O Membro Afiliado de São Paulo Cristiano Monteiro de Barros Cordeiro nasceu em Ribeirão Preto, em 1973, ano em que seu pai fazia doutorado em Farmacologia e a mãe, graduação em medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. “Após morar dois anos em Fortaleza e quatro em Brasília, nos mudamos para o Rio de Janeiro onde cheguei com 7 anos”. No Rio, permaneceu até o final do mestrado, quando, então, se mudou para Campinas. “Na realidade, me considero carioca”, conta.

Professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) desde 2008, Cordeiro é bacharel e mestre em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996/1998-PUC-RJ) e doutor na área pela UNICAMP (2003). Seu pós-doutorado foi realizado nas áreas de fibras de cristal fotônico e fibras ópticas micro-estruturadas na Universidade de Bath, Inglaterra.

O pesquisador sempre gostou de brincadeiras ao ar livre quando pequeno. Durante a infância e juventude, costumava ir muito à praia. “Acampávamos em Cabo Frio e tínhamos casa de praia em Arraial do Cabo e em Ilha Grande”. Como aluno, sempre demonstrou maior interesse pelas matérias de exatas. Para ele, sua principal influência foi o pai, o Acadêmico Renato Sérgio Balão Cordeiro, pesquisador da área de Farmacologia da Fiocruz. “Por interesse próprio, e por vivenciar o ambiente acadêmico desde a infância, sempre pensei em seguir a carreira acadêmica, com inclinação primordial para ciências exatas”, explica.

Cordeiro ressalta que o encanto pela carreira se solidificou quando, aos quinze anos, conheceu o Instituto Pasteur, em Paris, e, aos dezessete, visitou e conversou com alguns pesquisadores de diversas áreas, em especial física, química e biologia. “No último ano antes do vestibular, amadureci minha decisão. Ainda em dúvida em relação ao curso de física ou engenharia, prestei vestibular para a UFRJ e PUC-Rio. Passei nos dois, mas, por diversas razões, optei por Física na PUC”.

Durante a graduação, o físico fez duas iniciações científicas em diferentes áreas. Na segunda, adentrou no campo da óptica, com a qual se especializou e trabalha até hoje. “O ambiente na PUC fez surgir laços pessoais e colaborações profissionais que perduram até hoje”, diz. Foi no ano de 1998, durante uma visita à USP, que Cordeiro conheceu a Profª Lucila Cescato e decidiu fazer doutorado no Laboratório de Óptica Difrativa, orientado por ela, no Instituto de Física da UNICAMP. No início de 1999, se mudou para Campinas com a namorada, atual esposa e uma das ganhadoras do Prêmio 2011 Loreal-ABC-Unesco Para Mulheres na Ciência, a pesquisadora Ana Luiza C. Pereira. “Enquanto eu fazia o doutorado, ela realizada o mestrado também no instituto”, conta.

Durante o curso, o físico decidiu realizar um estudo mais fundamental de fotorresinas, um material fotossensível utilizado pelo grupo para a gravação de estruturas difrativas. Durante o doutorado, Cordeiro idealizou e organizou, junto com outros dois colegas, uma Escola de óptica aplicada de abrangência nacional, a I Escola Sérgio Porto de Óptica Aplicada, que ocorreu no final de 2002.

Ao terminar o doutorado, o pesquisador resolveu mudar um pouco o campo específico de pesquisa, continuando, entretanto, dentro da área de óptica e fotônica. A decisão veio durante o ano de 2002, quando pode conhecer o campo multidisciplinar relacionado às fibras de cristal fotônico. “Durante uma conferência na área que participei naquele ano, assisti à plenária do Prof. Philip Russell, da Universidade de Bath, o inventor das tais fibras de cristal fotônico, que são fibras ópticas microestruturadas”, explica. Naquele momento, o Acadêmico havia descoberto sua linha de pesquisa para o pós-doutorado.

De acordo com Cordeiro, a estrutura de fibras ópticas convencionais permite a comunicação óptica já conhecida no mundo científico e, também, se aplica ao sensoriamento de algumas grandezas de temperatura. “Tenho estudado novos tipos de fibras, tentando descobrir novas propriedades e aplicações”, diz. Micro e nanofibras ópticas possuem um diâmetro externo que pode ser tão pequeno quanto 200 nanometros, aproximadamente 500 vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. “Tento propor novas fibras especiais, produzindo tais estruturas, além de modelar numericamente suas propriedades ópticas, caracterizá-las e utilizá-las de diferentes maneiras”.

Como as propriedades ópticas da fibra dependem fortemente da microestrutura, o físico conta que as principais características ópticas podem ser ajustadas com grande liberdade e de maneira independente do material que constitui a fibra. “A presença da microestrutura permite, por exemplo, utilizá-la para medidas à distância de gases potencialmente perigosos. Ou, devido ao caráter isolante do material de que a fibra é feita, utilizar a mesma para medidas em linhas de alta tensão”, ressalta.

Além da área de sensoriamento, as novas estruturas podem servir para a produção de dispositivos ópticos que controlam o fluxo de dados que é transmitido pela fibra, ou, na área de óptica não-linear, podem ser criadas novas cores pela fibra ao ser iluminada por um laser apropriado.

Para Cordeiro, formular uma hipótese para explicar algum resultado experimental, realizar testes para provar tal hipótese e, eventualmente, achar a resposta correta são fatores que o encantam. “Considero o método científico extremamente poderoso. Na minha área, o que me atrai é o caráter multidisciplinar que traz a possibilidade de interagir e colaborar com pesquisadores de diversas disciplinas e a beleza visual dos efeitos que vemos no dia a dia no laboratório”.

Em sua opinião, curiosidade, persistência e paixão pelo trabalho são características que não podem faltar a um cientista. “Aconselho a um jovem que quer seguir carreira a visitar laboratórios de pesquisa, conversar com pesquisadores e fazer estágios de iniciação científica”. Por fim, o Acadêmico considera uma grande honra pertencer aos quadros da ABC. “Pretendo contribuir interagindo com demais membros da Academia, em eventos, comissões, e o que for necessário”.