A moçambicana Lidia Brito, diretora da Divisão de Políticas Cientificas e Formação de Recursos Humanos da Unesco, falou sobre Ciência para Sustentabilidade Global, na sede da Fapesp, no 1º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciências (RJ, 2013).

A principal mensagem de sua palestra referiu-se ao sentido de urgência: a civilização e o planeta como nós conhecemos estão realmente em risco e a situação pode criar crises humanitárias que transcendam os países. A boa noticia, segundo ela, é que o conhecimento avançou – e é suficiente para que se possa atuar e responder aos grandes desafios globais. “Não podemos mais dizer isso não é minha culpa. Todos os sistemas estão interligados e o que acontece num lugar repercute em muitos outros. Precisamos olhar a sustentabilidade de forma nova, mais global. Se vivemos num mundo interconectado, precisamos de soluções correspondentes. Precisamos falar de transformação social”, ressalta a ex-ministra da Ciência de Moçambique.

Na opinião de Lidia, a ciência precisa ser integrada, interdisciplinar, para trazer soluções alternativas acompanhadas de uma transformação social. “É importante monitorar o que está acontecendo efetivamente e ser capaz de comunicar isso de forma efetiva e em tempo para os tomadores de decisão, mas isso não está na agenda das universidades. Precisamos de novos canais de comunicação entre ciência e sociedade e entre as políticas públicas e as empresas”, argumentou a doutora em Ciências Florestais. Para ela, o desenvolvimento tem que ser visto do ponto de vista ambiental, social e econômico. “As pessoas tem que estar no centro da agenda do desenvolvimento, pois são elas que detêm o conhecimento. O poder da ciência só faz sentido se der poder às pessoas para tomarem as decisões corretas – não só para si, mas para a sociedade”, refletiu a especialista.

Lidia avalia que as questões globais estão sendo levadas para as mesas de conversação. “Cada vez temos mais projetos de pesquisa que tratam ou consideram a questão da sustentabilidade em nível global. As perguntas que temos que fazer agora, portanto, são outras”. Ela considera que o foco atual deve ser sobre estratégias de pesquisa e estratégias de inovação: é preciso criar novos tipos de indicadores que meçam o impacto da ciência para o desenvolvimento e, com isso, traga novas questões científicas. Para se ajustar a essas necessidades, segundo Lidia, a ciência tem que ser transdisciplinar. “E onde é que essa nova ciência está sendo produzida atualmente? Nos EUA e na Europa. Os países em desenvolvimento, então, tem um grande desafio”, aponta a engenheira. As políticas globais, em sua opinião, vão ser influenciadas por quem faz ciência para responder questões globais. “As comunidades científicas dos BRICs precisam incorporar esses novos paradigmas da ciência rapidamente para acompanhar o ritmo, ou então vamos perder a corrida.”

Um exemplo dessa mudança é o programa da Unesco Future Earth, um exemplo de elo entre a comunidade científica, governo, empresas e sociedade. Voltado para a pesquisa para a sustentabilidade global, é uma nova abordagem para lidar com os desafios críticos da mudança ambiental global e desenvolvimento sustentável, que é mais interdisciplinar, mais internacional, mais colaborativa e mais ágil para os usuários de pesquisa. A iniciativa reunirá cientistas naturais, cientistas sociais, engenheiros a financiadores e formuladores de políticas para alinhar as agendas de pesquisa, compreender e antecipar as mudanças ambientais, e desenvolver soluções inovadoras. “É fundamental criar uma interface entre a ciência e os tomadores de decisão. É preciso estabelecer um novo contrato entre a ciência e a sociedade.”