O desafio do setor de petróleo e gás foi um dos temas debatidos no segundo dia do 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013, que será realizado no Rio de Janeiro. Com o tema central Energia e Sustentabilidade, o evento na capital baiana foi do dia 5 ao dia 7. Quatro palestrantes abordaram o assunto sob diferentes aspectos na manhã de ontem (06/12). Rodrigo Bustamante Smolka, da Petrobrás, falou sobre o relacionamento empresa e academia; Hernani Chaves, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), sobre a ocorrência de gás e líquidos no folhelho no Brasil; Carlos Cabral, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tratou dos desafios no setor de gás natural, e Manoel Barral, do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico, abordou a questão da produção e cooperação científica do Brasil na área de petróleo e gás.
Smolka, o primeiro a falar, contou que os investimentos da Petrobras em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) cresceram de cerca de 160 milhões de dólares em 2001 para 1,4 bilhão em 2011. Esses valores a colocam em segundo lugar no ranking das grandes empresas de energia do mundo, perdendo apenas para Petrochina, que investiu US$ 2 bilhões no ano passado, mas na frente da Shell, que aplicou 1,1 bilhão de dólares. Do total gasto em P&D pela companhia brasileira, 52% foram internamente, 25% em parceria com instituições de ensino e pesquisas nacionais, 19% com empresas brasileiras e 4% com instituições do exterior.
Em números absolutos, os investimentos da Petrobrás em universidades e instituições de P&D aumentaram quase 10 vezes entre 2004 e 2011, passando de 31 para 296 milhões de dólares. “Desse total, 74% foram para projetos de pesquisa e desenvolvimento e 26% para infraestrutura”, informou Smolka. De acordo com ele, a empresa mantém hoje parcerias com 120 universidades e instituições de pesquisa, muitas delas organizadas em redes temáticas. Em 2006 havia 38 dessas redes, hoje são 50, das quais pelo sete com foco em energia e sustentabilidade.
Helena Nader, Jailson Bittencourt, Lilian Guarieiro, Robert Verhine, Carlos Cabral,
Hernani Chaves, Manoel Barral, José Sergio Gabrielli e Rodrigo Smolka
Com o tema Desafios do Setor de Petróleo e Gás: Fomento e Cooperação, Barral mostrou dados da produção científica brasileira nessa área do conhecimento. Segundo ele, embora o Brasil ocupe o 13º lugar no ranking da ciência mundial, em petróleo e gás o país é o 17º em publicação de artigos. “Além disso, a produção científica brasileira nesse setor é bem menor do que a de outros países do BRIS (BRICS sem a China)”, disse. “Enquanto o número de artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros passou de cerca de 100 em 1996 para 542 em 2011, os da Índia cresceram de pouco menos de 400 para 1.671 e os da Rússia de cerca de 900 para 1.494.”
Essa situação se reflete no programa Ciência sem Fronteira, que tem como objetivo promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional (101.000 bolsas em 4 anos). “Os temas de Petróleo, Gás e Carvão Mineral têm apresentado baixa demanda no programa Ciência sem Fronteiras, ainda mais acentuada no nível de pós-graduação”, disse Barral. “Das cerca de 20 mil bolsas concedidas até hoje, apenas 77 são para essas áreas.”
Durante os debates, depois das apresentações, a presidente da SBPC aproveitou para criticar o descaso do governo com a ciência. “Estão matando a ciência brasileira”, disse. “A ciência como ciência, a ciência fundamental vai deixar de existir. Todos os editais pedem para que se diga qual o impacto social do projeto e quais os impactos potenciais de aplicabilidade. Isso é matar a ciência. Por isso, vejo um ambiente sombrio para a ciência brasileira.”