Terminou no dia 15/06 o Fórum Internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O evento, organizado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU, na sigla em inglês) em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e com a Unesco, entre outros, foi um dos encontros prévios à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, e teve uma Sessão-Diálogo de Alto Nível em seu último dia, que contou com personalidades do mundo da ciência e política de diversas partes do mundo.
Entre os representantes brasileiros figuravam o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp; a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Acadêmica, Helena Nader; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis; o presidente do CNPq e Acadêmico, Glaucius Oliva, entre outros. O presidente do ICSU, Yuan Tseh Lee, abriu o evento destacando a necessidade de “discussão, engajamento e colaboração”, em consonância com grande parte dos palestrantes, que sublinharam a importância de aproximar ainda mais a ciência da política e da sociedade.
O ministro de CT&I brasileiro começou sua intervenção afirmando que “só a ciência pode oferecer alternativas para ultrapassar as crises que possam aparecer”. E fez um resumo das principais conclusões ao longo dos cinco dias de debates, destacando, por exemplo, a necessidade de estabelecer ações que relacionem políticas de sustentabilidade com crescimento populacional e estrutura etária; a necessidade do avanço da CT&I no sentido de equacionar a redução de emissões de carbono dos processos e distribuir a produção, alterando o padrão de consumo; as evidências de que a crise ambiental atual foi criada pelo ser humano; o desafio de assegurar água e comida de qualidade para a população de nove bilhões que o mundo terá em 2050; políticas públicas para urbes sustentáveis; biodiversidade e serviços ecossistêmicos como pilares para a economia verde inclusiva e incorporação de conhecimentos tradicionais ao sistema de CT&I.
Papel da CT&I
Raupp também sublinhou o lançamento da plataforma Future Earth Research for Global Sustainability, “nova forma de organizar a pesquisa científica envolvendo pesquisadores, tomadores de decisão e usuários dos resultados do planejamento de projetos”. Segundo Raupp, somente com a colaboração da C&T se farão os ajustes que devem ser propostos tanto no âmbito da Rio+20 quanto nos desdobramentos desse encontro nos anos subsequentes. “CT&I são o que dão métrica e credibilidade a todas as esferas dos debates ambientais”, sentenciou o ministro.
O diretor-executivo do ICSU, Steven Wilson, informou que o Fórum contou com cerca de 500 participantes de 75 países e mais de 100 conferencistas, que discutiram temas como desastres e eventos naturais extremos, governança e energia, além dos citados por Raupp. E enumerou entre suas mensagens-chave o aumento da colaboração internacional e a intensificação do papel crítico da ciência, além da necessidade de maior engajamento político e social dos cientistas, aspecto ressaltado também por outros palestrantes.
Helena Nader sublinhou a importância da educação e afirmou que, para alcançar a sustentabilidade global, ela deveria ser priorizada, para, em seguida, apontar para C,T&I. Ruth Landenheim, vice-ministra de CT&I da Argentina, reforçou a ideia, dando como exemplo a feira Tecnópolis, megamostra de ciência, arte e tecnologia em Buenos Aires que atraiu em 2011 quatro milhões de visitantes, “um estímulo para a formação”.
A ex-presidente da Finlândia, Tarja Halonen, também ressaltou o papel da educação, especialmente nos níveis básicos e, além disso, apoiou a colaboração com detentores de conhecimento tradicional e indígena. A Finlândia está entre os países europeus que possivelmente ratificarão o Protocolo de Nagoya, já que nela existem importantes comunidades tradicionais.
Rio+20
Doug-Pil Min, embaixador de C&T da Coreia do Sul, e Jozsef Palinkas, presidente da Academia Húngara de Ciências, compararam as expectativas da Rio+20 com as discussões da Rio-92 e, apesar dos “argumentos repetidos” em alguns setores, há otimismo. “Nunca é tarde, ainda temos tempo para mudar”, acredita Palinkas. Físico de formação, ele sublinhou o “importante papel” das ciências sociais na conscientização da sociedade e governos a respeito do desenvolvimento sustentável.
Malegapuru Makgiba, vice-presidente do ICSU para temas de planejamento científico, observou que não se deve “repartir o conhecimento” e sim “fazê-lo convergir”, lembrando que ele está ligado também à identidade dos povos, enquanto Johan Rockström, co-presidente do Future Earth Transition Team, destacou que a geração atual de jovens cresce ouvindo falar de desenvolvimento sustentável. “Eles sabem que essa transição não só é necessária como também desejável”, conclui.