Um cientista deve ser curioso e insistente. Às vezes dorme e acorda pensando no mesmo problema. Deve ser criativo, não ter medo de tentar técnicas diferentes. “Claro que o talento é uma ferramenta importante, mas não adianta possuir talento e não saber usá-lo concretamente”. Estas são as opiniões do matemático Daniel Marinho Pellegrino. Quando inquirido sobre o que diria a um jovem que tem interesse pela ciência, responde que diria que ele deve seguir seu coração. “Se ele realmente gosta de estudar, tem muitas perguntas perturbando sua mente e tem motivação para buscar as respostas, deve seguir em frente.”
Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, Daniel Marinho Pellegrino é filho de um médico e uma pianista. O pai trabalhava como professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisava doenças tropicais. A mãe era professora de música. Tem três irmãos mais velhos, do primeiro casamento do pai, falecido em 1977. Poucos anos depois, sua mãe promoveu a mudança da família para João Pessoa, para ser professora do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Desde então eu vivo na Paraíba e me considero paraibano.”
No colégio, Daniel gostava de jogar futebol e, a partir da sexta série, começou a gostar muito de matemática. A ciência sempre esteve presente em sua casa. “Até hoje tenho coletâneas dos mais de 100 artigos científicos publicados por meu pai. Embora eu não tenha seguido a área médica, como ele, nem a área artística, como minha mãe, acho que meus pais foram as principais referências para mim.”
No segundo ano do ensino médio prestou vestibular para o curso de Matemática na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e foi aprovado, tendo sido o primeiro classificado. Não ingressou na universidade, porém, porque não tinha completado o ensino médio..
No ano seguinte, Daniel participou da Olimpíada de Matemática, realizada pelo Departamento de Matemática da UFPB, e foi o primeiro colocado. Mas achou que cursando Engenharia Civil teria melhores perspectivas de carreira e entrou na graduação. Depois de dois anos, no entanto, viu que do que gostava mesmo era da matemática e trocou de curso, para o bacharelado em matemática. “Desde então percebi que seguiria a carreira acadêmica e que iria me dedicar à pesquisa”, conta.
Entrou para a iniciação científica e teve como incentivadores os professores Aldo Maciel, João Bosco Nogueira e Carlos Alberto Bandeira Braga. Concluiu a graduação na UFPB e em 1996 começou o mestrado na Unicamp, onde também concluiu o doutorado. Pellegrino conta que tinha uma grande simpatia por Teoria dos Números, sendo fascinado por problemas famosos da área, como a conjectura de Goldbach – será que todo número par pode ser escrito como a soma de dois números primos? “O professor Mário Matos, embora fosse de outra área, aceitou me orientar e me ajudou a desenvolver ideias relacionadas a Teoria dos Números que eu trazia comigo há algum tempo. Nossa dissertação de mestrado dissertava sobre números normais, que são números cuja decomposição decimal têm uma certa ordem, dentro de um aparente caos. Nesse período fui influenciado ainda pelo professor Jorge Mujica.
Atualmente, Daniel Pellegrino é professor associado da UFPB, membro da pós-graduação em Matemática da UFPB e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É bolsista 1D de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Suas pesquisas envolvem diversas linhas. Ele procura estruturas lineares em conjuntos nos quais, aparentemente, não há organização alguma. “Na linguagem matemática essas linhas de pesquisa, em inglês, se chamam lineability e spaceability”, explica Pellegrino. Procura também estimativas melhores para certas constantes que aparecem em desigualdades da Análise Funcional. “Embora essa linha de pesquisa use métodos totalmente algébricos e abstratos, tenho usado o computador como ferramenta de apoio para transformar em números os resultados que obtenho algebricamente. É curioso, pois como matemático puro, nunca imaginei que o computador pudesse ser útil em meus trabalhos mas, nessa linha de pesquisa, o computador ajuda em trabalhos braçais.”
A pesquisa em matemática pura, tendo em vista seu caráter abstrato, dificilmente tem aplicações imediatas fora da própria matemática, de acordo com o Acadêmico. “As aplicações imediatas são dentro da própria matemática e aplicações externas provavelmente só serão encontradas depois de algum tempo”, esclarece. “O que me encanta na matemática são, exatamente, os seus mistérios, e como conseguimos desvendá-los.”
O título de Membro Afiliado da ABC significa, para ele, um reconhecimento à sua dedicação à pesquisa e aos resultados que vem obtendo. “É uma honra representar a matemática brasileira na ABC. Além disso, com o título vem a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento da ciência no país e para a consolidação do Brasil como um protagonista no desenvolvimento da matemática no mundo.”