O auditório do Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) foi palco do Seminário de Ciências da Amazônia, com palestras dos cinco novos membros Afiliados da Academia Brasileira de Ciências (ABC) da Região Norte, eleitos para o período de 2012 a 2016. A categoria de Membro Afiliado foi criada em 2007, juntamente com a criação das vice-presidências regionais, visando a descentralização das atividades da Academia e o estímulo a jovens cientistas de excelência de todo o país.
As apresentações dos novos Afiliados da ABC
Alexandre Luis Padovan Aleixo (na foto abaixo cumprimentando o presidente e o vice-presidente regional da ABC), doutor em Zoologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) e curador da coleção ornitológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, falou sobre a perda da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável no Brasil. Seu trabalho procura responder a questões sobre a estimativa do impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira, e refere-se ao pouco conhecimento existente sobre ela.
Gomes e seu grupo trabalham com visão de cores, visão espacial e utilizam os conhecimentos sobre o potencial cortical na detecção de alterações visuais provocadas por doenças, além de atuarem no processamento digital de sinais biológicos. Ele explicou que ainda não existe uma teoria do cérebro única, mas que a neurociência computacional diz que o cérebro pode ser entendido como um sistema físico e que a eletrofisiologia estuda teoricamente o cérebro. A importância da área pode ser avaliada pelo fato da Fundação Kavli, sediada na Noruega e criada especificamente para competir com o Nobel – oferecendo premiação semelhante -, ter elencado como áreas principais de estudo para serem estimuladas a nanociência, a física teórica, a astrofísica e a neurociência.
Outro biólogo da UFPA, do Laboratório de Sistemática e Coevolução do campus Bragança, Marcus Vinícius Domingues relatou sua pesquisa sobre o que os parasitos podem nos dizer sobre evolução. Pós-doutorado em Zoologia na Austrália, ele explicou que os parasitos fornecem informações sobre os hábitos e ecologia dos seus hospedeiros e falam da geologia de muito tempo atrás.
Domingues estuda a diversidade, a biogeografia e coevolução dos parasitos de arraias de água doce, características da região amazônica. Ele explicou que essas arraias vieram do hemisfério Norte e que um dos aspectos que procura entender é se os parasitos vieram junto com elas ou se surgiram depois que as arraias invadiram o hemisfério Sul. “Uma boa taxonomia é fundamental para o conhecimento da biodiversidade amazônica, mas a falta de taxonomistas compromete o avanço do conhecimento.”
O médico da Universidade do Estado do Amazonas, da Universidade Nilton Lins e da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda discorreu sobre a malária na Amazônia brasileira. “Na Amazônia estão 40% da malária do mundo e 50% da malária das Américas”, informou. “São cento e quinze anos de procura, mas ainda não se conseguiu uma vacina para doenças causada por protozoários”.
Lacerda explicou que são dois os tipos de parasitos causadores da malária brasileira: Plasmodium vivax (P.vivax) ou P.falciparum, sendo o primeiro o mais frequente e o segundo mais letal. Ele contou que em Manaus houve cinco grandes epidemias de malária desde os anos 60, e a cada vez que surgiu um novo episódio o número de pessoas afetadas aumentou muito, embora o número percentual de óbitos tenha sido drasticamente reduzido. “O vivax leva a mais co-infecções, como dengue e outras doenças graves”, relatou. A malária nas crianças prejudica o aprendizado, e nos idosos afeta também a cognição. “É uma doença que hoje não mata, mas prejudica o aproveitamento das crianças na escola. Não vamos nos desenvolver enquanto doenças como essas continuarem existindo no Brasil.”
A cerimônia de diplomação
Além do presidente e do diretor do INPA, a mesa de autoridades contou com a presença da secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Nadia DÁvila Ferreira destacou a importância da interação entre jovens talentos e cientistas sêniores, assim como da descentralização do conhecimento científico; o major Carlos Moreira Leite, do Comando Militar da Amazônia, manifestou o quanto considera importante o trabalho de conhecer mais a fundo a região amazônica, cumprimentando os Afiliados da ABC, a quem chamou de “garimpeiros do conhecimento”; o secretário-executivo da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECT) Dalton Chaves Vilela Jr., agradeceu aos jovens diplomados pela dedicação ao trabalho de pesquisa, importante para a região, para o país e para o mundo.

Nadia DÁvila Ferreira, Jacob Palis, Adalberto Val,
Major Carlos Moreira Leite e Dalton Chaves Vilela Jr.
Adalberto Val agradeceu especialmente à Acadêmica Paula Schneider, que presidiu a Comissão de Seleção dos novos Membros Afiliados. Comentou o grande crescimento da pós-graduação na região amazônica, “que ainda tem muito que crescer, mas já possibilita que nossos filhos fiquem por aqui, assim como receber os filhos de outras partes do mundo”. O diretor do INPA fez uma agradecimento especial a Capes pelos programas de bolsas para todos os pós-graduandos e outros que não ocorrem em outras regiões do Brasil, assim como o apoio da entidade à criação de novos cursos de pós-graduação e a indução de tantos outros.
Val destacou a importância da criação da Fapeam, que vem tendo fundamental contribuição no crescimento da ciência na região Norte, assim como o apoio da SBPC e da ABC. “Com esse apoio, estamos dando um salto significativo em termos da qualidade da pesquisa feita na região, comparável muitas vezes não só a outros estados do Brasil como, em alguns casos, únicos no mundo. Para essa produção de informação robusta precisamos fixar mais recursos humanos qualificados na região e precisamos muito dos jovens pesquisadores de excelência para isso. Aos Afiliados, incentivou-os para que “lutem a boa luta: a luta por uma vida digna para nossa gente.”
Jacob Palis lembrou que essa foi sexta vez que ele celebrava esse momento de inclusão dos novos Membros Afiliados da ABC na região Norte e destacou a grande conquista que identificou na evolução notável da comunidade científica do Norte, “que saiu da desesperança para o vigor absoluto. A ABC agora está presente de forma pujante em todo o território nacional, com jovens pesquisadores comprometidos, envolvidos com suas atividades e valorizando a ciência feita em todos os cantos do Brasil, todos com o objetivo de contribuir com a ampliação do bem estar da nossa sociedade.”
A ABC e a inovação nos quadros científicos da ciência brasileira
Para Lacerda, este evento é mais uma reflexão sobre o passado e o futuro da ciência. “Inovar não significa apenas inventar novos produtos, mas criar novas maneiras de produzir velhos produtos; não apenas ter novas ideias, mas permitir que as novas ideias tenham assento nas mesas de decisão. Inovar também é fazer doce a transição entre o antigo e o novo, entre o conservador e o ousado, entre o velho e o jovem. Criando a figura do seu Membro Afiliado, fazendo com que o mestre reencontre o aluno que ajudou a formar, a ABC respira e promove inovação na ciência brasileira, no seu sentido mais amplo.”
Conheça os novos membros afiliados da ABC: