A palestra fez parte da programação da 1a Conferência USP de Engenharia, organizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). O objetivo do evento foi discutir assuntos relacionados à inovação, sustentabilidade e regulamentação em engenharia.
A proposta do cientista é criar e gerenciar uma rede multidisciplinar de pós-graduação em Engenharia de Sistemas Complexos, com previsão de que, em 2022, já se possa ter pós-doutores formados nessa área. Para Mascarenhas, não seria possível abrir um curso de graduação em Sistemas Complexos porque ainda não há professores capacitados suficientes para ensinar. Ele já apresentou a proposta para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento do Ministério da Educação, e sugeriu que, além de instituições de ensino e de pesquisa, a rede conte também com empresas privadas.
Pioneiro em novidades
Não é a primeira vez que Mascarenhas tenta inserir de forma pioneira novidades científicas nos ensino superior brasileiro. Em 1971, o cientista, então reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), propôs a criação do primeiro curso de Engenharia de Materiais no Brasil. Na época, poucas pessoas o apoiaram, pois não havia informação suficiente para responder o porquê de mais uma área na Engenharia.
Atualmente, a Egenharia de Sistemas Complexos aparece como uma interrogação, assim como foi a Engenharia de Materiais há 40 anos. “Minha proposta é levantar esse problema mais como um alerta, um desejo de mostrar um risco de um tsunami que podemos sofrer por falta de previsão de futuro”, disse o pesquisador.
A complexidade da Engenharia de Sistemas Complexos
Mascarenhas afirmou que “se atreve” a falar sobre o assunto, já que não é um especialista na área. Ele explicou que os Sistemas Complexos são sistemas que não possuem uma autoridade centralizadora e não são desenhados a partir de uma especificação única e conhecida, mas, pelo contrário, envolvem múltiplos atores que se relacionam mesmo que indiretamente. Trata-se da gestão de sistemas composto por outros sistemas em uma rede complexa de relações. “Internet é o maior exemplo de sistemas de sistema, pois nela existe desde pornografia a sites como Wikileaks“, disse o físico.
A Engenharia de Sistemas Complexos foi criada nos Estados Unidos para ser aplicada em guerras. Atualmente, ela é necessária para inúmeras áreas. “Sistemas Complexos não envolvem só engenharia, envolvem educação, economia, parte social, humanística”, afirmou Mascarenhas. No Brasil, o sistema pode ser aplicado, por exemplo, na área de segurança pública, de saúde pública, no controle de fraudes e também na agricultura. O problema da irrigação, de gasto de água no campo, ou mesmo o problema do transporte de produtos agrícolas poderiam ser sanados através da Engenharia de Sistemas Complexos.
Experiências bem-sucedidas
O pesquisador citou a experiência nesse tipo de engenharia do New England Complex Systems Institute (NECSI), que se uniu com várias instituições, inclusive a Massachusetts Institute of Technology (MIT) e as universidades de Harvard e Brandeis, tendo realizado em 2011 seu oitavo congresso de Engenharia de Sistemas Complexos. Mascarenhas afirmou que a Embrapa é um caso positivo de Sistemas Complexos que funciona no Brasil. Além de analisar a cadeia produtiva agrícola como uma cadeia complexa, desde a produção até o mercado consumidor, a empresa leva em conta o fluxo de mercadorias e de capital, num sistema de sistemas.
Atualmente, no Brasil, são desenvolvidas pesquisas em Sistemas Complexos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Sistemas Complexos (INCT / MCT), no Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Matemática (INCT / MCT – IMPA), no WG Complex Systems Institute for Advanced Studies (USP – SC) e no Instituto de Estudos da Complexidade – IEC.