Secas como a que atinge o semiárido podem ser previstas com anos de antecedência, afirma o meteorologista Pedro Leite da Silva Dias, membro titular da ABC, se ampliada a rede de monitoramento climático no oceano Atlântico Sul. O pesquisador, que participa no Recife da 5ª Reunião Preparatória para o Fórum Mundial de Ciência, recomenda dobrar a quantidade de boias para medir parâmetros como temperatura, salinidade, vento, pressão e correntes marinhas.
De acordo com o especialista, a influência do Atlântico no clima do Nordeste é maior que a do Pacífico. “O El Niño, resultante do aquecimento da temperatura da superfície do mar no Pacífico, está relacionado à seca, sim. Recentemente, no entanto, temos verificado que a temperatura no Atlântico Equatorial é uma variável ainda mais fundamental nos modelos de previsão”, afirma Pedro Leite.
Há dez boias, segundo o meteorologista, na porção sul do Atlântico. “São necessárias pelo menos 20”, diz o diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), com sede em Petrópolis (RJ) e vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A medição com boias, explica Pedro Leite, é mais indicada que a aferição dos parâmetros por satélites. É que as boias medem as correntes e temperatura da água do mar a profundidades da ordem de mil metros, enquanto o alcance dos satélites é inferior a dez metros.”As correntes transportam as águas do fundo para a superfície, causando alterações na temperatura que influenciam no clima. Alimentar os modelos disponíveis com esses dados permitirá um prognóstico climático mais preciso e com maior antecedência, o que ajudará nas ações governamentais preventivas. Do ponto de vista econômico, uma coisa é saber que vai acontecer uma seca daqui a meses, outra é daqui a anos”, avalia.
As boias existentes no Atlântico Sul integram a rede do Projeto Pirata (sigla para Pilot Research Moored Array in the Tropical Atlantic), cooperação entre os governos brasileiro, francês e norte-americano. O Pirata, iniciado em 1997, conta com dez bóias na porção tropical do oceano. “Para a ampliação da rede, espera-se a colaboração financeira do governo brasileiro.”
A reunião, que prossegue até 16/04, é realizada na sede regional do MCTI, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. O encontro é preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013 (World Science Forum, em inglês), marcado para novembro, no Rio de Janeiro. A primeira edição do fórum ocorreu em 2003 e, desde então, é realizado bianualmente em Budapeste, capital da Hungria. Pela primeira vez, sai da Europa.