Leia o artigo publicado no Correio Braziliense em 1º de abril de autoria do coordenador do Núcleo do Futuro da Universidade de Brasília e membro titular da ABC, Isaac Roitman:
“O avanço científico e tecnológico não tem sido acompanhado de progressos na consolidação de valores virtuosos e nas condutas éticas da sociedade brasileira. A ânsia de poder da maioria de nossos políticos, o individualismo e a falta de tolerância envenenam o convívio saudável nas relações humanas. O filósofo Immanuel Kant, ainda no século 16, já ensinava que o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele. Assim, ninguém pode imaginar uma sociedade justa e feliz longe dos princípios de uma educação de qualidade, que é o melhor caminho para alcançarmos uma sociedade plural, na qual todos terão as mesmas oportunidades e se respeitarão.
As fórmulas para a obtenção de uma educação de qualidade são conhecidas. O primeiro requisito é a formação adequada e a valorização do professor. Outras dimensões são igualmente importantes, como a adequação de conteúdos e de pedagogias para se alcançar os objetivos de cada nível de ensino. A infraestrutura do ambiente escolar deve acompanhar os progressos das tecnologias de comunicação e informação, assim como a gestão deve ser eficiente.
Apesar de conquistas importantes, como o fundo de financiamento para a educação básica (Fundeb), as avaliações do sistema educacional mostram que o Brasil carece de qualidade principalmente no ensino básico. Os jovens que recebemos atualmente na escola demandam uma metodologia diferenciada e uma relação respeitosa entre o educador e o aluno. A educação em todos os níveis, sempre esteve presa a parâmetros: salas de aula, calendário escolar, grade curricular e modelos pedagógicos centrados no professor.
Uma nova concepção pedagógica deve apontar para um conhecimento integrador, que estimule a criatividade, a crítica argumentada, a iniciativa e sobretudo a construção de valores da cidadania. Essa nova pedagogia deverá privilegiar algumas aptidões nos primeiros anos da educação escolar: saber ler, interpretar, escrever, contar, raciocinar, pensar, relações respeitosas entre seres humanos e respeito pela natureza. Sem a exclusão de atividades individuais, as atividades de interação e o trabalho em equipe deverão ser estimulados, por meio do desenvolvimento de projetos com objetivos claros. As atividades artísticas, culturais e esportivas deverão ser incentivadas, respeitando-se as tendências e as sensações individuais dos alunos.
Cada aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue: vídeo-aulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para garantir a evolução no conteúdo. Quando não chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção individualizada.
O novo modelo pretende dar às crianças e jovens uma educação mais alinhada com o século 21. A proposta inova na arquitetura, apropria-se integralmente de novas tecnologias educacionais e coloca o aluno no centro do processo de aprendizagem. O professor não será um transmissor de conteúdo, e sim um facilitador, que ajudará seus alunos a encontrarem o próprio conhecimento e indicará formas para que esse processo seja efetivado. Se a experiência for bem avaliada, poderá ser implantada em todo o país.
Novas experiências, como a descrita, devem ser incentivadas para implantarmos uma verdadeira revolução na educação brasileira. A hora é agora. Nesse contexto, é pertinente lembrar as palavras de Fernando Pessoa: Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”