No dia 11 de junho, dois dias antes da abertura oficial da Rio+20, foi iniciado no Rio de Janeiro o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, um evento preparatório para a Conferência das Nações Unidas que o Brasil sedia.

O Fórum, que foi até 15 de junho no campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), reuniu cientistas de diversas áreas para debater assuntos que estão na agenda da Rio+20 sob a ótica de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).

No encontro, promovido pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU) em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (Unesco) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estiveram presentes cientistas brasileiros e estrangeiros.


Gretchen Kalongi, Yuan Lee, Marco Raupp, Carlos Minc,
padre Josafá, Jacob Palis e Jorge Spitalnik

Representantes de órgãos nacionais e internacionails compareceram à abertura e demonstraram preocupação, devido à necessidade de ações emergenciaisem busca de caminhos diferentes para um futuro melhor. Para o presidente do ICSU, Yuan T. Lee, a ciência e as políticas públicas precisam se unir muito mais do que antes, uma vez que “os governantes precisam entender que esse é o caminho para o desenvolvimento sustentável”, afirmou.

O debate realizado na PUC fornecerá subsídios para que haja avanços importantes nas decisões e documentos produzidos na Rio+20. O representante da Federação Mundial de Organizações de Engenharia (WFEO), Jorge Spitalnik, afirmou que é papel das engenharias encontrar soluções no caminho sustentável e “prover os políticos e a sociedade de informação confiável embasada na ciência e na tecnologia.”

Já o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis, destacou a necessidade de haver diálogo entre a ciência, a indústria, o parlamento e a sociedade em geral para se chegar ao caminho sustentável. Ao fim de seu discurso, Palis manifestou otimismo e desejou sorte aos participantes. “Boa sorte para nós, para que a luta continue depois do fórum e que esse debate sirva para iluminar os cientistas em torno do tema”, concluiu.

Todos os participantes da mesa de abertura ressaltaram que o momento atual é de urgência. Para a diretora-executiva do Conselho Internacional de Ciências Sociais, Heide Hackmann, na área das ciências sociais ocorre também um momento de inovação. Ela ressaltou a dificuldade das discussões que serão realizadas na Rio+20 e desejou que os debates fossem frutíferos para que, depois desse encontro, todos “possam compartilhar uma visão comum de futuro, visando erradicar a pobreza, as desigualdades sociais e seguir um caminho sustentável.”

A diretora geral assistente do setor de Ciências Naturais da Unesco, Gretchen Kalonji, ressaltou a importância do debate reunir múltiplos setores da sociedade, pois dessa maneira “é possível colocar ideias num espaço colaborativo, o que é essencial”, afirmou. Durante o Fórum, foram discutidos temas como o papel da mulher no desenvolvimento sustentável, o conhecimento indígena e o conhecimento científico.

O secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, que estava no evento representando o governo do Estado, lembrou que o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a assumir metas de redução de carbono. Já o reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos Teixeira, comentou sobre o valor para o meio acadêmico de receber um evento de tamanha importância como o fórum realizado na aquele.

Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, quando se fala em desenvolvimento sustentável é preciso pensar na tríade que compõe esse conceito: conservação ambiental, inclusão social e desenvolvimento. Ele reforçou a importância da contribuição que só a ciência pode trazer, uma vez que “sem conhecimento científico é muito difícil pensar a tríade do desenvolvimento sustentável”, concluiu o ministro.

Os passos até a Rio+20

Há 40 anos foi realizado o primeiro grande evento para discutir a intensificação de problemas ambientais: a Conferência de Estocolmo. Além da crescente poluição do ar e das águas, acidentes ambientais, como o que ocorreu na usina nuclear russa de Tcheliabinski em 1957 contaminando mais de 250 mil pessoas, impulsionaram a realização da conferência. A partir dessa reunião, a temática ambiental passou a fazer parte da agenda política internacional.

Vinte anos mais tarde, em 1992, quando foi realizada no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92), a preocupação dos 172 delegados e dos 108 chefes de Estado presentes era fazer um balanço dos avanços alcançados desde a última conferência, como também buscar entender os retrocessos em relação às degradações ambientais.

Durante o evento de 1992, foi consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável, proposto alguns anos antes pelo relatório “Nosso Futuro Comum”. O termo foi concebido pensando na interação dos pilares social, ambiental e econômico. Além disso, estabeleceram-se decisões importantes sobre mudança do clima, a conservação e recuperação das florestas, a relação do meio ambiente e do desenvolvimento, o combate à desertificação e a Agenda 21, que foi um documento instituído para que cada país se comprometesse a refletir local e globalmente, buscando soluções para problemas socioambientais.

A partir da Eco-92 se desdobraram muitas conferências, como a realizada em Quioto em 1997, quando foi adotado o Protocolo de Quioto, um tratado internacional com compromissos rígidos visando reduzir emissão dos gases que agravam o efeito estufa. Agora, duas décadas depois, será realizada, de 13 a 22 de junho, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. “O evento propõe uma reflexão sobre o futuro do planeta, os novos desafios e as ações adotadas pelos países desde 1992. Espera-se, principalmente, estabelecer diretrizes que orientem o desenvolvimento sustentável pelos próximos 20 anos”, afirmou Palis.

Os dois temas centrais definidos para a Rio+20 são a economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. É unânime a ideia de que os problemas socioambientais continuam, ou mesmo se agravaram, além de que cada vez mais temos consumido nosso planeta. A Conferência das Nações Unidas é o momento de traçar direções importantes para salvaguardar os direitos humanos. Diante da grandeza e importância desse momento, não há como não pensar que o futuro é hoje.