton, no Reino Unido, e doutorado em ciências biológicas também pela USP. Com 30 livros e 320 trabalhos científicos publicados, Tundisi foi presidente do Programa Institutos do Milênio e assessor do ex-ministro de Ciência e Tecnologia Ronaldo Sardenberg.

Ao mesmo tempo em que se envolve com o campo da política, José Galizia Tundisi continua atuando como docente universitário. Atualmente, divide-se entre os cargos de secretário e professor titular de pós-graduação na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS). Acostumando-se a uma rotina bastante corrida, ele agradece o apoio de sua família à decisão de aceitar o convite de Altomani, prefeito de São Carlos, e conta que viajou ao Rio de Janeiro somente para assinar o contrato com Schwarzenegger: “No outro dia, às seis e meia da manhã, eu já tinha que dar aulas lá no Rio Grande do Sul. Apesar de tudo, estou me divertindo bastante.”