O diretor do Departamento de Difusão e Popularização de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (SECIS/MCTI) Ildeu de Castro Moreira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresentou o tema.

Antes de iniciar sua palestra propriamente dita, Ildeu fez questão de lembrar que o objetivo do encontro era uma preparação para o Fórum Mundial de Ciências 2013, evento que será realizado pela primeira vez do no mundo em desenvolvimento e que tem o papel de reflexão sobre ciência no mundo moderno. “Temos que ser mais propositivos em termos de ações”, ressaltou o físico. “Precisamos dizer que temos pressa de que a ciência, tecnologia e inovação (CT&I) tragam efetivamente benefícios para a sociedade.”

Para Ildeu, a educação cientifica no Fórum deve ser vista como ponto central da relação entre ciência e sociedade. “Hoje vou falar sobre o aspecto não formal dessa educação científica”, esclareceu, acrescentando que ambientes não formais podem estimular o interesse pela ciência, gerar aprendizes do conhecimento científico e ajudar as pessoas a se sentirem mais confortáveis e confiantes em suas relações com a ciência.

Ele referiu-se a um estudo encomendado pela Academia Nacional de Ciências dos EUA – Learning Science in Informal Environments: People, Places and Pursuits – que mostrou que esforços para aumentar a capacitação científica têm em geral foco na escola e têm como estratégias principais aprimorar o currículo de ciências, a formação dos professores, os materiais didáticos etc. “É uma tarefa essencial”, apontou Ildeu.

No entanto, o palestrante observou que o potencial para aprendizado em ambientes não escolares, nos quais as pessoas passam a maior parte de suas vidas, tem sido esquecido ou subestimado. “Milhões de pessoas, jovens e adultos, exploram e aprendem sobre ciência visitando espaços não formais, participando de atividades e usando os meios de comunicação.

Decálogo de desafios

Ildeu listou dez pontos fundamentais para a educação científica. Entre eles, a necessidade de aprimorar a relação da educação não-formal com a educação formal, a importância da expansão e aprimoramento dos espaços científico-culturais, a promoção de atividades mobilizadoras de grande escala, o cuidado com a qualidade e avaliação da comunicação pública da ciência, o investimento no bom uso da mídia e da internet, a valorização da atividade de educação científica e de seus atores.

Ele destacou ainda o compromisso de alcançar setores mais pobres da população e de investir em pesquisas sobre comunicação pública da ciência e tecnologia. “A divulgação científica é o início de um processo que passa pela apropriação social e construção coletiva do conhecimento”, vislumbrou Ildeu, reforçando que o caminho para que isso se dê passa pela definição e execução de políticas públicas em popularização da ciência e tecnologia.

“As pessoas podem aprender algo de ou sobre ciência em ambientes não escolares”, afirmou o físico, incluindo entre esses os museus e centros de C&T, zoológicos, planetários, jardins botânicos e atividades de ciência itinerante. Ele citou também a mídia, englobando TV, internet, rádio, redes sociais. “E, certamente, em eventos variados de popularização da C&T “- como a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia (SNCT) e outras feiras, mostras, gincanas, excursões científicas e atividades científico-culturais de modo geral.

O papel dos museus de C&T

Na visão de Ildeu, os museus e espaços de ciência e tecnologia (C&T) contribuem para a construção da cultura científica na sociedade e para estimular crianças e jovens para o conhecimento científico.

“Eles podem ajudar muito na renovação da escola, tanto em relação à atualização e inovação dos conteúdos e dos métodos de ensino quanto à concepção arquitetônica.” Outro aspecto positivo que Ildeu vê nos museus de C&T é o de facilitar a aproximação com as famílias. “São espaços que servem como ferramentas para a mudança individual e para a social, colaborando com a diminuição das desigualdades sociais. São instrumentos de inclusão, pois favorecem a apropriação social do conhecimento.”

Muitos museus têm ainda a perspectiva de estudar e preservar o patrimônio de C&T e coleções científicas, estimulando o conhecimento da ciência local e ajudando a quebrar mitos e preconceitos em relação à ciência e sua produção. “Eles possibilitar a discussão e a ação interdisciplinar da comunidade científica”, diz Ildeu, “contribuindo para o debate das grandes questões da ciência e estimulando discussões sobre a relação entre ciência e sociedade.”

Desafios dos espaços científico-culturais

A meta do MCTI, de acordo com Ildeu, é alcançar a média européia de público atingido pelos museus e centros de ciência e tecnologia, em particular para os setores populares. “O Brasil tem 3 mil museus, dos quais apenas 10% deles tem relação com ciência e tecnologia e todo são concentrados no Sudeste. O Brasil tem apenas 30 ou 40 planetários, enquanto a Índia tem 300. Precisamos não só aumentar o número como melhorar a distribuição dos espaços científico-culturais e aprimorar as práticas museológicas, promovendo maior interatividade e conexão com a realidade local”, concluiu.