O navio oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), o Alpha Crucis, foi oficialmente inaugurado no dia 30 de junho, no Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini, em Santos, no litoral de São Paulo. Trata-se de uma parceria entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a USP. A proposta é dar continuidade às pesquisas científicas brasileiras, sob o comando do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade.

Participaram da inauguração o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o presidente da Fapesp e Acadêmico Celso Lafer, representantes da USP, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Paulo Alexandre Barbosa, e a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Acadêmica Helena Bonciani Nader.

Investimentos

Os investimentos no projeto somaram US$ 11 milhões. A maioria é recurso da Fapesp que desembolsou US$ 7 milhões da totalidade, por intermédio do Programa Equipamentos Multiusuários (EMU), uma das divisões do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa no Estado de São Paulo, mantido pela Fundação desde 1995.

Segundo informações da assessoria de imprensa da Fapesp, a instituição destinou US$ 4 milhões para compra da embarcação e mais US$ 3 milhões para reforma do navio que foi adequado às normas internacionais. Na reforma, a USP destinou US$ 4 milhões.

A iniciativa faz parte de um projeto para alavancar a capacidade de pesquisa submetido à Fapesp, por intermédio do Instituto Oceanográfico que será responsável pela gestão do uso e pela manutenção do navio. Na prática, o Alpha Crucis substituirá o navio Professor W. Besnard, usado de 1967 a 2008, quando ficou indisponível à pesquisa em decorrência de um incêndio.

Histórico

Construído em 1973 nos Estados Unidos, o navio prestou serviço à Universidade do Havaí por muitos anos, quando era conhecido como Moana Wave. Assim, o Alpha Crucis, nome da estrela que representa São Paulo na bandeira do Brasil, partiu de Seatle (EUA), em 29 de março e chegou ao Porto de Santos 45 dias depois.

Na opinião de Michel Mahiques, diretor do IO-USP, o navio é superior ao antecessor, o Professor W. Besnard, porque acomoda mais pesquisadores e oferece possibilidades de estudos mais detalhados sobre correntes marítimas. Por exemplo, o navio coletará dados de organismos, processos físicos, água e amostras do fundo do mar. Além disso, o equipamento possui quatro laboratórios, refeitórios, acomodações, uma enfermaria para emergências, estrutura necessária para viagens longas, fora guindastes e guinchos para pesquisas em alto-mar; e equipamentos capazes de mapear o leito e o subsolo oceânico.

Com 64 metros de comprimento por 11 metros de largura, a embarcação tem capacidade para levar 20 pessoas simultaneamente e deslocar 972 toneladas. Composto por dois motores e um sistema que permite mantê-lo parado em alto-mar, o Alpha Crucis permitirá viagens transoceânicas, o que representa um salto em relação a seu antecessor, o qual tinha apenas um motor e não podia distanciar-se muito da costa sem abastecer mais de 15 dias.

“O navio tem uma autonomia três ou quatro vezes maior que o antecessor. Isso nos permitirá ir mais longe e por mais tempo, ampliando os horizontes para áreas que, tradicionalmente, eram pesquisadas apenas por navios estrangeiros. O sistema de navegação é muito mais moderno. Além disso, os equipamentos permitem estudos físicos, químicos, biológicos e geológicos que não fazíamos com o Besnard”, explica o diretor do IO-USP, segundo informações do Portal G1.

Primeira viagem

A expectativa é de que a primeira viagem do Alpha Crucis seja realizada em julho, quando uma equipe de especialistas será responsável pela medição de correntes e de propriedades físicas e químicas da água do mar, na região entre Cananéia, no litoral de São Paulo, e Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro.

Custos operacionais

Uma das características pertinentes do Alpha Crucis é a possibilidade de redução de custos operacionais. Nos últimos quatro anos, as pesquisas brasileiras ficaram limitadas a alguns navios da Marinha e a navios privados, que custavam cerca de US$ 30 mil por dia, valores considerados elevados. Enquanto no Alpha Crucis, as operações custarão US$ 4 mil por dia.

Mahiques torce para que a redução dos custos operacionais desperte o interesse de outras instituições. “O Alpha Crucis é uma plataforma para desenvolvimentos em águas internacionais. Costumo dizer que o Brasil precisa de uns 8 ou 10 navios iguais a este. Faltam plataformas com essas características no País”, lamenta o diretor do IO-USP.

Já o reitor da USP, João Grandino Rodas, acredita que com esse navio será possível modernizar as equipes científicas e, devido aos seus modernos equipamentos e às suas instalações, os pesquisadores darão um passo à frente no que diz respeito a novas descobertas.

Segundo a Fapesp, o navio aumenta a competitividade da pesquisa oceanográfica brasileira e a capacidade de intercâmbio com equipes de pesquisadores de países que fazem pesquisa em alto-mar, no Atlântico Sul. O navio começa a operar no segundo semestre de 2012 e poderá ser utilizado por pesquisadores do Brasil e América Latina, em especial pelos cientistas do Programa Fapesp de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais e do Programa Biota-Fapesp.