O físico e Acadêmico José Goldemberg, que falou sobre o cenário energético mundial e brasileiro, foi um dos palestrantes da 1ª Conferência USP de Engenharia. Doutor em Ciências Físicas pela Universidade de São Paulo (USP), da qual foi reitor de 1986 a 1990, ele já foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (CESP), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Secretário de Ciência e Tecnologia, Secretário do Meio Ambiente da Presidência da República, Ministro da Educação do Governo Federal e Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. É também membro da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS), co-presidente do Global Energy Assessment e autor de inúmeros trabalhos técnicos e vários livros sobre física nuclear, meio ambiente e energia em geral.
Segundo Goldemberg, nos dias de hoje, cada ser humano consome, em média, 1,5 toneladas de petróleo/ano, das quais 0,5 toneladas são o montante de combustível consumido no mesmo período. “Até 1850, toda a energia gerada no mundo vinha da biomassa, majoritariamente utilizada no aquecimento de casas e preparo de alimento”, diz. O Acadêmico ressalta que muitas sociedades que enfrentam disparidades socioeconômicas graves, como povos do continente africano, ainda fazem uso da biomassa por não terem outra opção disponível.
Com as revoluções industriais, o mundo avançou na questão energética.. “A cada ciclo energético, é possível obter maior conforto. O homem percebeu isso e foi atrás de materiais cada vez mais ricos em potencial energético”, esclarece o físico. O resultado é uma população mundial que consome aproximadamente 80% de energia fóssil, não-renovável e altamente poluente. “Por outro lado, tivemos um avanço do bem-estar em muitas frentes. Foi, realmente, uma evolução histórica de desenvolvimento extremamente rápido, obtido através da energia”.
Goldemberg afirma que o grosso da energia renovável utilizada hoje advém da biomassa. A geração renovável corresponde a 12% do total mundial, cabendo um pouco mais de 9% para a fonte nuclear.
Os três principais problemas
O Acadêmico relatou que o atual sistema energético precisa desenvolver soluções para as três principais problemáticas da modernidade, sendo a primeira o esgotamento das fontes de origem fóssil, seguida de um sistema de abastecimento mais eficaz e seguro, e, por último, a prevenção de impactos ambientais. “Já enfrentamos uma escassez do petróleo e do gás natural. Do carvão nem tanto porque temos, por exemplo, a China, uma das maiores fontes disponíveis de carvão mineral”.
Para Goldemberg, as soluções existem, mas elas ainda representam uma fração pequena da geração de energia mundial. “A resposta parecer ser simples, mas nem tanto: o mundo precisa investir cada vez mais em energias alternativas”, comenta. De acordo com ele, um dos fatores complicadores é o alto custo de produção dessas energias, consideradas limpas e sustentáveis. “A energia nuclear, por exemplo, não consegue resolver sozinha a situação. Não são mais 200 ou 300 reatores nucleares no mundo que vão produzir um cenário favorável”, complementa.
O físico também destacou que as estimativas até 2050 prevêem uma participação global de 30 a 40% para as energias renováveis. “Isso requer pesados esforços de subsídios governamentais, ou a maioria dos projetos referentes a essas áreas não sairão do papel”, alerta. Ele informou que, atualmente, o consumo de energias fósseis aumenta 2% ao ano, enquanto as renováveis crescem, aproximadamente, 6% na mesma escala. “Se isso continuar, teremos uma solução mais ampla para todos os problemas que mencionei”, acrescenta.
Uso eficiente da energia
Segundo o Acadêmico, a partir de 1973 ocorreu uma implementação de medidas técnicas que garantem o uso mais eficiente da energia, bem como uma maior conscientização por parte da sociedade. “Tínhamos diversas falhas e ineficiências no sistema energético que conseguiram ser sanados, o que é um grande avanço”, diz. “Se essa mudança no sistema não tivesse sido colocada em prática, hoje o consumo de energia mundial seria 49% maior do que já é”.
Energia alternativa: planos governamentais
Goldemberg afirmou que o governo brasileiro, pelos próximos 20 anos, expandirá o programa de energia eólica, fixada, atualmente, em 0,8% na matriz de participação energética. “Será um avanço para a casa dos 13,5%”, informa. Ao todo, as energias renováveis saltarão de 9,1% para 40,8% até 2030.
No entanto, ao mesmo tempo que o programa eólico é o que mais vai crescer até a próxima década, a capacidade instalada do gás natural também irá avançar. Ambos, em 2020, terão uma capacidade instalada de aproximadamente 12.000 MW no país. “O terceiro mais alto nessa categoria será o programa de urânio, com cerca de 9.000 MW”, observa. “O gás natural vai crescer, mas comparado ao sistema por força dos ventos, percebe-se que as alternativas sairão na frente”.
De fato, de 2010 a 2020 o gás natural avançará cerca de 2.000 MW em capacidade instalada, enquanto a energia eólica, 11.000 MW. Nas palavras do Acadêmico, “teremos um excelente avanço da bioeletricidade como um todo”, as quais responderão por cerca de 23.000 MW da produção energética brasileira até 2020.
Por último, o físico destacou que, em 2030, em torno de 10% da demanda brasileira será atendida através do programa de conservação de energia. “As técnicas estão sendo testadas e esperamos contar tanto com o processo autônomo, quanto o de conservação de energia”.