Edilson Falcão Filho viveu em pequenas cidades do interior de Pernambuco até os doze anos. Teve uma infância sadia, brincando na rua, andando de bicicleta, com liberdade. O pai era bancário, a mãe professora. No ensino fundamental, gostava muito de matemática.
Durante a infância, se recorda do pai chamá-lo para ajudar quando ia fazer alguma instalação elétrica ou quando havia algum problema hidráulico. Não demorou muito, por volta dos sete anos, lá estava ele abrindo seus brinquedos para ver como funcionavam, ou brincando com eletricidade, dando curto circuito em fios, se perguntando porque os passarinhos não levavam choque quando pousavam nos fios elétricos da rua… Ou fazendo “vulcão”, quando ele e o irmão colocavam álcool em garrafas de vidro vazias e ateavam fogo. “O álcool entrava em combustão, mas rapidamente se apagava porque todo oxigênio de dentro da garrafa era consumido. Meu irmão do meio era cúmplice em várias destas travessuras, que meus pais só descobriram muito tempo depois, quando já estávamos crescidos”, recorda Edilson. “Acho que foi aí que comecei a me acostumar com a ideia de por a mão na massa, usar ferramentas e fazer as coisas por minha própria conta. Talvez esta experiência de consertar as coisas que tive com meu pai tenha despertado em mim esta curiosidade de procurar entender, de experimentar e, mais adiante, de me aventurar no caminho cientifico.”
Depois, moraram quatro anos em Natal, no Rio Grande do Norte, quando Edilson foi apresentado à biologia, à química e à física… e se apaixonou por todas as disciplinas de Ciências. No ensino médio, começou a preferir a física. Em seguida foi para Recife, onde completou o ensino médio e entrou para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Seus dois irmãos mais novos também se graduaram na UFPE, um em Ciência da Computação e o outro em Administração de Empresas. Só que Edilson entrou para Engenharia Eletrônica. No mês de julho, ao fim do primeiro período foi a uma Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Recife, onde foram ofertados vários minicursos. “Eu me inscrevi em dois, Dinâmica de Lasers e Introdução a Óptica Não Linear e Optoeletrônica, que foram ministrados por dois professores do Departamento de Física (DF) da UFPE”, conta o Acadêmico. Gostou muito dos cursos e logo no início do segundo semestre foi ao DF para conversar, conhecer e, de alguma forma, se envolver com alguma pesquisa naquelas áreas. “Acabou que saí de lá com uma iniciação científica, onde meu primeiro projeto foi a montagem e caracterização de um laser de corante.”
Hoje, Edilson Falcão possui bacharelado, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados em Física pela UFPE. Também completou outros dois pós-doutorados pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Tem experiência em Ótica Não Linear, Lasers e Geração de Altos Harmônicos. Atualmente é Professor Adjunto no Departamento de Física da UFPE. Seu trabalho está relacionado à interação luz-matéria, uma das formas mais primárias e fundamentais de interação do homem com o universo ao seu redor, envolvendo desde a percepção de distância, das cores e das formas dos objetos mais próximos até a observação dos corpos celestes longínquos.
Falcão explica que o uso da luz como instrumento de investigação científica se tornou indispensável, possibilitando, por exemplo, a observação de fenômenos físicos que ocorrem numa escala de tempo ultracurto, ou ainda o estudo da estrutura dos materiais ou na excitação, aprisionamento e controle de átomos, íons, elétrons, etc. “O meu trabalho consiste em estudar como a matéria interage com pulsos luminosos ultracurtos e ultraintensos”. Ele esclarece que um pulso ultracurto ocorre numa escala de tempo inferior a um picossegundo, que é a milionésima parte de um milionésimo de segundo. E que o ultraintenso ocorre em intensidades de um trilhão de vezes maiores do que a intensidade média de luz que chega à Terra, proveniente do Sol. “Sob estas condições, os materiais começam a responder de forma altamente não linear e novos fenômenos podem ser observados, como a geração de supercontínuo, a geração de altos harmônicos, a ionização por tunelamento eletrônico, etc.” O objetivo de Falcão e seu grupo de pesquisa é entender melhor estes fenômenos e tentar transformar o uso destes em um instrumento ou produto tecnológico de diagnóstico que possa ser útil para a comunidade científica ou indústria.
O prazer em fazer ciência
Olhando seu percurso profissional, Falcão avalia que o professor Cid de Araújo, Membro Titular da ABC, foi de longe a pessoa mais importante para sua formação. “Ele foi meu orientador desde a iniciação científica até a defesa de minha tese de doutorado”. Mais que isto, para Falcão a forma dedicada e apaixonada como Araújo trabalha, “encontrando sempre tempo e paciência para os alunos, serve de referencial e exemplo para qualquer jovem cientista.”
Para Falcão, são vários os aspectos positivos e encantadores envolvidos no “fazer ciência”. “Observar um fenômeno científico e medir, testar, estimular um meio, ver como este meio responde aquele estímulo, isto é muito prazeroso e têm como consequência imediata a produção de conhecimento, que é registrada e fica disponível para a humanidade.” As etapas subsequentes, em seu ponto de vista, são a busca para se entender e descrever o fenômeno observado e depois a aplicação daquilo que foi observado e entendido para a solução de um problema prático da vida do homem. “Todas estas etapas trazem uma satisfação pessoal muito grande e sempre tem este apelo social de retornar para a sociedade mais conhecimento, ou uma solução para um problema, ou um produto que melhore nossa qualidade de vida. Isto é encantador e estimulante.”
Um cientista tem de ser um apaixonado pelo que faz. Por isso, para aquele jovem que tem interesse pela ciência, Edilson Falcão diria para ele não ter medo de experimentar, que dê uma chance para a ciência. “O risco que há é gostar tanto das atividades científicas ao ponto de se não querer largar mais”. Com toda essa paixão, Falcão ficou muito feliz em ter se tornado Membro Afiliado da ABC. “Acredito que o principal benefício é a chance de conhecer melhor o trabalho de outros colegas cientistas, de áreas não diretamente relacionadas ao meu tema de pesquisa, ao mesmo tempo em que também tenho a oportunidade de apresentar meu trabalho para estes colegas. Isso é importantíssimo, pois contribui para o nosso enriquecimento intelectual e abre possibilidades para colaborações científicas. Muito obrigado.”