“A inovação não se resume a uma cadeira bonitinha, chinelos de borracha de pneu, bicicletas dobráveis e semelhantes; é possível fazer muito mais”. Foi o que defendeu Tim McAloone, do Departamento de Engenharia da Universidade Técnica da Dinamarca, na palestra “Eco-inovação na cadeia de valor: o papel da engenharia”, durante a 1a Conferência USP de Engenharia, realizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
O palestrante falou sobre a implementação de estratégias de design sustentável a partir da proposta de quatro áreas de foco: o conceito de “ciclo de vida”, a proteção ambiental, a sustentabilidade na cadeia de valor e a sustentabilidade como um motor de inovação. Ele mencionou o fato de a Dinamarca, um país com 5,5 milhões de habitantes, estar conseguindo fazer uma inovação baseada em sustentabilidade.
Um exemplo disso é a criação de luzes de bicicleta alimentadas de forma magnética, com ímãs nas rodas. “Eliminamos as pilhas e baterias, e as pessoas nunca ficam sem suas luzes, que são exigidas por lei”, afirmou. “É uma tecnologia de engenharia muito forte.” É importante ressaltar que, na Dinamarca, a bicicleta é muito utilizada – em Copenhagen, 35% das pessoas as usam para ir ao trabalho, enquanto 40% usam o transporte público.
Professor do Setor de Engenharia de Design & Desenvolvimento de Produtos de sua universidade, McAloone também declarou que 15% da energia gasta no mundo é de bombas – óleo, água etc. “Se construirmos uma tecnologia de bombeamento mais eficiente, a redução de gastos de energia seria brutal e faria muita diferença. 1% de toda a energia utilizada no mundo já é uma economia fantástica”, alegou, dizendo que esta é uma oportunidade que todo engenheiro tem para ter impacto na sociedade.
McAloone fez uma provocação, afirmando que as discussões sobre o aquecimento global estão ultrapassadas: “No fórum de sustentabilidade realizado em Copenhagen, em 2009, todos ficaram cansados de falar sobre assuntos como o efeito estufa. As pessoas já entendem bem de mudança climática”. Ele disse que, no entanto, ainda que existam aqueles que não acreditam nas alterações no clima mundial e na questão de a mesma ser induzida pelos seres humanos, existem fatos que não podem ser negados, como o esgotamento dos recursos, as pandemias climáticas induzidas, o excesso de população, a desigualdade e os refugiados do clima. “São acontecimentos que veremos tornando-se mais intensos nos próximos anos”, alertou.
McAloone citou uma pesquisa feita em 1999 que afirmava que, se continuarmos produzindo a mesma quantidade de CO2, precisaremos de 8,5 planetas para absorver todo esse gás carbônico. Além disso, serão necessários 3,5 planetas para suprir o consumo de madeira e de cimento. “Mas ainda não encontramos outros planetas para resolver esses problemas”, declarou, com ironia.
Em seguida, ele apresentou dados referentes à emissão de CO2 de cada país. O Catar é o maior emissor de gás carbônico, com uma taxa de 55,4 toneladas de CO2 per capita por ano. Os Estados Unidos vêm em segundo, com uma taxa de 18,1, e o Brasil está em 124º, com 1,9 toneladas. “A escala no Brasil é bem diferente, mas como manter essa emissão baixa?”, indagou o professor ao apontar que, entre 1991 e 2007, a emissão de CO2 brasileira aumentou, enquanto a de diversos países diminuiu. “Somos parte do problema, mas também parte da solução”.
Seguindo a mesma linha, ele informou que, nos Estados Unidos, há 8,3 carros por 10 habitantes enquanto, no Brasil, essa taxa é de 1,5 e na Índia, de 0,1. “No entanto, a tendência é que essa quantidade só aumente nesses dois países, a menos que façamos algo radical”, ressaltou.
“Esses são números negativos e preocupantes sobre sustentabilidade e mudanças climáticas, mas também há pontos positivos dos quais podemos falar. É possível fazer tecnologias climáticas inteligentes e inovação impulsionada por sustentabilidade”, afirmou McAloone. Ele lembrou que muitas empresas estão tendo iniciativa para contra-atacar os problemas mencionados. “Temos que pensar na sustentabilidade como uma forma de inovação”.
Em seguida, o palestrante focou a sua apresentação na questão do ecodesign. Ele mostrou como foi organizado o curso de Design na Dinamarca (design no sentido de “processos” e não de desenho), além de os processos pedagógicos utilizados (focados em atividades práticas locais e em empresas) e o estudo do “processo de desenvolvimento” de um produto, considerando toda a cadeia, até o descarte. McAloone também falou sobre o consumismo como o “gosto de ter a propriedade das coisas”. “Precisamos nos afastar desse consumismo e chegar a uma satisfação”.