Fernando Cendes, Sérgio Danilo Junho Pena, Fernando Ferreira Costa, Ida Schwartz, Jacob Palis e Marco Antonio Zago
A sessão de Ciências da Saúde, coordenada pelo Acadêmico Fernando Ferreira Costa, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tratou basicamente da produção científica na área médica, as perspectivas para o futuro e a falta de colaboração com outros países.
Para Costa, apesar do crescimento significativo da produção científica, o Brasil ainda está classificado de modo inferior ao que seria esperado. Quando questionado sobre o caminho que a pesquisa na área médica deve seguir para alcançar patamares mais elevados, o Acadêmico afirmou que “faltam recursos financeiros, a criação de grupos de pesquisas e mais interação com o exterior”.
Novas alternativas para o tratamento de doenças monogênicas
O foco de pesquisa da Acadêmica Ida Schwartz, professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é a avaliação, desenvolvimento e implementação de terapias para doenças genéticas. Ela apresentou seus estudos com grupos de pacientes portadores de doenças raras, na maioria das vezes, monogênicas. O grupo de Schwartz estuda a doença monogênica glicogenose 1A, que deriva da deficiência de uma enzima necessária para a transformação de glicogênio, que é a maneira como o açúcar do sangue é armazenado. Dessa forma, os pacientes não toleram longos períodos em jejum.
Atualmente, o tratamento desses pacientes é feito de duas maneiras. Na primeira, o paciente tem que ingerir a cada três ou quatro horas uma quantidade de amido de milho, sendo que em um mês ele ingere aproximadamente 15 quilos da substância. Na segunda abordagem de tratamento, o paciente continua sendo alimentado durante a noite, por sonda de alimentação contínua. Mesmo com as duas formas de tratamento, complicações persistem nos pacientes, que chegam a desenvolver tumores hepáticos. Por acreditar que são necessárias mais pesquisas nessa área, o grupo da Acadêmica busca outras alternativas para o tratamento da doença, como uso de polvilho, farinha de tapioca ou de mandioca.
A produção científica no Brasil
O professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando Cendes, apresentou dados sobre a produção científica no Brasil, propondo uma reflexão sobre o tema. Ele destacou o crescimento do número de publicações no Brasil, que ocupa o 13º lugar no ranking da produção científica mundial. Além disso, a taxa de crescimento na elaboração de trabalhos científicos no Brasil é de 8% ao ano, enquanto a média mundial está em 2%, segundo relatório divulgado pela Unesco em 2010.
No entanto, ele também trouxe a má notícia de que há recuo na produção de patentes brasileiras. “Entre 2002 e 2007, o número de publicações científicas saltou 110%, mas o registro de patentes recuou 7%. O Brasil, apesar de estar bem colocado como produtor de ciência no mundo, tem apenas 0,1% de participação nas patentes mundiais”, lamentou Cendes.
De acordo com o relatório, um dos motivos é que a ciência no Brasil ainda depende muito do dinheiro público, e os pesquisadores estão, em sua maioria, nas universidades. “As empresas não estão investindo tanto na produção de pesquisas no Brasil”, afirmou Cendes. O pesquisador também comentou sobre a colaboração científica internacional brasileira, que cresceu 30,4% quanto ao número de publicações em co-autoria com cientistas estrangeiros. Porém, ele ressaltou a importância da colaboração entre os estados brasileiros como sendo tão importante quanto a colaboração com grupos estrangeiros.
Por fim, Cendes chamou atenção para se pensar políticas públicas para o setor. “Acredito que instituições como a ABC tem muito a contribuir para essas questões, que são fundamentais para o avanço da produção qualificada no país”, concluiu.
Pesquisa e educação médica
O Acadêmico Marco Antonio Zago, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), também abordou a temática da produção científica no país, com ênfase na pesquisa e na educação médica na América Latina e no Caribe. Ele iniciou afirmando que os desafios da ciência nos países em desenvolvimento vão desde a formação de recursos humanos qualificados até a contribuição em políticas públicas na área da ciência.
“Não estamos bem em relação a formação de médicos, como muitos acreditam”, enfatizou Zago. Segundo ele, o Brasil possui 1,9 médicos por mil habitantes, enquanto que países desenvolvidos estão na média de 3,7. O Acadêmico defendeu a formação de recursos humanos não somente na área da ciência médica. “Nós precisamos formar pessoas qualificadas em nível superior em todas as áreas no Brasil – médicos, engenheiros, filósofos, sociólogos”, disse Zago, após comentar que o número de graduados nas universidades públicas brasileiras está caindo. Esse problema também se estende a formação de doutores, que vinha crescendo numa faixa de 15% ao ano e agora está crescendo a 6% ano.
Quanto à colaboração internacional, nos dados de 2011 apresentados pelo Acadêmico, comparando as cooperações entre Brasil, Argentina, México, Chile e Espanha, nosso país é o que tem o menor índice de colaboração, cerca de 19%. “Praticamente não há cooperação em ciência entre os países da América Latina, “, lamentou.
O genoma na clínica
Para encerrar a sessão, o Acadêmico Sérgio Danilo Junho Pena, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou sua palestra que teve por título “Genômica na rotina clínica”. A genômica é um ramo da ciência que estuda o genoma de um organismo, podendo se dedicar a determinar a seqüência completa do DNA ou apenas ao mapeamento de uma escala genética menor. O Acadêmico ressaltou a rápida evolução nesse ramo da ciência. “O primeiro genoma humano demorou onze anos para ser mapeado, em 2000; hoje em dia, somos cinquenta mil vezes mais eficientes em sequenciar genomas do que éramos naquela época. Hoje em dia podemos sequenciar um genoma humano por cinco mil dólares em uma semana e não por 2,5 bilhões de dólares em 11 anos”, afirmou.
Devido a esses avanços, Pena acredita que esse é o momento para que se comece a usar o genoma na clínica. “A informação genômica do paciente é uma ferramenta que os clínicos deveriam usar”, disse. Além disso, ele comentou sobre o trabalho que tem feito no Laboratório de Genômica Clínica, inaugurado no ano passado em Belo Horizonte, em Minas Gerais, oferecendo um serviço que prestará informações para casos emergentes da comunidade médica.
Nesse trabalho, o grupo de Pena não faz sequenciamento do genoma total, mas apenas o sequenciamento de exomas, que é a parte funcional mais importante do genoma e que contribui em maior medida para com o fenótipo final de um organismo, além de seu sequenciamento ser feito de forma muito rápida.
Por fim, o Acadêmico comentou sobre a economia que se faz ao se trabalhar com o exoma, no caso de o serviço de sequenciamento ser terceirizado para empresas especializadas. O trabalho no Laboratório de Genômica Clínica, com os conhecimentos genômicos, de hardware e de softwares específicos, é de extrair e interpretar informações do exoma sequenciado pela empresa especializada. “Ao invés de se trabalhar com cada gene individualmente, que fica muito mais caro, trabalhamos com o filé mignon (exoma) do genoma e ainda economizamos”, concluiu.