Desde os tempos de criança de Viviane Ribeiro Tomaz da Silva, já era possível imaginar seu futuro. Atuando hoje como professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mesmo lugar onde concluiu a graduação, mestrado e doutorado em Matemática, ela adorava brincar de “escolinha” com a irmã. “Tínhamos um quadro negro e nos revezávamos nas posições de professora e aluna”. Viviane conta que teve uma infância tranquila em Belo Horizonte, marcada pelo amor de seus pais e das duas irmãs mais novas. “Minha mãe sempre se absteve de trabalhar fora para se dedicar à nossa família”, revela.

O amor à docência e o incentivo de vários professores do Departamento de Matemática da UFMG acabaram conduzindo Viviane à carreira científica. “Nunca tinha me imaginado cientista até entrar na universidade”, lembra. “Minha intenção sempre foi me formar o melhor possível para desempenhar bem a profissão de professora, pois decidi muito cedo que gostaria de ser professora de matemática”. Ela completou o curso de Licenciatura e participou do Projeto de Ensino Fundamental de Jovens e Adultos da UFMG. “Isso contribuiu para reforçar minha convicção da importância do aprofundamento dos estudos em Matemática, por parte do professor, para a qualidade de seu ensino”.

Quando fez iniciação científica sobre funções geradoras com o professor Michel Spira, seu gosto pela disciplina foi aumentando. Em 2003, começou o mestrado e chegou a recusar uma bolsa de estudos com a qual foi agraciada. Ela preferiu dar aulas de Matemática em uma escola pública de ensino médio à noite, além de cursar a pós-graduação. “Esta decisão se pautou sobretudo pelo desejo de retornar para a sociedade parte da excelente formação que havia recebido durante minha graduação na UFMG”, comenta.

Após concluir o mestrado, em dezembro de 2004, e escrever seu primeiro artigo, a pesquisadora quis continuar com os estudos em Matemática. Esse desejo, associado à vontade de contribuir com a formação de novos professores através da atuação no ensino superior, a levou a começar o doutorado. Durante essa fase, Viviane teve a oportunidade de trabalhar com o professor Onofrio Mario Di Vincenzo (Universidade de Basilicata – Potenza, Itália), com o qual estabeleceu uma importante parceria de pesquisa, inclusive naquela que a levou a ganhar o prêmio LOréal-ABC-Unesco Para Mulheres na Ciência.

Essa pesquisa, intitulada “*-Cocaracteres de M1,1(E)”, envolve o estudo dos objetos que pertencem ao conjunto M2(Z) das matrizes 2×2: “Em Álgebra, é importante estudar as relações entre objetos que pertencem a um mesmo conjunto. Por exemplo, é bem conhecido que, ao multiplicarmos quaisquer dois elementos do conjunto Z dos números inteiros, a ordem dos fatores não altera o produto, isto é, ab=ba para quaisquer elementos a,b em Z. No entanto, o mesmo não pode ser dito quando trabalhamos com o conjunto M2(Z) das matrizes 2×2 sobre Z. Podemos assim afirmar que o polinômio xy-yx é uma identidade para o conjunto Z, mas não o é para M2(Z)”.

Viviane explica que as matrizes aparecem em álgebra e em muitas aplicações da matemática, como física, engenharia e economia, além de em vários outros ramos da ciência. “Neste trabalho, lidamos com identidades polinomiais satisfeitas por matrizes 2×2 sobre um importante conjunto denominado Álgebra de Grassmann. O nosso objetivo principal é obter a descrição, em componentes simples, de certas estruturas relacionadas a estas identidades. Tais componentes (denominadas cocaracteres irredutíveis) desempenham, nesta teoria, um papel similar ao dos números primos no conjunto Z“, informa.

A jovem pesquisadora diz que o trabalho em uma universidade exige muita dedicação e que um dos desafios do cientista é conciliar a vida pessoal e profissional: “Tenho procurado sempre reservar os domingos para estar mais próxima de minha família e também realizar uma atividade que faço com muito amor: ser catequista”. Viviane considera o mistério, o desafio e a oportunidade de realizar novas descobertas aspectos encantadores na ciência. “Em Álgebra, me encanta sobretudo a possibilidade de descobrir relações entre objetos distintos”, declara a matemática, que diz que o amor pelo que faz, a dedicação e a perseverança são características fundamentais para um cientista.

Para Viviane, o prêmio significa um relevante incentivo à continuidade de suas atividades de pesquisa, uma vez que constitui um reconhecimento da importância de sua dedicação. “Acredito que esta iniciativa contribui para o crescimento da ciência brasileira ao destacar e reconhecer seu importante valor, concretamente expresso através da concessão da bolsa-auxílio”. Ela considera, inclusive, que esse é o papel social do cientista – contribuir para o avanço da ciência e, consequentemente, para o desenvolvimento do país. “O mundo da ciência é um mundo fascinante e desafiador, no qual novas descobertas são feitas a cada momento”, entusiasma-se a jovem premiada.