Carlos Aragão, Eduardo Nakamura, Sandra Zanotto, Gilberto Câmara e Luiz Bevilacqua
A tecnologia da informação ocupa hoje um papel central no avanço do conhecimento. Esta foi a primeira conclusão extraída da sessão sobre “Tecnologia e Formação para o Desenvolvimento Sustentável”, que aconteceu no segundo dia da edição de 2012 da Reunião Magna da ABC. Coordenada pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Acadêmico Luiz Bevilacqua, a mesa teve apresentações do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara; do diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), Carlos Aragão; da pesquisadora da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) Sandra Zanotto; e do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Eduardo Nakamura.
Tecnologias para armazenar e gerenciar dados
Gilberto Câmara começou sua palestra falando da e-science, ciência tornada possível pelas tecnologias da informação (TI). “As TI estão por trás de todo o esforço da ciência multidisciplinar”, afirmou o palestrante. Ele apontou que, ao mesmo tempo que as TI são essenciais para as pesquisas relacionadas a mudanças globais, essas alterações também podem motivar novas pesquisas em tecnologia da informação, de modo que os dois aspectos necessitam um ao outro. O diretor do Inpe destacou a importância dessas tecnologias, sobretudo na gestão de grandes bancos de dados. Ele contou que os pesquisadores em geral tendem a pensar em armazenamento e gerenciamento de informações como algo “pessoal”, o que ameaça sua preservação.
Para isso, seria necessário popularizar cada vez mais o conceito de armazenamento em nuvem, de modo que as informações possam ser acessadas de qualquer plataforma e ainda tenham como ser compartilhadas. Além disso, Câmara alertou para o fato de que os cientistas tendem a cortar os gastos com preservação de dados na primeira oportunidade, o que seria uma grande ameaça às pesquisas. “Um dos grandes desafios para lidar com as mudanças ambientais globais e encontrar caminhos para o desenvolvimento sustentável da Terra é dispor de tecnologias para gerar, armazenar, recuperar e utilizar dados sobre nosso planeta”, resumiu.
Enzimas e nano-materiais para o desenvolvimento sustentável
Em seguida, o Acadêmico Carlos Aragão relatou os programas do CNPEM comprometidos com a promoção do desenvolvimento sustentável. “Nos últimos anos, o Centro ampliou muito o seu leque de atuação”, informou o físico. Entre suas ações, inclui-se o desenvolvimento de enzimas para fermentação e produção de biocombustíveis. “As enzimas tornam os bagaços de cana aproveitáveis, evitando a queima”, explicou. Outra iniciativa é relacionada a nanomateriais e ao aproveitamento de resíduos agrícolas que, nanoestruturados, transformam-se em borracha. “Da mesma forma, quando nanoestruturados, celulose e bagaço de cana convertem-se em polímeros e papel.” Aragão afirmou que essas novas tecnologias contribuem efetivamente para a preservação ambiental.
Outra ação de grande relevância é a formação de consórcios com empresas privadas nacionais e estrangeiras para transferência de tecnologia. “Um projeto de destaque é a produção e separação de proteínas para a indústria de fármacos”, salientou o Acadêmico. Ele apontou, ainda, que o CNPEM mantém laboratórios de uso público para realização de experimentos especiais. Um deles é o síncrotron – um acelerador de partículas em várias faixas de energia. Além disso, está sendo desenvolvida uma nova máquina, a “Sirius”, muito superior à atual, que permitirá a realização de tomografia 3D em escala nanométrica. Conforme informou o diretor do CNPEM, o Centro também promove a divulgação da ciência nas escolas de ensino fundamental e médio.
Conscientização no uso da água e na produção de castanhas na Amazônia
Membro Afiliado da ABC, Sandra Zanotto apresentou uma série de programas executados em localidades próximas a Manaus, que tinham como público-alvo professores e estudantes da rede pública de ensino fundamental e médio. Entre eles, o Projeto Jovem Cientista Amazônida, promovido pela FAPEAM, que promove o monitoramento da qualidade da água consumida pela população da terra indígena Marajaí: “Nosso objetivo é oferecer aos alunos noções básicas sobre a importância da manutenção dos recursos hídricos da região”, explicou Zanotto. Conforme foi analisado, a água dos dois poços artesianos do local tinha qualidade, mas os igarapés, que são usados pelas famílias para tomar banho, lavar roupa e outras atividades, apresentaram coliformes durante todas as épocas do ano.
Outro projeto promove uma investigação sobre a presença de aflatoxina na castanha coletada em Marajaí, de forma a conscientizar os alunos participantes do programa sobre os problemas econômicos e de saúde causados pela presença desta toxina no alimento. “Buscamos implantar novas estratégias para o manejo de coleta, secagem e armazenamento da castanha-do-Brasil e obtivemos melhoras na produção do fruto, fundamental para a geração de renda dessas populações”, contou Zanotto.
Ciência da computação e monitoramento de sapos
Já o Membro Afiliado Eduardo Nakamura, pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), mostrou alguns casos que envolvem computação e sustentabilidade. Assim, defendeu a interdisciplinaridade proporcionada pela convergência de disciplinas catalisada pela ciência da computação. Em um dos casos, foi realizado, na área da universidade, o monitoramento de anuros, considerados bioindicadores de estresse ecológico. “Quando há declínio na população, é porque há algo errado”, especificou Nakamura. Por meio da gravação do coaxar desses sapos, é possível estimar quantas e quais espécies estão presentes ou se há a presença de algum evento, como queimadas, por exemplo.
Ele também ressaltou o apoio da tecnologia da informação para as ciências da natureza, dando o exemplo do monitoramento de queimadas rasteiras não detectadas por radares, mas que provocam considerável destruição da vida na interface entre vegetação e solo. “O uso de sensores é instrumento essencial para o monitoramento”, comentou. O pesquisador também mencionou o desenvolvimento da computação verde, que é a fabricação de equipamento, dispositivos e sensores com material não poluente e com baixo consumo de energia.