A sessão sobre Economia Verde da Reunião Magna 2012 foi coordenada pelo Acadêmico Ricardo Paes e Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo, e contou com Britaldo Silveira Soares Filho, José Gustavo Féres e Ricardo Abramovay como palestrantes. Barros acredita que, apesar de a questão das desigualdades do país estar longe de ser solucionada, é importante equacionar a ideia de erradicação da pobreza com a de economia verde.

Ricardo Abramovay, José Féres, Britaldo Soares Filho e Ricardo Paes e Barros

A relação foi desenvolvida pelos demais integrantes da mesa. Abramovay, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), destacou que o planeta está caminhando para mudanças positivas, com a ecoeficiência e o crescimento da responsabilidade social corporativa, mas que nada disso vai adiantar “se não houver a incorporação da ética no coração das decisões econômicas”.

Ele alerta para os perigos do consumo desenfreado que vem marcando a era atual. Em 2020, prevê-se que cerca de cinco bilhões de pessoas estarão na faixa de renda considerada classe média e que, se o consumo continuar no ritmo atual, “as contas não fecharão”. De acordo com ele, apesar da ascensão de algumas classes, a desigualdade está se acentuando, principalmente nos países mais ricos, onde o 1% mais abastado concentra 24% da renda. Há trinta anos, os ricos concentravam 8% da renda. Ele também alerta para o gigantesco desperdício de alimentos (uma taxa de 40% em países desenvolvidos e 30% nos países em desenvolvimento). “Todos sabemos que precisamos frear, mas a economia verde está aí para compensar e trazer excelentes soluções e alternativas criativas”.

Por sua vez, Britaldo Silveira Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais, comparou o valor da Floresta Amazônica em pé com o valor do que seria a floresta devastada e concluiu que a ocupação agrícola teria menos lucro se ocupasse mais terras florestais. “As florestas têm mais valor em pé do que derrubadas. Quanto maior o desmatamento, mais cai a produtividade da soja, pois mudam-se os padrões climáticos”, exemplificou.

Ainda dentro do tema, o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Féres analisou se o advento da economia verde ameaça a política econômica tradicional. Ele lembrou o fenômeno de reprimarização na pauta da exportação brasileira. Trata-se da volta pela venda de commodities agrícolas, que hoje representam mais de 30% das exportações do país e cerca de 35% das da América Latina. Ele apresentou três cenários distintos na reconfiguração das exportações e mostrou que indústrias menos poluidoras têm mais chance de gerar mais empregos e mais massa salarial.

Outro aspecto abordado por ele foi a energia renovável, uma alternativa ao petróleo que gera segurança energética, renda e emprego no setor rural. Mas Féres levanta um possível problema: existe uma competição entre a área destinada aos biocombustíveis e a alimentos. “Aumentar a área da cana pode significar contribuir para o desmatamento da Amazônia e reduzir a oferta de comida, o que causaria pressão sobre o preço dos produtos”, alerta. Além disso, a atividade intensiva do uso da terra provoca perdas sobre a biodiversidade. No entanto, não existe uma evidência empírica precisa sobre o verdadeiro impacto causado pela produção de cana-de-açúcar e a relação conflituosa entre ambas as culturas. “Existe a necessidade de políticas de ordenamento de solo, tais como um monitoramento rigoroso das áreas de reservas legais e adoção ampla do zoneamento ecológico-econômico”, conclui.