“Não estamos enxergando o futuro!”, alertou o físico Sérgio Mascarenhas durante palestra sobre Engenharia de Sistemas Complexos, realizada no final de outubro, em São Paulo. Mascarenhas, que atualmente coordena projetos do Instituto de Estudos Avançados da USP São Carlos, apresentou uma proposta mobilizadora de criação de uma rede de pós-graduação para formação de doutores e pós-doutores em Sistemas Complexos no país, por acreditar que o Brasil está atrasado nos estudos desse tipo de engenharia.
 
A palestra fez parte da programação da 1a Conferência USP de Engenharia, organizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). O objetivo do evento foi discutir assuntos relacionados à inovação, sustentabilidade e regulamentação em engenharia.
 
A proposta do cientista é criar e gerenciar uma rede multidisciplinar de pós-graduação em Engenharia de Sistemas Complexos, com previsão de que, em 2022, já se possa ter pós-doutores formados nessa área. Para Mascarenhas, não seria possível abrir um curso de graduação em Sistemas Complexos porque ainda não há professores capacitados suficientes para ensinar. Ele já apresentou a proposta para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação, e sugeriu que, além de instituições de ensino e de pesquisa, a rede conte também com empresas privadas.
 
Pioneiro em novidades
 
Não é a primeira vez que Mascarenhas tenta inserir de forma pioneira novidades científicas nos ensino superior brasileiro. Em 1971, o cientista, então reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), propôs a criação do primeiro curso de Engenharia de Materiais no Brasil. Na época, poucas pessoas o apoiaram, pois não havia informação suficiente para responder o porquê de mais uma área na Engenharia.
 
Atualmente, a Egenharia de Sistemas Complexos aparece como uma interrogação, assim como foi a Engenharia de Materiais há 40 anos. “Minha proposta é levantar esse problema mais como um alerta, um desejo de mostrar um risco de um tsunami que podemos sofrer por falta de previsão de futuro”, disse o pesquisador.
 
A complexidade da Engenharia de Sistemas Complexos
 
Mascarenhas afirmou que “se atreve” a falar sobre o assunto, já que não é um especialista na área. Ele explicou que os Sistemas Complexos são sistemas que não possuem uma autoridade centralizadora e não são desenhados a partir de uma especificação única e conhecida, mas, pelo contrário, envolvem múltiplos atores que se relacionam mesmo que indiretamente. Trata-se da gestão de sistemas composto por outros sistemas em uma rede complexa de relações. “Internet é o maior exemplo de sistemas de sistema, pois nela existe desde pornografia a sites como Wikileaks“, disse o físico.
 
A Engenharia de Sistemas Complexos foi criada nos Estados Unidos para ser aplicada em guerras. Atualmente, ela é necessária para inúmeras áreas. “Sistemas Complexos não envolvem só engenharia, envolvem educação, economia, parte social, humanística”, afirmou Mascarenhas. No Brasil, o sistema pode ser aplicado, por exemplo, na área de segurança pública, de saúde pública, no controle de fraudes e também na agricultura. O problema da irrigação, de gasto de água no campo, ou mesmo o problema do transporte de produtos agrícolas poderiam ser sanados através da Engenharia de Sistemas Complexos.
 
Experiências bem-sucedidas
 
O pesquisador citou a experiência nesse tipo de engenharia do New England Complex Systems Institute (NECSI), que se uniu com várias instituições, inclusive a Massachusetts Institute of Technology (MIT) e as universidades de Harvard e Brandeis, tendo realizado em 2011 seu oitavo congresso de Engenharia de Sistemas Complexos. Mascarenhas afirmou que a Embrapa é um caso positivo de Sistemas Complexos que funciona no Brasil. Além de analisar a cadeia produtiva agrícola como uma cadeia complexa, desde a produção até o mercado consumidor, a empresa leva em conta o fluxo de mercadorias e de capital, num sistema de sistemas.
 
Atualmente, no Brasil, são desenvolvidas pesquisas em Sistemas Complexos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Complexos (INCT / MCT), no Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Matemática (INCT / MCT – IMPA), no WG Complex Systems Institute for Advanced Studies (USP – SC) e no Instituto de Estudos da Complexidade – IEC.