O matemático Efim Zelmanov, ganhador da medalha Fields de 1994 (o Nobel da matemática), ministrou a conferência “Matemática e Sociedade” no primeiro dia da Reunião Magna 2012 da Academia Brasileira de Ciências (ABC), sete de maio. Abordando perguntas quase filosóficas, Zelmanov iniciou sua palestra levantando a seguinte questão: “Afinal, o que é a matemática, ciência ou arte?”
Segundo ele, a área tem dois lados, estando um atrelado ao progresso tecnológico, principalmente no campo da aeronáutica, raio-x e telecomunicações. “Já o outro é simplesmente a prova matemática, aquela que nas ciências experimentais é alcançada a partir de um critério de verdade”, observou. Para o pesquisador, o mais impressionante é que em 2000 anos muito pouco mudou. “Ainda reconhecemos as constatações de Euclides (século III A.C., conhecido como o pai da geometria) como sendo provas”.
Zelmanov prosseguiu dizendo que a arte da matemática é a mais elitista de todas, pois são poucas as pessoas que conseguem entender e se divertir com essa “obra-prima”. Ao mesmo tempo, de acordo com ele, é um dos setores que mais recebem investimentos. “Nos Estados Unidos, ela não somente é apoiada pelo Fundo Nacional para as Artes como também pela Fundação Nacional Científica, indústria, área militar etc.”, observa.
Para ele, um cientista precisa se sentir livre para criar e seguir o que considera útil e importante, que é como a matemática aflora. Mesmo mantendo esse comportamento, diferentes pesquisadores em várias partes do mundo pensam como uma “mente única”. “Isso é o mais engraçado da área porque eles atendem a uma linguagem universal, quase sempre chegando às mesmas conclusões”.
O século XX
Neste período, renomados cientistas trouxeram algumas revoluções, sendo uma delas a abstração, que se tornou uma parte importante da matemática. “Alguns conceitos foram criados, mas eles pareciam estar completamente separados da realidade”, explicou o pesquisador. Segundo ele, a época representou a separação artificial da chamada matemática pura e a aplicada.
O grupo de estudiosos cresceu em grande velocidade por todo o mundo, bem como os nichos de trabalho. Zelmanov explica que diversas pequenas áreas foram surgindo e que cada uma delas podia preencher uma vida inteira com árdua pesquisa. Posteriormente, a matemática abstrata desenvolveu sua própria linguagem: os axiomas, que, por sua vez, são pontos de partida em um sistema lógico. “Posso dizer que esse foi um dos marcos da matemática moderna, quando, milagrosamente, a maior abstração de todas acabou se tornando a mais aplicada”.