O gosto do gaúcho Leandro Helgueira de Andrade por química não é de hoje. No colégio, esta era a matéria preferida do novo Membro Afiliado da ABC, juntamente com biologia. “Foi meu professor de ciências da oitava série e os experimentos que costumávamos fazer no laboratório que despertaram meu interesse pela disciplina”, recorda o jovem cientista, que é professor doutor da Universidade de São Paulo (USP) desde 2005.

Atualmente com 35 anos, ele lembra também de ter passado uma infância tranquila, durante uma época em que seus pais trabalhavam em uma loja de materiais de construção. O pesquisador tem outros dois irmãos, sendo que o mais velho já cursava física quando Andrade começou a licenciatura plena em química, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 1993.

Após receber o resultado de uma prova de química orgânica, no terceiro período da faculdade, Andrade foi convidado pelo professor da disciplina para estudar em seu laboratório. Assim, deu início à iniciação científica nesse campo de estudo e gostou tanto que prosseguiu com o mestrado no mesmo tema, com ênfase em síntese orgânica, também na UFSM.

Em 2002, o pesquisador completou o doutorado na mesma universidade e, ainda neste ano, começou um estágio de pós-doutorado na USP. Tanto no mestrado quanto no doutorado, Andrade foi orientado pelo professor Antonio L. Braga, a quem é grato pela dedicação: “A sua orientação foi muito importante para minha formação acadêmica e pessoal”. Em 2003, o cientista e seu colega e amigo André Porto receberam apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através do programa Jovens Pesquisadores, para desenvolver atividades de pesquisa em biocatálise no Instituto de Química da USP.

Seu trabalho de pesquisa atual consiste em desenvolver atividades com ênfase em biocatálise aplicada à síntese orgânica. “Usamos catalisadores naturais (enzimas) para produzir compostos químicos sintéticos, o que considero bastante atraente na minha área, pois é um processo com grande importância ambiental e econômica”, comenta Andrade. Ele explica que uma das soluções para minimizar a produção de rejeitos químicos pelas indústrias é a incorporação de novas tecnologias com preocupação ambiental.

Uma ferramenta interessante para tal propósito é justamente a aplicação da biocatálise em processos químicos. “Estes processos podem ser realizados com enzimas isoladas ou microrganismos produtores das enzimas de interesse”, informa. “As enzimas são biodegradáveis e atuam cataliticamente nas transformações químicas de compostos orgânicos. Nosso interesse nesta área consiste em aplicar a biocatálise em reações químicas clássicas para a preparação de compostos químicos”.

Segundo Andrade, essas enzimas são provenientes de organismos naturais, como os de origem marinha, os microorganismos que se formam no solo ou aqueles oriundos da decomposição de biomassa. O pesquisador revela que também as utiliza para preparar compostos quirais contendo hetero-elementos derivados de silício, estanho, selênio e compostos de boro. Nesse caso, o objetivo é transformá-los em moléculas orgânicas mais complexas. Ele informa ainda que, nessas metodologias catalíticas desenvolvidas, a preferência é utilizar reações químicas com um solvente aquoso no lugar dos tradicionais, como os derivados de petróleo.

Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq em nível 2, Andrade é revisor de diversos periódicos, entre eles “Química Nova”, “Journal of the Brazilian Chemical Society” e “Tetrahedron Asymmetry”. Em 2011, recebeu o prêmio Hans Viertier para Jovens Cientistas, concedido pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), onde atualmente dirige a Divisão de Química Orgânica. Além disso, o pesquisador já orientou e supervisou seis alunos de mestrado, quatro de doutorado e 17 de iniciação científica (IC). No momento, está orientando quatro teses de doutorado e outros quatro trabalhos de IC.

Andrade já participou da organização uma série de eventos, como a “Escola de Verão em Química Verde” nos anos de 2007, 2008 e 2009, o “12th BMOS – Brazilian Meeting on Organic Synthesis”, em 2007, e o “IV Workshop de Biocatálise e Biotransformação”, em 2008. O químico também já participou de mais de 30 eventos, entre eles o simpósio “Ciência Tecnologia e Inovação: Visões da Jovem Academia”, realizado na sede da ABC em setembro de 2011, que reuniu pela primeira vez os Membros Afiliados. Na ocasião, Andrade atuou como debatedor na primeira mesa do simpósio, que teve o tema “Critérios de avaliação acadêmica”.

Para o químico, o aspecto encantador de que a ciência dispõe é o fato dela nos possibilitar a compreensão de inúmeros fenômenos. No entanto, ele afirma que, para ser cientista, são imprescindíveis características como ética, dedicação, curiosidade e ousadia. “Um jovem que está interessado pela carreira científica deve ler e compreender a atuação de cada profissional ligado diretamente à ciência; após escolhida sua profissão, deve utilizar sua criatividade para aumentar o conhecimento daquele assunto escolhido”, aconselha o pesquisador. “Não adianta optar por uma profissão tendo como objetivo principal um salário alto”.

Leandro Andrade considera que o título de Membro Afiliado da ABC representa um excelente reconhecimento aos vários anos que vem dedicando ao desenvolvimento da ciência brasileira. “Em muitos momentos da vida, esta foi a minha prioridade”, declara o jovem cientista. Ele afirma que não espera ter nenhum tipo de benefício com a designação: “Nunca faço algo para ganhar vantagens. Tenho apenas a expectativa de contribuir com o meu trabalho”.

O professor acredita que, como Membro Afiliado, ele pode colaborar muito no sentido de divulgar a ABC e estimular a discussão sobre a ciência brasileira com cientistas iniciantes. “Além disso, estou planejando algumas atividades para o futuro nas quais pretendo envolver a Academia”, revela o talentoso químico.