O Brasil concentra boa parte dos grupos que estudam a doença de Chagas no mundo, e um brasileiro lidera o ranking global de pesquisadores da enfermidade, mostra levantamento publicado na “Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo”. A partir de dados de quase 14 mil artigos sobre a doença de Chagas publicados entre 1940 e 2009 e incluídos no repositório eletrônico Medline, os autores da pesquisa utilizaram ferramentas de bibliometria e análise de redes sociais para chegar aos principais nomes e redes de cientistas na área.

Com 170 artigos publicados e 304 colaboradores, o destaque individual ficou com o Acadêmico Wanderley de Souza, professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, o Brasil tem outros 45 cientistas no ranking dos com mais de 50 pesquisas publicadas, o que faz com que o país seja apontado como principal centro de estudos da doença, que em todo mundo conta com 148 grupos reunindo 1.750 cientistas.

Apesar de se dizer satisfeito com o resultado do levantamento, Souza afirma que a produção científica do Brasil sobre o assunto ainda deixa a desejar, fruto da inconstância do apoio do governo aos programas de investigação científica do mal.

“Devido à tradição das pesquisas sobre doença de Chagas no Brasil, eu esperava que tivesse ainda mais gente do país no topo da lista”, diz Souza. “Mas temos um grande grupo de brasileiros no ranking e uma colaboração intensa entre estes pesquisadores,e deles com os de outros países, o que mostra que a comunidade científica brasileira está muito bem conectada e interessada no estudo deste mal”.

Atualmente, a doença de Chagas afeta cerca de 7,7 milhões de pessoas em todo mundo, com aproximadamente 50 mil novos casos e 12 mil mortes todos os anos, principalmente na América Latina. O mal é causado por um parasita, o Trypanosoma cruzi, que foi identificado pela primeira vez em 1909 pelo infectologista brasileiro Carlos Chagas. Apesar disso, os programas de controle da doença, que afeta o coração, só começaram a ser instituídos a partir das décadas de 60 e 70.

“A doença de Chagas é um dos principais males negligenciados do mundo”, avalia Souza. “Temos gente altamente competente trabalhando aqui, mas poderíamos estar melhor. Nos últimos anos, campos como neurociências e células-tronco ficaram na moda, enquanto as doenças tropicais permanecem esquecidas, merecendo atenção especial do governo. O Brasil, como líder científico na América Latina, tem a responsabilidade de investir no seu estudo”.