Tércio Ambrizzi, Luiz Drude, Eduardo Nakamura e Rodrigo da Silva

A sessão das Ciências da Terra, coordenada pelos Acadêmicos Luiz Drude de Lacerda e Paulo Eduardo Artaxo Netto, abriu o evento “Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe”, realizado na sede da ABC entre 30/11 e 2/12. Lacerda é professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), além de coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente-Oceano. Artaxo é professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), onde trabalha com física aplicada a problemas ambientais, atuando principalmente nas questões de mudanças climáticas globais, meio ambiente na Amazônia, entre outros.

O presidente Jacob Palis iniciou o dia de atividades, agradecendo a presença de todos e disse que era “uma grande honra poder anunciar a sexta edição do Avanços”. Segundo ele, o evento contribui enormemente para a troca de experiências entre os países envolvidos e propicia um enriquecimento para todos os participantes.

Redes de sensores para a prevenção de distúrbios ecológicos

Eduardo Freire Nakamura é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), com mestrado e doutorado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Vencedor do Grande Prêmio Capes de Teses de 2008, com a melhor tese de doutorado em Ciências Exatas e da Terra e Engenharias do Brasil, é professor da Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), atuando nos cursos de graduação em Ciência da Computação, Engenharia da Computação e Sistemas de Informação destas instituições e no Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI) da UFAM.

O Acadêmico, eleito membro Afiliado da ABC em 2010 para o período de 2011 a 2015, abordou o trabalho de seu grupo de pesquisa sobre redes de sensores sem fios aplicadas na preservação ambiental, principalmente da região Amazônica. Nakamura destacou as três principais aplicações das redes de sensores. A primeira seria o monitoramento de sapos a fim de detectar algum distúrbio ecológico em estágio inicial no meio ambiente. “A segunda é uma tentativa de rastreamento de um macaco da região, o sauim de coleira, fortemente ameaçado de extinção. Queremos entender como ele ocupa e interage com o ambiente, a fim de preservar a espécie”, explica.

A terceira utilidade da tecnologia é ajudar a detectar o início de incêndios florestais. O pesquisador afirma que o monitoramento de incêndios via satélite, na maioria das vezes, só os localiza quando as proporções atingidas são muito grandes, sendo possível ver do espaço a amplitude da devastação. “As redes de sensores detectam chamas ainda pequenas, o que facilita o controle e consegue salvar os 40% de bioma local que teriam sido destruídos”, diz. Por fim, Nakamura ressalta a importância da técnica, pois, além de notificar um incêndio, as redes também anunciam onde ele está ocorrendo. “Aperfeiçoando a capacidade desses sensores, poderemos, futuramente, alertar e enviar brigadas de incêndio ao local”.

Abrindo portas para os futuros cientistas

O Acadêmico Rodrigo da Silva possui licenciatura plena, mestrado e doutorado em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM ), tendo realizado o doutorado em cooperação com a State University of New York (SUNY). Em 2005, mudou-se do Sul para a Amazônia, onde iniciou a coordenação técnico-científica dos sítios experimentais do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) e do Setor de Treinamento e Educação do LBA, em Santarém. Em 2006, tornou-se professor adjunto da Universidade Federal do Pará (UFPA) e, em 2009, assumiu a coordenação regional do Programa LBA, coordenando o escritório regional do programa e administrando toda a infraestrutura de pesquisa. Em 2010, recebeu a indicação do Acadêmico Paulo Eduardo Artaxo Netto e tornou-se membro do Comitê Científico Internacional do LBA (SSC). No mesmo ano, assumiu a direção da pós-graduação da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e, atualmente, trabalha com a física do clima amazonense e sua relação com as mudanças do uso da terra e as mudanças climáticas globais.

Silva palestrou sobre a “Micrometeorologia e o meio-ambiente”, uma área das Ciências Físicas voltada para a física atmosférica. Dentro do contexto do Programa LBA, coordenado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I), o Acadêmico procurou mostrar os avanços no conhecimento das interações que existem entre a atmosfera e a Amazônia. “A região possui, atualmente, em torno de 25 milhões de habitantes. Um vasto território com duas metrópoles principais, que são Belém e Manaus. Nos últimos dez anos aconteceu um avanço tecnológico enorme na área, o que beneficiou diretamente a população local”, diz Silva.

Segundo ele, como a região amazônica é um foco de atenção global, se torna ainda mais importante investir em um esforço coletivo para melhor explicar seu funcionamento, num esforço de preservação e cuidado. Silva afirma que todo o saber gerado deve ser repassado aos habitantes locais, pois “são eles que moram ali e que melhor entendem a respiração e as funções vitais do bioma”. “Nossos estudos visam, também, qualificar recursos humanos da região para que eles sejam os futuros cientistas, sem precisar importar pesquisadores de outras regiões do Brasil”, acrescenta.

De olho no futuro

Tércio Ambrizzi, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), abordou o painel brasileiro de mudanças climáticas. Ele concluiu o doutorado (1993) em Meteorologia pela Universidade de Reading, na Inglaterra, e, atualmente, é diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e professor titular no mesmo instituto.

O pesquisador contextualizou o atual cenário do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), destacando projetos brasileiros que estudam as transformações que estão ocorrendo com o clima. “Já existem estimativas sobre os futuros níveis de precipitação e mudanças de temperatura, principalmente para o nosso país”, alerta Ambrizzi. Segundo ele, ao longo dos últimos trinta anos tem ocorrido mais eventos extremos, muitos deles em grandes cidades. “Devemos atentar para a emissão de gases do efeito estufa e para o nosso ritmo de produção, pois se continuarmos neste patamar, a tendência é que a aceleração do aquecimento também continue.”

Ambrizzi referiu-se ainda a um relatório que será lançado no início de 2012 e distribuído durante a Rio+20, com data prevista para junho. De acordo com ele, o documento trata de questões de mitigação e adaptação, tendo em vista que muitas cidades já enfrentam condições climáticas modificadas, gerando impacto na produção de alimentos e outros setores. “Trabalhar com modelos que nos mostram como pode ser o futuro próximo é surpreendente. Mais importante ainda é estimular uma preocupação ambiental que só vai beneficiar a população, pois estamos tentando minimizar impactos econômicos e sociais que estão por vir”.

Veja a seguir o vídeo com alguns trechos do debate sobre Ciências da Terra: