Leia abaixo a matéria publicada, em 6 de fevereiro de 2012, no Segundo Caderno do Jornal O Globo, sobre a saída do Acadêmico Wanderley Guilherme dos Santos da Casa de Rui Barbosa:”Em dois anos de trabalho como presidente da Casa de Rui Barbosa, o carioca de 77 anos ampliou o terreno da entidade, reforçou sua segurança e conseguiu 49 vagas num concurso. Deixa o cargo lamentando não ter institucionalizado um fórum de debates – faltou verba.
Qual o motivo da sua saída?
Eu não sou gestor público. Essa não é a minha praia. Vim para a fundação num contexto um pouco conturbado e porque achava que a Casa de Rui Barbosa andava aparecendo nos jornais pelas razões erradas (seu antecessor, Emir Sader, chamou a ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda de “autista”). Mas, em junho do ano passado, disse à então ministra Ana que queria sair. Achava que toda a agenda da casa já estava encaminhada, mas ela me pediu que ficasse até o fim do ano. Pouco depois, ela foi substituída pela ministra Marta (Suplicy), que, por sua vez, me pediu que ficasse até encontrar um substituto. Saio nos próximos dias. Vou me dedicar a um livro sobre a oligarquia brasileira e frequentar a biblioteca daqui como pesquisador.
Como deixa a casa?
Resolvi um dos principais problemas: o territorial. O ministério adquiriu, com duas compras e uma desapropriação, três casas geminadas na rua Assunção. São nossas vizinhas. É um terreno de aproximadamente 540 metros quadrados que deverá dobrar o espaço destinado ao acervo e à biblioteca da fundação. Existe um compromisso do BNDES para financiar o projeto executivo da construção de um anexo novo que deve ter pelo menos cinco andares. Poderemos voltar a receber acervos.
E como fica a falta de pessoal?
Está parcialmente resolvida. Em dezembro, a ministra Marta conseguiu 49 vagas. É um concurso de reposição importantíssimo, já que, hoje, 25% dos servidores daqui já estão aposentados e trabalham com abono de permanência, artifício que só pode ser usado até os 70 anos. Até dezembro teremos de novo cerca de 130 servidores. Mas, quando esse novo anexo estiver pronto, a falta de pessoal voltará a ficar evidente.
Em que condições está o prédio?
O centro de pesquisa, no segundo andar, foi todo reformado. A primeira vez que entrei lá achei que era uma favela: tudo velho e desarrumado. Conseguimos dinheiro e fizemos reforma nas férias de 2011 para 2012. Agora os diversos setores – história, direito, ruiano (especializado nos trabalhos do próprio Rui Barbosa) etc. – estão divididos por salas. Em cada sala há dois pesquisadores. Melhorou muito. Também estamos concluindo o projeto executivo para modernizar a drenagem e a parte elétrica do jardim. São R$ 4 milhões vindos da Petrobras.
E a segurança do espaço?
A fundação não tinha um sistema contra vandalismo e roubo. Fizemos um projeto de mais de R$ 4 milhões, e sua instalação termina até junho. É moderníssimo. Tem câmeras que eu nem sei onde estão afixadas e uma central de vídeo assistida por um vigilante o tempo todo.
Houve roubos em sua gestão?
Infelizmente, como em qualquer outra biblioteca, sim. No final do ano fizeram um levantamento, mas não deu nada de escandaloso. Foram uns dez livros. Não sei dizer quais.
O que o senhor não conseguiu fazer pela Casa de Rui Barbosa?
Queria institucionalizar o fórum de debates. Sonhava criar uma área só para isso, mas precisava de alguém para coordenar. Pedi uma verba de aproximadamente R$ 4 mil, mas não consegui. Então, não saiu.
Que dificuldades seu substituto vai encontrar? Falta de verba?
O caixa da Casa de Rui Barbosa é razoável: R$ 8 milhões, fora o pessoal. E a execução ronda 98%. O problema é o conformismo que paira nos servidores, a aceitação da rotina. Não há penas ou bonificações leves. Ou o gestor compra uma briga imensa ou não faz nada. É muito complicado ter que conseguir tudo no papo. Eu nunca saí da minha sala. Nunca fiz social. Deve ter muita gente achando que sou metido e que vai ficar feliz com a troca.”