No período de 25 a 28 de junho foi realizado, no Memorial da América Latina, em São Paulo, o simpósio internacional “Aperfeiçoando a gestão de recursos hídricos em um mundo em transformação: Academias de Ciências trabalhando juntas para ampliar o acesso à água e ao saneamento”. Organizado pela ABC com o apoio da Rede Global de Academias de Ciências (IAP) e da Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), o evento contou com o apoio do Memorial da América Latina, da Sabesp, da Capes e da Finep.
Reunindo especialistas de alto nível de 34 diferentes países – sendo sete da África, 14 da Américas, oito da Ásia e cinco da Europa – o simpósio atraiu representantes de alguns dos principais programas internacionais na área de recursos hídricos: International Lake Environment Committee (ILEC), International Hydrological Programme – Unesco (IHP-Unesco), United Nations University – Institute for Water, Environment & Health (UNU-INWEH) e United Nations Environment Programme (UNEP).
Após três dias de intensas discussões focadas nos principais problemas e desafios para a gestão e a pesquisa na área de recursos hídricos no mundo, os participantes apontaram para a necessidade de uma maior articulação entre as Academias de Ciências, de forma que estas possam intensificar a cooperação internacional e assessorar os governos no desafio de se incrementar o acesso à água de boa qualidade e aos serviços de saneamento nos países em desenvolvimento.
A abertura do evento foi feita pelo vice-presidente da ABC Hernan Chaimovich (na foto, ao lado do Professor M. Nakamura), que agradeceu a presença de tão destacados pesquisadores de todos os continentes, interessados em discutir como gerenciar de forma pacífica e democrática um recurso tão importante como a água. “Sem uma participação mundial será impossível entender a questão profundamente nem tomas as atitudes necessárias para lidar com o problema”.
Chaimovich destacou que a atuação do coordenador do evento, professor José Galizia Tundisi, com o apoio da Academia de Ciências do México, levou à implantação do Programa de Águas da IANAS, que foi ampliado para o âmbito do IAP “e hoje atua em rede mundial, como pode ser visto nesse encontro”. O vice-presidente da ABC fez votos para que o encontro gerasse documentos de qualidade e com conteúdo “que mostre ao mundo o que pode ser feito para ampliar o acesso à água limpa e ao saneamento básico.”
Dados da OMS mostram que 780 milhões não têm acesso à água de qualidade
A mesa foi composta pelo vice-presidente regional da ABC para São Paulo e presidente do Memorial da América Latina Adolpho Melfi; o assessor técnico da ABC Marcos Cortesão; o líder da equipe do United Nations Environmental Programme (UNEP / PNUD, na sigla em português) Salif Dion, do Senegal; Américo Oliveira Sampaio, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Sabesp – empresa de economia mista responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 363 municípios do Estado de São Paulo; o coordenador da área de Recursos Hídricos da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Walter Tesch; o coordenador do evento José Galizia Tundisi, coordenador do Programa de Águas do IAP, co-coordenador do Programa de Águas da IANAS e coordenador do Comitê de Águas da Academia Brasileira de Ciências; o vice-presidente da ABC Hernan Chaimovich; o engenheiro japonês Masahisa Nakamura, especialista em sistemas ambientais ediretor do Comitê Internacional de Ambientes Lacustres (ILEC, na sigla em inglês); a geógrafa Corinne Schuster-Wallace, do Canadá, especialista em hidrologia glacial.

Salif Dion, Américo Sampaio, Walter Tesch; José Tundisi,
Hernan Chaimovich, Masahisa Nakamura, Corinne Schuster-Wallace
Os componentes da mesa agradeceram o convite e destacaram a importância do encontro, dada a situação emergencial em que se encontram 780 milhões de pessoas no planeta, nos mais diversos países, sem acesso à água limpa nem a sistemas eficientes de saneamento básico – sendo que a previsão das Nações Unidas é de que a demanda por água aumentará 40% nos próximos 20 anos.
Para Américo Sampaio, os resultados da Conferência Rio +20 mostraram que entre os grandes desafios em relação à sustentabilidade está a territorialização das soluções relativas à governança dos recursos sustentáveis. “O estado de São Paulo tem grande experiência com governança democrática da água e tem priorizado o conhecimento científico e tecnológico na tomada de decisões”, afirmou, destacando o trabalho da Sabesp, a maior empresa de tratamento de água da América Latina.
Tundisi agradeceu especialmente ao governo do Estado de São Paulo e à Sabesp, ao Memorial e às redes internacionais de Academias de Ciências pelo apoio e comprometimento com o evento. “A água, como sabemos, é fundamental para a saúde humana, biodiversidade, produção de alimentos e desenvolvimento econômico. No Brasil, ainda temos 134 milhões de pessoas, em um país com 200 milhões, sem acesso à água tratada. Será necessário um investimento de 30 bilhões de dólares nos próximos dez anos a fim de solucionar, ao menos parcialmente, o problema de saneamento básico e desperdício de água no país.”
O especialista ressaltou que os programas de águas do IAP e da IANAS atuam desde 2005 estimulando as Academias de Ciências a prestarem suporte ao desenvolvimento de políticas públicas para a área de recursos hídricos. “Nós já organizamos diversos encontros ao redor do mundo: Brasil, Jordânia, Polônia, África do Sul, Rússia, China, Venezuela, Colômbia, Nicarágua, Bolívia, entre outros. O importante da discussão é mostrar como integrar cientistas e gestores.”
A pobreza, assim como as relações entre qualidade e quantidade de água e saúde humana, são desafios que devem ser superados por novas tecnologias, integradas a abordagens e a perspectivas biogeofísicas, sociais e econômicas. Para Tundisi, o papel dos cientistas é traduzir conhecimentos complexos em aplicação, promovendo políticas públicas e estreitando o espaço entre teoria e aplicação. “E esta conferência visa estimular o intercâmbio de tecnologias e conhecimento entre os mais diversos países, reunindo nossas capacidades científicas e técnicas. Quais os desafios que nos esperam lá na frente e o que temos que fazer para que nossos países sejam mais eficientes e integrem ciência, tecnologia e desenvolvimento humano aos recursos hídricos? Nosso intuito é exatamente o de promover essa discussão.”