A sessão de Ciências da Saúde, realizada durante o evento “Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe 2011”, na sede da ABC, no dia 1/12, teve como coordenador o Acadêmico Mauricio Lima Barreto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e contou com a participação dos Acadêmicos José Eduardo Krieger, da Universidade de São Paulo (USP), Maria Inês Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Pedro Rodrigues Curi Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Área conta com mais recursos e tecnologias

O primeiro palestrante, Mauricio Barreto, cuja palestra tratava sobre “Investigação de base populacional em Saúde – alguns exemplos no Brasil”, se formou médico e mestre em Saúde Comunitária pela UFBA, onde, atualmente, é professor em Epidemiologia. Posteriormente, obteve seu título de PhD em Epidemiologia pela Universidade de Londres.

Segundo os dados apresentados por ele, as pesquisas em saúde no Brasil vêm aumentando consideravelmente e passam por um processo de integração com outras áreas. “Os fatores associados à saúde são, na maioria das vezes, dados complexos distribuídos em vários níveis que estão relacionados à incidência de fenômenos, como doenças e outros assuntos de saúde pública”, explica. O Acadêmico afirma que as Ciências da Saúde têm sido influenciadas, principalmente, por questões biológicas e sociais, que estão intimamente ligadas aos perfis de cada sociedade.

Para o Acadêmico, são inúmeros os fatores que contribuem para o avanço da área, estando, entre eles, a maior disponibilidade de recursos e de tecnologias de investigação. “Este último ponto é fundamental, pois a tecnologia é que está proporcionando novas oportunidades de integração entre a pesquisa básica e a de dimensão populacional”.

De acordo com Barreto, a área tem a perspectiva de gerar uma nova gama de conhecimento nos próximos anos, que não só ajudaria a entender os mecanismos e determinantes das condições de saúde da população, como também contribuiria para a elaboração de novas políticas públicas e tecnologias mais aprimoradas, capazes de amenizar diversos problemas. “Atualmente, temos uma sociedade mais consciente. A investigação feita em laboratório não é mais alheia às pessoas que vão usufruir desses estudos e que, acima de tudo, os financiam”.

Vantagens da população brasileira

“Biomarcadores na população brasileira para identificar e estratificar o risco de doenças cardiovasculares” foi o tema da palestra do Acadêmico José Eduardo Krieger. Formado pela Faculdade de Medicina da USP e PhD em Biologia Molecular pela Harvard Medical School e pela Stanford University School of Medicine, ele é professor de Medicina Molecular e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor da USP.

Krieger mostrou como é feita a integração das plataformas de estudos longitudinais, que estudam variações e fatores ao longo do tempo, e a utilização simultânea de ferramentas genéticas que contribuem para a realização desses estudos. “Sabemos hoje que as chamadas doenças crônicas ocorrem após várias décadas de vida e, atualmente, estamos voltados para a questão da heterogeneidade da população brasileira e qual a relação disso com a suscetibilidade à doença”.

O Acadêmico afirma que há carência de ferramentas que antecipem eventos, as quais trariam uma racionalização – inexistente nos dias de hoje – para o sistema. “A principal mensagem que queremos deixar é uma chamada para o começo da construção da medicina preditiva”, declara. Para ele, as Ciências da Saúde no Brasil podem contribuir para a produção de conhecimento mundial e, ao mesmo tempo, tirar vantagem de características locais, como é o caso da heterogeneidade. “É preciso saber aproveitar as oportunidades obtidas com os estudos, visando utilidades universais, mas com particularidades nossas”.

O ELSA-Brasil

Graduada em Medicina pela Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre (1973), Maria Inês Schmidt é mestre e PhD em Epidemiologia pela Universidade da Carolina do Norte (EUA). Atualmente professora da UFRGS, Schmidt mostrou como é possível montar um laboratório de investigação populacional dentro de sua área de atuação. “Em nosso trabalho, acompanhamos pessoas ao longo do tempo e, a partir das informações desses indivíduos, é possível construir um laboratório interdisciplinar, que analisa desde dados moleculares até fatores sociais”, diz.

A pesquisadora desenvolve um estudo chamado ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), voltado para a pesquisa das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que visa traçar a evolução de determinadas doenças com base nos dados que já foram coletados. “O conhecimento brasileiro nesse campo avançou bastante, o que nos faz acreditar em um cenário positivo para os próximos cinco a sete anos”, revela.

A Acadêmica conta que 80% dos óbitos por DCNT ocorrem em países de baixa ou média renda e, mesmo assim, as políticas públicas são baseadas em dados do hemisfério norte. O ELSA tem por objetivo subsidiar tais políticas com dados da população brasileira. “Além disso, uma das metas é promover a investigação das doenças crônicas aqui e em outros países da América Latina”.

Investimentos a longo prazo

O Membro Afiliado Pedro Hallal se graduou em Educação Física (2000) e realizou mestrado e doutorado em Epidemiologia pela UFPel. Tendo realizado pós-doutorado no Instituto de Saúde da Criança da Universidade de Londres, o Acadêmico atua como docente da UFPel nos cursos de Educação Física e Epidemiologia, além de ser consultor técnico do Ministério da Saúde na área de atividade física e saúde. Em sua palestra, Hallal falou sobre as “Coortes de nascimentos de Pelotas: 30 anos de acompanhamento e produção de conhecimento”.

Os estudos começaram em 1982, ano da primeira coorte, e vêm acompanhando a vida das pessoas envolvidas desde o nascimento até a senioridade. “A segunda foi realizada em 1993 e a terceira em 2004. Como são espaços de onze em onze anos, a próxima será em 2015”, conta o pesquisador. Segundo ele, os estudos são avaliações globais de saúde, que mapeiam primeiramente as gestantes e, posteriormente, a evolução da saúde das crianças até sua fase adulta.

Para Hallal, pesquisas dessa natureza são extremamente importantes para o Brasil. “Geralmente, a pesquisa em saúde no país visa um investimento a curto prazo, o que envolve estudos de dois a três anos, ou até menos”, informa. Contudo, algumas hipóteses de pesquisa só podem ser verificadas em estudos mais longos. “Futuramente, pode ser que surja a hipótese na literatura acadêmica que crianças que foram devidamente amamentadas durante os primeiros anos de vida têm menos chances de apresentar esquizofrenia na fase adulta. Isso só é possível de afirmar se houver um acompanhamento desde o início”.