O 1o Simpósio Academia-Empresa da Bahia contou com a palestra de Fernando Bertolucci, gerente geral de tecnologia da Fibria Celulose, empresa que há dois anos resultou da fusão entre Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz Celulose.
Bertolucci procurou, de início, contextualizar o setor de florestas plantadas no Brasil. Segundo ele, considerando apenas eucaliptos e pinus, o país dispõe de um total de 6 milhões e 500 mil hectares plantados. “Isso equivale a aproximadamente 0,8% do território brasileiro. Ou seja, é um setor que gera bastante valor sem ocupar muita terra. A área de pastagem, por exemplo, ocupa 40 vezes o mesmo número de hectares”, informa.
Histórico do setor
A evolução do negócio florestal brasileiro, desde a década de 60, se destacou devido a alguns fatores, como condições climáticas propícias, incentivos fiscais e o extrativismo feito sem insumos (melhoramento genético, adubos, entre outros). “De 1980 a 2000, tivemos avanços nas técnicas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), principalmente no melhoramento genético florestal, com incremento da produtividade, expansão de empresas na área e aumento da competitividade nacional. Foi um período de consolidação dessa indústria.”
Entre o ano 2000 e 2010, o conceito de desenvolvimento sustentável cresceu muito no setor, tornando-se, segundo Bertolucci, um fator mandatório para todos os produtores. “Outros pontos que marcaram essa última década foram o incremento da biotecnologia, o surgimento de novos investidores, o aumento dos custos de produção e a expansão das fronteiras.”
Bahia é destaque, mas enfrenta desafios
A Bahia está em quarto lugar no país no tocante ao plantio florestal. “É o estado com melhor produtividade, que abriga grandes empresas do setor, como Suzano, Veracel, Bahia Specialty e a Fibria”, destaca o gerente geral. Pelo desempenho, as exportações de celulose e papel representam 18,5% do total do estado, sendo o segundo produto no ranking de negociações. “O setor já gerou 30.000 empregos diretos e indiretos. Não há como negar sua importância.”
Por outro lado, Bertolucci afirma que existem as forças de contenção da área, que geram impasses para o crescimento. Entre elas, destacou a carência de políticas ambientais, citando como exemplo as discussões sobre o código florestal, o conflito por água, o custo e a disponibilidade de terra e a infraestrutura que, muitas vezes, não atende a demanda.
“As questões jurídicas também geram muita dificuldade para as empresas. Um estudo feito recentemente por uma consultoria internacional chegou à conclusão que uma companhia gasta em média 300 horas por ano para gerenciar questões jurídicas, sendo que, na América Latina, a média é um pouco mais alta: 400. No Brasil, no entanto, são gastas em média 2.300 horas por ano tratando dessa questão.”
Manter produtividade requer inovação
O Brasil, atualmente, se destaca no posicionamento mundial do setor, com uma produção em média de 45m³ de hectare por ano de madeira. “Isso é fruto das condições climáticas, sem dúvida, mas também do uso de tecnologia intensiva”, informa Bertolucci. No entanto, ele alerta que o câmbio e a inflação estão afetando os custos de produção no país. “Muitos preços subiram, como o custo da terra, o salário mínimo, o frete do produto, os químicos, a energia, a água e, obviamente, a mão de obra.”
Para produzir com custos mais elevados, Fernando diz que a solução é a inovação. “Hoje, com 32% do mercado de celulose do eucalipto, a Fibria é a maior em termos de produção”, observa. Para obter essa pujança, a companhia precisou, por meio de investimentos em inovação, estabelecer o modelo de uso da terra, introduzir novas espécies de eucaliptos e selecionar o material genético que visa o aprimoramento das espécies. “Hoje, temos orgulho em dizer que conseguimos obter um eucalipto 100% brasileiro.”
Recentemente, a Fibria elaborou um plano estratégico de inovação. Para Fernando Bertolucci, Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) tem que ser voltadas para o eixo dos negócios, visando vantagens competitivas. “Dentro da empresa, nós entendemos que o nosso maior trunfo para P,D&I é a relação com a sociedade, pois realizamos um trabalho em áreas remotas. Somos um agente responsável pelas mudanças no âmbito regional, local e nacional”, salienta. De acordo com Bertolucci, a inovação gera maior valor de mercado para a empresa e garante um feed-back para as partes interessadas. “Além da questão da imagem da companhia, inovar auxilia no diálogo com o cliente. Ficamos mais competitivos, nos preparamos para possíveis riscos econômicos, ambientais e sociais e, acima de tudo, provamos que estamos pensando no futuro.”
Atualmente, a empresa destina 30% do orçamento de P&D a parcerias, sendo um total de R$9 milhões direcionado para universidades. Uma das iniciativas tem por objetivo produzir novos eucaliptos a partir da combinação de duas espécies que possuem fortes características, como a qualidade da madeira e excelente produtividade. Outro caminho explorado é a biotecnologia florestal, usada para incrementar marcadores moleculares e transformadores genéticos. “Eles dão um plus, mas não substituem as formas clássicas de melhoramento”, esclarece Fernando. “Para a Fibria, o meio ambiente vai muito além da legislação. Prezamos a preservação e a biodiversidade, com efetivos projetos de monitoramento de espécies e corredores ecológicos”.
Essa abordagem, que é pensada em conjunto com os produtores rurais, tem proporcionado novos valores agregados à empresa e, consequentemente, ao produto. “Além de gerar mais renda no campo, oferecemos orientação técnica em todas as etapas do processo”. Por fim, Bertolucci afirmou que o futuro da Fibria está em pensar florestas desenhadas, diferentes das existentes, e investir em novos usos para a biomassa, pensando o plantio do eucalipto intercalado com melancia, girassol e outras alternativas.
Veja aqui o vídeo da Fibria apresentado durante a palestra.